Assim como quem pratica atividades ao longo da semana, aqueles que cumprem os 150 minutos semanais recomendados em um ou dois dias também têm risco reduzido de mortalidade, sugere estudo que analisou dados de 350 mil pessoas nos Estados Unidos
Reportagem: Luiza Caires
Se você é como eu, está sempre prometendo que vai aumentar os dias de exercícios por semana, mas daí se enrola e acaba fazendo só aos finais de semana. Será que nós, os bravos atletas de fim de semana, também temos algum benefício do exercício? Um estudo que acaba de ser publicado sugere que sim – ao menos na proteção contra mortalidade.
Um grupo de pesquisadores analisou dados de 350 mil pessoas nos EUA, apontando que indivíduos ativos que relataram fazer 150 minutos semanais de atividade física moderada a vigorosa – sejam concentradas em um ou dois dias, sejam distribuídas pela semana – apresentaram taxas de mortalidade mais baixas do que os indivíduos inativos. Neste quesito, não foram observadas diferenças significativas entre os “guerreiros de fim de semana” e os participantes regularmente ativos, tanto para mortalidade por todas as causas, quanto somente por câncer ou por doenças cardiovasculares.
O artigo não deve ser encarado como a deixa para que quem faz atividade física várias vezes por semana passe a fazer só um ou dois dias, “já que tanto faz”. O estudo tem limitações, como o fato de ter usado informações relatadas pelos próprios participantes. Isso pode comprometer a objetividade, ao contrário do que, por exemplo, se eles fossem acompanhados nessas atividades, e os pesquisadores pudessem realizar medidas como frequência cardíaca, ou utilizar um dispositivo chamado acelerômetro, para verificar a intensidade da atividade.
Além disso, como é normal em estudos do tipo, ele se concentrou em avaliar uma questão principal: a mortalidade. Ele não verificou, por exemplo, se há diferença entre os grupos comparados no desenvolvimento de doenças, na qualidade de vida de maneira geral, ou se quem faz somente em um ou dois dias tende a se lesionar mais.
Mas uma conclusão podemos tirar com mais segurança: com raríssimas exceções, fazer algum exercício é sempre melhor que nenhum. “É claro que não é um único estudo que vai responder em definitivo à pergunta se a frequência do exercício interfere na taxa de mortalidade – até pelo tipo de estudo, que é um estudo de coorte. Mas o trabalho traz dados onde ainda existe uma lacuna”, relata o primeiro autor do artigo, Mauricio dos Santos. Santos é mestre em Neurociência e Comportamento pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP e doutorando em Epidemiologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sob orientação do professor Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina e membro do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nuppens) da USP, e que também assina o artigo.
Mas uma conclusão podemos tirar com mais segurança: com raríssimas exceções, fazer algum exercício é sempre melhor que nenhum. “É claro que não é um único estudo que vai responder em definitivo à pergunta se a frequência do exercício interfere na taxa de mortalidade – até pelo tipo de estudo, que é um estudo de coorte. Mas o trabalho traz dados onde ainda existe uma lacuna”, relata o primeiro autor do artigo, Mauricio dos Santos. Santos é mestre em Neurociência e Comportamento pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP e doutorando em Epidemiologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), sob orientação do professor Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina e membro do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nuppens) da USP, e que também assina o artigo.
Ao explicar a escolha da amostra de participantes, Santos diz que foi usado o US National Health Interview Survey, “um grande banco de dados rico em informações epidemiológicas, com quase meio milhão de pessoas, que está aberto para quem quiser pesquisar, e com que alguns dos autores do artigo já estão trabalhando em outras pesquisas. Mas nosso próximo passo é olhar para os dados brasileiros, da Pesquisa Nacional de Saúde”, anuncia.
Ele também ressalta que a amostra foi tratada estatisticamente para evitar que casos destoantes pudessem interferir no resultado. “Por exemplo, no grupo de regularmente ativos, havia quem fizesse mais de 700 minutos por semana de atividade física. Fizemos a chamada ‘análise de sensibilidade’ para saber se isso estava gerando algum desequilíbrio e optamos por excluir essas pessoas da amostra.”
Os pesquisadores também buscaram minimizar o efeito da chamada causalidade reversa. “Nós retiramos da amostra todas as pessoas que morreram nos dois primeiros anos de acompanhamento. Porque às vezes a pessoa morreu no primeiro ano da avaliação, mas ela já tinha uma doença preexistente, e o exercício ou a falta dele não influenciaram muito nisso”, relata Mauricio dos Santos.
