O Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) de Natal investiga um episódio de intoxicação alimentar que afetou 13 pessoas após o consumo do peixe conhecido como Arabaiana, conforme divulgado pela TRIBUNA DO NORTE nesta segunda-feira (12). A principal suspeita é a ciguatera, uma toxina natural que pode estar presente em diversas espécies marinhas. No entanto, o biólogo Luciano de Freitas Neto reforça que o episódio não deve causar terror ou pânico no consumo da Arabaiana, pois a toxina não afeta exclusivamente a espécie.
“Inicialmente, é preciso ressaltar que, apesar do número de casos de infecção pelo consumo de Arabaiana, essa toxina não é encontrada apenas nessa espécie, então é importante falar também, de forma geral, das espécies que podem estar infectadas e transmitir para o homem através do consumo”, explica o biólogo.
Segundo o DVS, os sintomas apresentados pelas vítimas são compatíveis com ciguatera, apesar de não ser confirmado e ainda estar em análise. A intoxicação é causada pela ingestão de peixes contaminados com ciguatoxinas, compostos produzidos por microalgas em recifes tropicais.
A ciguatera é uma intoxicação alimentar causada por um grupo de toxinas produzidas por microalgas presentes em ambientes recifais. Essas substâncias entram na cadeia alimentar e se acumulam em peixes maiores, chegando ao ser humano. O biólogo explica: “A ciguatera é uma intoxicação alimentar causada por um grupo de ficotoxinas, entre elas a ciguatoxina, maitotoxinas e ácido okadáico. A toxina é transferida das microalgas para peixes herbívoros, que por sua vez a transferem para os seus predadores, atingindo assim o consumidor humano via concentração ao longo da cadeia trófica.”
Os sintomas mais comuns são náuseas, vômitos, diarreia, formigamentos e alterações neurológicas, como a sensação invertida de frio e calor. O diagnóstico pode ser confirmado com exames laboratoriais, por meio da técnica de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC), associada a detectores como fluorímetros ou espectrômetros de massa (LC-MS/MS).
“A HPLC pode ser usada para identificar e quantificar essa toxina. A HPLC (Cromatografia Líquida de Alta Eficiência) é uma técnica analítica que separa e identifica componentes de uma mistura líquida. Ao ser acoplada a diferentes tipos de detectores, como um fluorímetro que detecta a emissão de luz (fluorescência) de analitos que são fluorescentes ou que podem ser derivados para tornarem-se fluorescentes, ou um espectrômetro de massa (LC-MS/MS).”, afirma Luciano.
Quem é a Arabaiana?
Luciano explica que o peixe arabaiana é uma espécie encontrada em costões rochosos, recifes de corais, ilhas e bancos de areia costeiros, podendo atingir até 50 metros de profundidade, mas que pode se aproximar da zona de arrebentação durante a caça. Pode ser descrito como um peixe predador solitário, embora possa formar cardumes.
Segundo o biólogo: “São predadores oportunistas no período do dia, indivíduos alimentam-se principalmente de pequenos peixes, cefalópodes e crustáceos. Aqui é a principal questão em relação à bioacumulação da ciguatera”.
Ou seja, como predador, a Arabaiana pode acumular toxinas ao longo da cadeia alimentar, mas isso não é uma condição constante da espécie, e sim de determinadas circunstâncias ambientais.
Outras espécies podem conter ciguatera
Embora o surto em Natal esteja relacionado à Arabaiana, conforme confirmado pelo DVS, Luciano afirma que várias outras espécies podem apresentar risco de contaminação por ciguatera. Ele explica que mais de 400 espécies de diferentes famílias de peixes recifais estão relacionados a ciguatera, como por exemplo, peixes da família Acanthuridae (peixe cirurgião ou caraúna, cirurgião azul) que podem transferir a toxina para peixes carnívoros principalmente das famílias Serranidae (piraúna), Scombridae (atum, albacora, bonito listrado), Lutjanidade (vermelho, guaiúba ou cioba) Carangidae (Guarajuba), Haemulidade (peixes roncadores), Scaridae (peixe papagaio) e Lethrinidae (peixe imperador, Imperador dourado).
“No Brasil de forma geral, os casos de intoxicação são raros, mas em Fernando de Noronha desde 2022 têm se registrado um aumento no número de casos, associados a diversas espécies, principalmente no mês de agosto. Devido a proximidade de Natal da ilha e as correntes marítimas que podem favorecer a dispersão de algumas espécies para a costa, é preciso ter cautela no consumo, principalmente de espécies de maior porte”, diz Luciano.
Informação é prevenção
O alerta é válido, mas o consumo de peixe deve continuar sendo feito de forma consciente, sem pânico. A orientação é simples: prefira peixes de procedência confiável. É essencial que o consumidor esteja atento à origem do peixe, prefira comprar de fornecedores confiáveis, Luciano afirma que toxinas como a ciguatera não estão associadas de forma exclusiva a nenhuma espécie.
As investigações sobre o caso seguem em andamento. Até o momento, a DVS salientou que não há confirmação laboratorial definitiva da presença da toxina, mas os sintomas relatados são compatíveis com o quadro.