Aumento da temperatura global pode piorar insuficiência cardíaca


Um estudo sugere que o calor extremo, fruto das mudanças climáticas, pode ser particularmente perigoso para pessoas com insuficiência cardíaca. Os dados reforçam o crescente corpo de conhecimento em torno dos impactos do aquecimento global à saúde e o bem-estar humano.

Publicada na ESC Heart Failure, revista da Sociedade Europeia de Cardiologia, a pesquisa diz que as ondas de calor cada vez mais comuns provocadas pelo aquecimento global podem levar a uma maior taxa de “mortalidade na população em geral, especialmente em relação à mortalidade cardiovascular.”

O estudo observacional identificou uma relação entre as temperaturas mais quentes provocadas pelas ondas de calor e a mudança de peso corporal, o que pode ser particularmente perigoso para pessoas com insuficiência cardíaca e piorar sua condição.

“Isso sugere um impacto direto do aquecimento global na saúde humana, com episódios agudos que devem ocorrer com mais frequência ameaçando pacientes com doenças crônicas, especialmente as populações mais frágeis”, escreveram os pesquisadores.

A seguir, uma análise mais detalhada do estudo e das ramificações de suas descobertas à medida que as mudanças climáticas se tornam mais sérias em todo o mundo.

A conexão entre ondas de calor e peso

O estudo foi feito na França em 2019, ano marcado por ondas de calor extremas em toda a Europa. Entre junho e setembro daquele ano – um período que incluiu dois eventos extremos de altas temperaturas – os pesquisadores usaram um sistema de telemonitoramento para rastrear como o calor afetava o peso de pessoas com histórico de insuficiência cardíaca. Nelas, o peso é a pedra angular do monitoramento da saúde: alterações estão relacionadas ao agravamento da insuficiência cardíaca congestiva, principal motivo de internação entre esses pacientes.

O estudo incluiu 1.420 indivíduos com histórico de insuficiência cardíaca – 70% dos quais eram do sexo masculino. A idade média dos participantes foi de 73 anos. Além de rastrear o peso usando telemonitoramento, os participantes do estudo foram solicitados a relatar outros sintomas que experimentaram, como fadiga, inchaço ou falta de ar. No final, a coleta de dados mostrou que, à medida que as temperaturas externas na França aumentavam, o peso dos pacientes diminuía significativamente e suas condições pioravam. Alguns pacientes pesando 78 kg perderam 1,5 kg em um curto período de tempo, segundo a pesquisa.

Segundo o autor do estudo, François Roubille, professor do Hospital Universitário de Montpellier, na França, em um comunicado à imprensa, a perda de peso que observaram durante a onda de calor foi clinicamente relevante. Este estudo é o primeiro a mostrar uma relação estrita entre a temperatura ambiente e o peso corporal em pacientes com insuficiência cardíaca. Para eles, a descoberta é oportuna, dadas as ondas de calor novamente este ano.

Outras consequências do calor excessivo

O monitoramento do peso foi um elemento crucial do estudo, porque qualquer mudança repentina no peso pode ser preocupante entre pessoas com insuficiência cardíaca. Como Roubille explicou no comunicado de imprensa, a perda de peso observada entre os participantes do estudo com insuficiência cardíaca teve o potencial de desencadear outras consequências graves para a saúde, incluindo “pressão arterial baixa, especialmente quando em pé, e insuficiência renal, e é potencialmente fatal”.

Embora as condições extremas de calor façam com que todos percam mais água do que o normal – principalmente pelo aumento da transpiração – entre pessoas com insuficiência cardíaca isso pode ser especialmente problemático. Isso ocorre porque os pacientes com insuficiência cardíaca geralmente tomam diuréticos, o que os ajuda a eliminar o excesso de líquido do corpo ao urinar mais em uma base normal no dia a dia.

Quando há mais perda de água do que o normal durante uma onda de calor, no entanto, os diuréticos podem deixá-los excessivamente desidratados. Roubille explicou que quando pessoas saudáveis bebem mais líquidos durante o clima quente, o corpo pode regular automaticamente a produção de urina. O mesmo não acontece, no entanto, para pacientes com insuficiência cardíaca porque tomam diuréticos.

Dicas para pacientes com insuficiência cardíaca

Com o aumento das temperaturas previsto para o futuro próximo, médicos e pacientes devem estar prontos para reduzir a dose de diuréticos entre pacientes com insuficiência cardíaca quando ocorrer perda de peso, sugere Roubille no estudo. Muitos cardiologistas já ajustam as doses de diuréticos dos pacientes em resposta a mudanças no peso. O estudo pode sugerir, no entanto, que esta seria uma estratégia particularmente benéfica durante as ondas de calor.

Além disso, os sistemas de telemonitoramento também podem ser úteis para indicação de quando uma mudança na dose de diuréticos de uma pessoa é necessária, com base em mudanças de peso.

Pessoas com insuficiência cardíaca também podem se beneficiar das mesmas estratégias que podem manter qualquer um saudável durante uma onda de calor, como ficar em um local fresco e fechado. Em lugares onde as pessoas não têm ar-condicionado, as opções podem incluir a ida a prédios públicos ou museus que tenham; visitar piscinas ou parques. Especialistas, no entanto, advertem que essas estratégias podem não funcionar igualmente bem para todos.

Essas estratégias não necessariamente ajudarão as pessoas que parecem estar em maior risco neste estudo, os pacientes mais velhos. Estes podem estar em pior estado de saúde e menos capazes de acessar lugares como piscinas e museus.

Se você tem uma condição como diabetes, obesidade ou pressão alta, escolhas de estilo de vida, como alimentação saudável, exercícios e manutenção de um peso saudável podem impedir que você desenvolva insuficiência cardíaca.

Em última análise, os autores do estudo identificaram um importante desafio ao tratar a insuficiência cardíaca durante as ondas de calor e propuseram uma forma inovadora de abordá-lo. Com o aumento da frequência e gravidade das ondas de calor, é preciso dar atenção cada vez maior ao tema.

Doutor Jairo – UOL

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