E se você está se perguntando sobre números, ou seja, qual a porcentagem de proteção que cada grupo de pessoas que se exercita teve neste estudo, aí vão: 15% de proteção para quem se exercita com frequência maior e 8% para quem cumpre o tempo de exercício semanal concentrado em um ou dois dias. Mas saiba que, neste caso, devido a especificidades estatísticas dos grupos, a diferença de 8% para 15% não foi considerada significativa.
“O mais importante é saber que, comparados aos inativos, aqueles que realizam 150 minutos de atividade física semanal sempre têm maior proteção contra mortalidade”, conclui Maurício dos Santos.
Outras investigações
Daisy Motta, pesquisadora em Ciências do Esporte na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que não participou do estudo, mas o comentou a pedido do Jornal da USP, diz que o trabalho é uma importante contribuição para a área, e que em 2017 outro trabalho de pesquisadores do Reino Unido, com dados de participantes da Inglaterra e Escócia, também indicou que atletas de final de semana podem ter risco reduzido de mortalidade por todas as causas, por doenças cardiovasculares e por câncer. “É bem provável que estudos futuros possam compreender melhor os mecanismos associados a essa proteção através de ensaios clínicos randomizados que comparem intervenções com diferentes frequências semanais.”
Apesar de estudos de coorte terem grande relevância nos estudos epidemiológicos, o ensaio clínico randomizado é a metodologia que produz resultados mais confiáveis, pois os pesquisadores planejam e acompanham todas as etapas da intervenção – no caso, a atividade física, além de reduzir outros aspectos que podem enviesar as conclusões.
Daisy também lembra do chamado efeito agudo do exercício. “Alguns efeitos na glicemia e na pressão arterial ocorrem horas e dias após uma única sessão, geralmente até 72 horas. É preciso investigar se um espaço entre as sessões maior do que quatro dias não poderia prejudicar esses benefícios”, sugere.
Contudo, Mauricio dos Santos lembra que “as pessoas que contemplam a recomendação de atividade física (150 minutos por semana) em um ou dois dias da semana podem se beneficiar porque ficam menos tempo expostas à pressão arterial e à glicemia elevadas durante estes dias e nos dias subsequentes à prática da atividade física”.
Apesar de estudos de coorte terem grande relevância nos estudos epidemiológicos, o ensaio clínico randomizado é a metodologia que produz resultados mais confiáveis, pois os pesquisadores planejam e acompanham todas as etapas da intervenção – no caso, a atividade física, além de reduzir outros aspectos que podem enviesar as conclusões.
Daisy também lembra do chamado efeito agudo do exercício. “Alguns efeitos na glicemia e na pressão arterial ocorrem horas e dias após uma única sessão, geralmente até 72 horas. É preciso investigar se um espaço entre as sessões maior do que quatro dias não poderia prejudicar esses benefícios”, sugere.
Contudo, Mauricio dos Santos lembra que “as pessoas que contemplam a recomendação de atividade física (150 minutos por semana) em um ou dois dias da semana podem se beneficiar porque ficam menos tempo expostas à pressão arterial e à glicemia elevadas durante estes dias e nos dias subsequentes à prática da atividade física”.
Outro ponto que Daisy Motta traz é que, apesar de ter considerado e ajustado variáveis como sexo, idade, raça, renda, ingestão de álcool e tabagismo, entre outras, o estudo em questão “não verificou efeitos da dieta e do comportamento sedentário, e estes são fatores que podem interferir nos desfechos investigados”. Sabe-se, por exemplo, que fazer atividade física, mas ficar sentado o dia todo pode levar à perda dos benefícios. “Seria preciso ver se, entre os grupos comparados, um tende a apresentar mais comportamento sedentário do que o outro”, esclarece.
“A avaliação dos tipos de atividades físicas, incluindo esportes coletivos como o futebol e outros treinamentos com foco na melhora da força e massa muscular, além de condicionamento aeróbico, também necessita ser incluída em estudos futuros”, acrescenta Daisy Motta. A ideia é que, quanto mais detalhes sobre tipo, intensidade, duração e frequência das atividades físicas, melhor será a precisão das análises, cujos resultados podem ser usados e aplicados na prática para orientar a prescrição de exercícios.
Jornal da USP