Pesquisa conduzida com animais aponta ligação entre adoçantes e mudança na microbiota dos filhotes, aumentando risco de obesidade
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
Estudo realizado com ratos na Universidade de Calgary, no Canadá, e publicado no periódico científico Frontiers in Nutrition sugere que consumir adoçantes durante a gestação aumentaria o risco de o bebê nascer com alterações na microbiota intestinal e influenciaria a predisposição de desenvolver obesidade. Apesar de ser um estudo feito em animais, os resultados reforçam a importância de uma alimentação equilibrada e saudável durante a gestação.
Para chegar a esses resultados, os pesquisadores buscaram entender os mecanismos envolvidos nas alterações das microbiotas e se havia uma ligação com a obesidade. Para isso, 45 ratas fêmeas foramdivididas em três grupos: uma parte foi alimentada com aspartame (adoçante artificial), a outra com estévia (adoçante natural) e a terceira com água pura.Após os animais darem à luz, os pesquisadores pesaram os filhotes e avaliaram os seus microbiomas para observar se havia algum impacto do consumo dos adoçantes.
Os resultados destacam que, nas ratas que deram à luz, os adoçantes tiveram um efeito mínimo,mas houve impacto nas microbiotas da prole. Segundo a pesquisa, os filhotes das fêmeas que consumiram adoçantes apresentaram maior peso ao nascer e maior percentual de gordura corporal, além de alterações na microbiota intestinal.
Os pesquisadores ressaltam que os resultados foram obtidos em ratos e, portanto, não são diretamente aplicáveis para mulheres humanas.No entanto, apontam que há uma possível ligação entre o consumo de adoçantes e o acúmulo de gordura corporal, por isso é importante evitar o excesso desses alimentos na gestação.
Adoçante e obesidade
De acordo com o nutrólogo Durval Ribas Filho,ainda não há evidências científicas consistentes que atestem que os adoçantes possam trazer malefícios e cerca de 30% das gestantes consomem o produto durante a gravidez. “Verdades científicas são transitórias. Precisamos de mais estudos em mulheres para de fato chegarmos a uma conclusão sobre os possíveis efeitos do consumo de edulcorantes durante a gestação”, explica o especialista, que também é presidente da Associação Brasileira de Nutrologia.
O especialista explica que o organismo humano é formado por um microbioma – com vários tipos de microrganismos – e dividido em várias microbiotas.A intestinal é considerada a mais importante, pois é composta por 95% dos microrganismos e está diretamente relacionada ao metabolismo do corpo.
“A microbiota intestinal tem várias funções, entre elas melhorar o nosso sistema imunológico, fornecer energia para as células intestinais e estimular o cérebro a produzir neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina. É o chamado eixo microbiota – intestino – cérebro”, explica Ribas. Segundo ele, atualmente há estudos que associam a obesidade às alterações na microbiota intestinal.
Em condições fisiológicas normais, a composição dessa microbiota é considerada estável. Mas, se houver um desequilíbrio, pode levar a alterações na regulação do metabolismo. De acordo com Ribas, alguns estudos têm demonstrado que a obesidade está associada a uma diminuição na proporção de bactérias conhecidas como “bacteroidetes” e aumento proporcional das “firmicutes”, aquelas que absorvem mais os alimentos e reduzem o gasto energético.
Ainda segundo o especialista, desde 2015 já foram publicados ao menos 600 pesquisas que avaliam a relação do consumo de edulcorantes (adoçantes) durante a gestação como alternativa ao consumo de açúcar e os possíveis efeitos na mãe e no bebê, especialmente os impactos na microbiota intestinal.
“Em uma revisão rápida de estudos, constatou-se que as mulheres que ingeriam adoçantes na gravidez tinham maior quantidade das bactérias ‘firmicutes’, o que aumenta a chance de ela e o bebê desenvolverem obesidade. Ao mesmo tempo, constatou-se um aumento significativo de bactérias benéficas para o organismo, que são os lactobacilos. Se por um lado, há mais predisposição para obesidade, por outro lado, há mais bactérias ‘do bem’”, destaca Ribas, que defende que ainda precisam ser feitos mais estudos sobre o tema.