Tati Machado fala sobre perda gestacional: entenda o que é luto perinatal e como acolher


Após relato da apresentadora, psicóloga perinatal explica como lidar com a perda de um bebê na gestação ou no parto e por que frases bem intencionadas podem piorar a dor

Tati Machado compartilha experiência de perda gestacional e reacende o debate sobre luto perinatal e acolhimento humanizado nas maternidades. foto: freepik

O primeiro relato da apresentadora Tati Machado sobre a perda do filho Rael, com 33 semanas de gestação, trouxe atenção ao tema do luto perinatal. Casos como o dela e o da atriz Micheli Machado mostram que a perda de um bebê durante a gestação, no parto ou nos primeiros dias de vida tem mobilizado discussões sobre acolhimento e saúde mental.

Sancionada em maio, a Lei nº 15.139/2025, que institui a Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental, entra em vigor em agosto e prevê uma série de medidas para garantir atendimento psicológico, acolhimento humanizado nas maternidades, direito ao nome do bebê natimorto e acesso a exames que apurem a causa da perda.

Para a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline,a legislação representa um avanço importante no combate ao silêncio, ao julgamento e à solidão vivida por muitas famílias. A especialista respondeu às principais dúvidas sobre o luto gestacional e neonatal.

1) O que é o luto perinatal?

O luto perinatal ocorre quando há a perda de um bebê durante a gestação ou logo após o nascimento. Ele não se restringe à ausência física, mas inclui também perdas simbólicas, como o luto pelo sexo desejado do bebê, pela impossibilidade de ter o parto planejado ou por dificuldades na amamentação. Todas essas experiências envolvem a interrupção de expectativas e precisam ser acolhidas.

2) Como cada pessoa vive o luto perinatal e quando buscar ajuda profissional?

O luto perinatal é uma experiência única e profundamente pessoal. Para algumas pessoas, o processo pode durar semanas, para outras, meses ou até mais tempo. Não há um prazo certo ou errado para lidar com essa perda, já que cada um tem seu próprio ritmo para processar a dor e as mudanças que ela traz. O mais importante é observar como o luto afeta o cotidiano. Se a tristeza começar a interferir na realização de atividades diárias, houver isolamento prolongado ou pensamentos de desesperança, pode ser o momento de buscar apoio especializado. Psicólogos e outros profissionais de saúde mental estão preparados para oferecer acolhimento e suporte durante esse processo.

3) Como lidar com a perda de um bebê?

Lidar com a perda envolve validar os próprios sentimentos e dar espaço para que emoções, como tristeza ou culpa, sejam vividas sem repressão. Guardar lembranças do bebê, como roupas ou fotos, pode ajudar a transformar a dor em algo significativo. Apoio psicológico e a participação em grupos de apoio também são fundamentais para auxiliar no processo de superação.

4) Quais práticas ajudam a criar uma despedida significativa?

Hospitais humanizados permitem que os pais vejam e segurem o bebê, caso desejem, e oferecem a opção de guardar recordações, como fotos, a marca do pezinho ou um pedacinho de cabelo. Essas ações ajudam a dar sentido à despedida. Em países como a Inglaterra, berços refrigerados são usados para que os pais possam passar mais tempo com o bebê antes do sepultamento.

5) Como os hospitais podem acolher melhor famílias enlutadas?

Separar mães que enfrentaram perdas de alas onde estão bebês recém-nascidos é uma medida fundamental para reduzir o sofrimento. Além disso, o acolhimento humanizado, com profissionais capacitados e tempo adequado para a despedida, pode aliviar a dor das famílias.

6) O pai também sente o luto?

Sim, e ele precisa ser incluído no processo. Muitas vezes, o pai é pressionado a ser “forte” para apoiar a parceira, mas ele também vivencia a perda e necessita de espaço para expressar sua dor. O apoio mútuo no casal é essencial para fortalecer a relação e facilitar a superação.

7) Existem outros tipos de luto no período perinatal?

Sim. Além da perda física, o luto pode surgir em situações como receber um diagnóstico inesperado, descobrir que o sexo do bebê não era o desejado ou não conseguir amamentar. Essas perdas simbólicas também geram sofrimento e merecem acolhimento.

8) Por que evitar frases que minimizem a dor da perda?

Frases como “foi melhor assim” ou “Deus quis dessa forma” podem parecer inofensivas, mas invalidam os sentimentos de quem está enfrentando a perda. É importante oferecer escuta atenta, sem julgamentos, e respeitar o momento de luto.

9) Por que é importante falar sobre luto perinatal?

Casos como o de Tati Machado e Micheli Machado mostram como o luto perinatal é mais comum do que se imagina. Discutir o tema ajuda a romper tabus, validar o sofrimento das famílias e incentivar práticas de acolhimento mais empáticas e humanizadas.

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