Calor e mudanças climáticas podem aumentar transtornos com álcool e drogas


Pesquisa nos EUA que analisou 20 anos de dados sobre consultas hospitalares sugere aumento de procura médica por esses distúrbios durante temperaturas mais altas

Cientistas analisaram duas décadas de dados de consultas hospitalares relacionadas ao álcool e transtornos relacionados ao uso de outras drogas no estado de Nova York, nos Estados Unidos. Com isso, eles concluíram que esses distúrbios aumentam com o calor e a elevação de temperaturas devido às mudanças climáticas.

Os pesquisadores da Escola de Saúde Pública Mailman da Universidade de Columbia, na cidade de Nova York, registraram os resultados hoje (26) na revista Communications Medicine.

A equipe de especialistas examinou dados dos anos 1995 a 2014, referentes a mais de 671 mil consultas hospitalares relacionadas ao álcool e 721 mil associadas ao uso de outras substâncias, como maconha, cocaína, opioides e sedativos. Utilizando um modelo estatístico, o grupo comparou dias com temperaturas altas e datas próximas em que fez menos calor.

“Vimos que durante os períodos de temperaturas mais elevadas, houve um aumento correspondente nas visitas hospitalares relacionadas com o consumo de álcool e outras substâncias, o que também chama a atenção para algumas consequências potenciais menos óbvias das alterações climáticas”, conta em comunicado Robbie M. Parks, primeiro autor do estudo, que é professor assistente de ciências da saúde ambiental na Escola de Saúde Pública Mailman.

A explicação para o aumento do número de visitas hospitalares por álcool em temperaturas mais altas podem ser várias. Entre elas, mais tempo gasto ao ar livre consumindo bebidas alcoólicas e outras drogas; maior transpiração, o que causa desidratação; e, ainda, períodos maiores em que as pessoas podem cometer o crime de dirigir embrigadas.

Para distúrbios relacionados com outras drogas, o aumento nas temperaturas também resultou em mais visitas hospitalares. Esta relação se deu, porém, apenas até um limite de 18,8°C — exceto para a cocaína. Com isso, cientistas acreditam que, acima de uma certa temperatura, as pessoas não têm maior probabilidade de sair de casa.

O consumo da droga pode ter relação com a bebida alcoólica. “Para a cocaína, houve um aumento potencial para temperaturas mais elevadas, o que pode ser impulsionado pelo consumo de álcool e aumento da transpiração, aumentando o risco de desenvolvimento de problemas cardiovasculares e respiratórios”, explicam os pesquisadores.

Os cientistas observam ainda que aqueles que tomam regularmente opiáceos podem notar que seu efeito é reduzido em climas mais quentes; por isso, essas pessoas provavelmente tomam doses mais elevadas quando as temperaturas estão mais altas.

Os autores admitem que há algumas falhas em seu estudo – por exemplo, ele pode desconsiderar que transtornos mais graves possivelmente geraram mortes antes que uma visita ao hospital fosse possível. Além do mais, a quantidade de visitas pode ter caído em temperaturas abaixo da média devido simplesmente a um menor entusiasmo por buscar ajuda sob condições meteorológicas frias, especialmente sob a influência de uma substância psicoativa.

No futuro, os pesquisadores poderão tentar vincular os casos de mortes aos registros de visitas hospitalares para criar uma imagem mais completa do histórico médico dos pacientes. Enquanto isso, as conclusões do estudo até agora poderão auxiliar políticas em comunidades vulneráveis ​​ao álcool e a outras drogas.

“Intervenções de saúde pública que visam amplamente os transtornos de álcool e outras substâncias em climas mais quentes – por exemplo, mensagens direcionadas sobre os riscos de seu consumo durante esses períodos – devem ser uma prioridade de saúde pública”, defende a autora sênior Marianthi-Anna Kioumourtzoglou, professora associada de ciências da saúde ambiental na Escola de Saúde Pública Mailman.

REVISTA GALILEU

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