Estudo faz parte de um esforço global que reuniu especialistas da neurociência de seis países diferentes
Pesquisadores do Centro Sanders-Brown sobre Envelhecimento da Universidade de Kentucky encontram evidências convincentes de que os comprometimentos cognitivos observados em pacientes com Covid longa são semelhantes aos observados na doença de Alzheimer e demências relacionadas.
O estudo, publicado em Alzheimer’s & Dementia , foi um esforço global e reuniu especialistas de vários campos da neurociência de seis países diferentes: EUA, Turquia, Irlanda, Itália, Argentina e Chile.
Os pesquisadores se concentraram em entender a “névoa cerebral” que muitos sobreviventes da Covid-19 vivenciam, mesmo meses após se recuperarem do vírus. Essa névoa inclui problemas de memória, confusão e dificuldade de concentração.
De acordo com Yang Jiang, professor do Departamento de Ciência Comportamental e um dos autores do estudo, “a desaceleração e a anormalidade da atividade cerebral intrínseca em pacientes com Covid-19 se assemelham àquelas vistas no Alzheimer e demências relacionadas”.
Os pesquisadores acreditam que o estudo pode ajudar em novos tratamentos com a conexão estabelecida ente as duas condições, sugerindo que elas podem compartilhar mecanismos biológicos subjacentes.
Tanto a Covid longa quanto a doença de Alzheimer envolvem neuroinflamação, a ativação de células de suporte do cérebro conhecidas como astrócitos e atividade cerebral anormal. Esses fatores podem levar a deficiências cognitivas significativas, dificultando que os pacientes pensem claramente ou se lembrem de informações.
A ideia de que a Covid pode levar a alterações cerebrais semelhantes às do Alzheimer é um desenvolvimento significativo.
“As pessoas geralmente não conectam a Covid-19 com a doença de Alzheimer. Mas nossa revisão de evidências emergentes sugere o contrário”, disse Jiang.
Os insights do estudo enfatizam a importância de exames regulares da função cerebral para essas populações, particularmente por meio do uso de ferramentas acessíveis e de baixo custo, como a eletroencefalografia (EEG).
“A nova visão abre caminhos para pesquisas futuras e práticas clínicas, particularmente no estudo de oscilações cerebrais relacionadas a biomarcadores neurais de comprometimento cognitivo leve em pessoas com Covid longa”, disse Jiang.
Astrócitos
Uma das principais descobertas é o papel dos astrócitos — células de suporte no cérebro. A pesquisa sugere que danos ou ativação dessas células pela Covid-19 podem causar disfunções sinápticas, levando à atividade cerebral anormal observada em ambas as condições.
Segundo os pesquisadores, essa descoberta é significativa pois pode ajudar a explicar por que os padrões de EEG em pacientes com Covid-19 se assemelham aos observados nos estágios iniciais de doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.
Os pesquisadores acreditam que esse trabalho pode ter um impacto direto no atendimento ao paciente. Eles defendem que exames de EEG de rotina possam detectar mudanças cerebrais precoces tanto em pacientes que tiveram Covid-19 quanto naqueles em risco de declínio cognitivo.
Ao detectar essas mudanças precocemente, os profissionais de saúde podem identificar indivíduos em risco mais cedo e implementar intervenções para prevenir ou retardar a progressão do declínio cognitivo.
JORNAL O GLOBO