Doença afeta rotina e dinâmica familiar; psicóloga defende boa comunicação para lidar com situação sensível
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Um estudo publicado na revista “Jama” pela Sociedade Americana contra o Câncer (American Cancer Society, em inglês) analisou dados de mais de 35 mil crianças e adolescentes de 5 a 17 anos, registrados entre 2010 e 2018. Os resultados mostraram que os filhos com histórico de câncer entre seus pais tinham uma chance maior de faltar à escola e de usar o sistema de saúde.
De acordo com os autores, a pesquisa reforça a necessidade de uma atenção especial com os mais novos durante o processo de diagnóstico de câncer de seus pais, com estratégias mais profissionais e até políticas de saúde.
“É uma doença muito complexa e difícil de enfrentar. Ela afeta todo o sistema familiar”, afirma Silmara Silva, psicóloga do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein.
Segundo a especialista, o diagnóstico e o tratamento, normalmente feitos a longo prazo, acabam provocando mudanças em toda a rotina da família: “A criança pode se sentir confusa, com medo, com ansiedade e com dificuldades de entender as mudanças”.
Muitos pais, ao tentar proteger os filhos da tristeza conectada à doença, acabam acreditando que é melhor evitar o assunto. Silva explica que, geralmente, “a criança capta tudo e percebe as mudanças”. O resultado pode ser ainda pior do que uma conversa franca e cuidadosa.
“Na ausência de comunicação, os filhos podem criar fantasias que geram mais angústia”, alerta a psicóloga, que defende também a abertura de um espaço de conversa para atender às demandas da criança, como responder a todas as perguntas sobre a situação.
As informações mais sensíveis devem ser colocadas de maneira gradativa e a linguagem deve ser adaptada ao nível de desenvolvimento, explica a especialista. Em caso de dificuldade por parte dos adultos, é válida a busca pela orientação de um psicólogo, que pode ajudar a planejar o quê e como contar.
“O essencial é que os menores saibam que podem perguntar e se expressar, se sentir acolhidos em relação ao que estão sentindo, e que entendam que todos esses sentimentos são legítimos”, diz Silva.
Alguns sinais podem mostrar dificuldade da criança em lidar as mudanças após o diagnóstico dos pais: deve-se ficar atento às possíveis alterações de comportamento, como irritabilidade excessiva, agressividade, choro frequente, tristeza, introspecção, dificuldade para dormir e queda no rendimento escolar.
Daí a importância também de uma rede de apoio formada pela família mais ampla, com os amigos e a comunidade da escola. “Quanto mais fortalecido o vínculo da criança com essas pessoas, melhor ela passará pelo processo, por mais difícil que seja”, completa a psicóloga.
Aspecto importantíssimo esse!