Alterações podem tornar o corpo mais vulnerável a doenças e permanecem mesmo que a dieta se torne mais saudável após a idade adulta
Frederico Cursino, da Agência Einstein
Comer muita gordura e açúcar quando criança pode alterar seu microbioma para o resto da vida. E essa mudança permanece mesmo que, mais tarde, o indivíduo aprenda a se alimentar de maneira mais saudável. A constatação vem de um novo estudo publicado no Journal of Experimental Biology, que mostrou uma redução significativa no número e na diversidade de bactérias intestinais em camundongos maduros que tiveram uma dieta pouco saudável na juventude.
“Nós estudamos cobaias, mas o efeito que observamos é equivalente ao registrado em crianças que seguem dieta rica em gordura e açúcar. Seu microbioma intestinal continua sendo afetado por até seis anos após a puberdade”, explica o autor do estudo, Theodore Garland, fisiologista evolucionário da Universidade de Califórnia Riverside.
Microbioma é o conjunto de bactérias, fungos, parasitas e vírus que vivem em um ser humano ou animal. A maioria dos microorganismos é encontrada no intestino e ajuda a estimular o sistema imunológico, decompondo os alimentos e colaborando para sintetizar vitaminas essenciais. Em um corpo saudável, há um equilíbrio entre organismos patogênicos e benéficos. No entanto, se a estabilidade for perturbada – o que pode acontecer pelo uso de antibióticos, doença ou dietas não saudáveis – o corpo pode se tornar vulnerável a doenças.
No estudo norte-americano, os pesquisadores procuraram por impactos no microbioma analisando quatro grupos de camundongos: o primeiro alimentado com a dieta saudável padrão; o segundo, com a dieta menos saudável, seguindo os padrões ocidentais; o terceiro com acesso a uma roda de corrida para exercícios; e o quarto sem nenhum equipamento para prática de atividades físicas.
Após três semanas, todos retomaram uma dieta padrão e nenhum exercício, retornando ao padrão em que eram mantidos em laboratório. Depois de 14 anos, os cientistas examinaram a diversidade e a abundância de bactérias nas cobaias.
Na análise, foi descoberto que a quantidade de bactérias como a Muribaculum intestinale – envolvida no metabolismo dos carboidratos – foi bastante reduzida no grupo de dieta ocidental (não saudável). Também foi observado que as bactérias intestinais são sensíveis à quantidade de exercícios realizada. A bactéria Muribaculum aumentou em ratos alimentados com uma dieta padrão que tinham acesso a uma roda de corrida; por outro lado, diminuiu naqueles que tiveram uma dieta rica em gordura, independentemente de terem ou não feito exercício.
Outro efeito destacado pelos autores foi o aumento do número de espécies de bactérias semelhantes em ratos após cinco semanas de treinamento em esteira, observado em outro estudo sobre o tema. Na visão deles, isso sugere que o exercício, por si só, pode elevar a presença desses microorganismos. No geral, a pesquisa descobriu que a dieta não saudável no início da vida teve efeitos mais duradouros sobre o microbioma do que os exercícios.
Segundo Theodore Garland, da UC Riverside, a ideia agora é repetir o experimento e coletar amostras em momentos adicionais com o objetivo de entender quando as mudanças nos microbiomas aparecem pela primeira vez e se elas se estendem até fases posteriores da vida.
Porém, independentemente de quando os impactos aparecem pela primeira vez, o pesquisador diz que ficou claro que eles tenham sido observados muito tempo depois de mudar a dieta e, em seguida, alterá-la novamente: “Você não é apenas o que come, mas o que comia quando criança!”, afirma Garland.
(Fonte: Agência Einstein)