Isso evitou que precisassem partir para tratamentos mais agressivos, como cirurgia, radioterapia ou quimioterapia.
Embora o resultado seja impressionante, é preciso fazer algumas ponderações.
A primeira tem a ver com o tempo de acompanhamento. “Os seis meses de avaliação são um período curto. Pode ser que a doença reapareça em alguns anos depois”, analisa Riechelmann.
Em segundo lugar, o dostarlimabe só funciona em um grupo restrito de pacientes que têm tumores que apresentam uma característica descrita como “instabilidade de microssatélites”. Estima-se que cerca de 1% dos casos de câncer de reto se encaixam nesse critério.
Enquanto o remédio não é aprovado para o novo uso, as pesquisas continuam, até para saber por quanto tempo os pacientes realmente vivem sem esse tumor.
“Mas os resultados iniciais foram tão bons que nem faz mais sentido comparar essa imunoterapia com o que era usado antes, como químio e radioterapia”, diz Riechelmann.
“É um tratamento que se mostrou melhor e menos tóxico”, conclui.
Câncer colorretal: exame evita quimioterapia desnecessária
Geralmente, congressos internacionais de oncologia trazem avanços relacionados a novas ferramentas, métodos de diagnóstico e, claro, medicamentos.
Porém, neste ano, um trabalho sobre câncer colorretal (que afeta partes do intestino grosso) recebeu destaque justamente por seguir no caminho contrário: reduzir o número de intervenções às quais o paciente precisa se submeter.
Um grupo de pesquisadores de instituições australianas avaliou um exame que detecta pedacinhos de DNA do tumor que aparecem na circulação sanguínea. O método é conhecido como “biópsia líquida”.
Mas o que isso tem a ver com o câncer colorretal? Pacientes diagnosticados com essa doença geralmente passam por uma cirurgia para remover a parte afetada do intestino.
Após a recuperação, porém, o médico fica sempre em dúvida se restou alguma parte do tumor, mesmo que microscópica, no organismo do paciente. Caso tenha sobrado, a doença pode voltar a crescer e até se espalhar pelo corpo.
Por via das dúvidas, muitas pessoas são submetidas a uma quimioterapia após a cirurgia para eliminar qualquer célula tumoral que tenha ficado pelo caminho.
Isso diminui o risco de recidivas, mas submete os pacientes a uma terapia pesada, que pode ter efeitos colaterais.
É aí que entra o novo exame: ao detectar os pedacinhos de DNA do tumor, determina quem realmente precisa da segunda rodada de tratamento.
“Se o resultado da biópsia líquida der positivo, ele vai pra químio. Se der negativo, não precisa”, resume o oncologista Rodrigo Dienstmann, diretor médico do Oncoclínicas Precision Medicine, em São Paulo.
No estudo que validou a técnica, 455 voluntários foram divididos em dois grupos. Os primeiros 302 fizeram a biópsia líquida logo após a cirurgia. Com os 153 restantes, o médico decidiu se partia ou não para a químio.
“Naqueles que fizeram biópsia líquida, 15% foram para a químio depois. Nos demais, 28%”, informa Dienstmann.
“Ou seja: foi possível reduzir a aplicação de quimioterápicos pela metade e obter o mesmo resultado de sobrevida dos pacientes”, compara.
“A biópsia líquida tem um potencial revolucionário”, analisa o médico.
Câncer de pâncreas: esperança de tratamento de sucesso
O adenocarcinoma de pâncreas talvez figure no topo da lista de tumores com pior prognóstico.
“Esse câncer tem uma mortalidade altíssima. Cerca de 90% dos pacientes não sobrevivem por cinco anos, mesmo quando o diagnóstico é precoce”, diz o médico Paulo Hoff, presidente da Oncologia D’Or.
Nos últimos dez anos, as mudanças no tratamento desta doença se resumiram à chegada de novos quimioterápicos — os avanços relacionados aos remédios mais modernos e menos agressivos, como os imunoterápicos e os anticorpos monoclonais, não chegaram a beneficiar no caso desta doença que acomete o pâncreas.
Mas uma nova possibilidade se abriu: durante o congresso americano de oncologia deste ano, foram apresentados os primeiros testes que utilizam um método chamado CAR-T Cells contra esse tipo de câncer.
O recurso terapêutico, já aprovado contra alguns tumores do sangue (como linfomas, leucemias e mieloma múltiplo), consiste em extrair células imunológicas do próprio paciente, modificá-las em laboratório e reintroduzi-las no organismo, para que reconheçam e ataquem o tumor.
Segundo o que foi apresentado no congresso, as CAR-T Cells foram testadas em um paciente com câncer de pâncreas nos Estados Unidos. Os resultados iniciais foram positivos.
“Embora o uso dessa terapia contra o adenocarcinoma de pâncreas seja extremamente interessante, não é algo que estará disponível em nossas clínicas amanhã”, pondera Hoff, que é professor de Oncologia Clínica da Universidade de São Paulo.
“Há um longo trajeto a ser percorrido, mas ao menos agora temos uma esperança de que podemos estar no caminho certo.”
BBC BRASIL