Câncer de mama: 1 em cada 6 mortes pela doença no Brasil é de mulheres com menos de 50 anos


Descoberta destaca a importância de iniciar o rastreamento da doença mais precocemente, a partir dos 40 anos

De acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF), uma em cada seis mortes por câncer de mama acontece em mulheres com menos de 50 anos. A descoberta destaca a importância de iniciar o rastreamento da doença a partir dos 40 anos, como preconizam as sociedades médicas brasileiras e não a partir dos 50, como recomenda o Ministério da Saúde.

O estudo, apresentado durante o Congresso Brasileiro de Câncer na Mulher, realizado no Rio de Janeiro nos dias 5 e 6 de julho e organizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), analisou a distribuição da mortalidade por câncer de mama por faixa etária, entre 2012 e 2022, com base no Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM, do Ministério da Saúde.

Os autores observaram que nesse período houve um aumento de 40,8% no número absoluto de óbitos por câncer de mama. Em 2012, foram registradas 13.746 mortes, já em 2022, foram 19.363. A análise por faixa etária mostrou que a maioria das mortes ainda acontece nas mulheres acima dos 50 anos, que representam 77,2% das vítimas. Essa é a idade que o Ministério da Saúde recomenda o início do rastreio por meio da mamografia.

No entanto, a faixa de 40 a 49 anos, para a qual não está indicado o rastreio mamográfico nas diretrizes do Ministério da Saúde, corresponde, em média, a expressivos 15,61% dos óbitos totais dos anos de 2012 a 2022, o que corresponde a uma em cada seis mortes por câncer de mama.

De acordo com os pesquisadores os números destacam a importância de reduzir a idade para início do rastreamento do câncer de mama.

— A gente tem um número bastante expressivo de mulheres que começam a ter o câncer de mama na idade que as entidades preconizam o início do rastreio, que é a partir dos 40 anos, enquanto o SUS, devido às diretrizes do Ministério da Saúde, preconiza que essa pesquisa seja feita a partir dos 50. Então tem toda uma população negligenciada porque, geralmente, nas redes particulares, os planos de saúde autorizam que essa que essa mamografia seja feita a partir dos 40 anos, mas as mulheres que têm menor renda e dependem do SUS, acabam sendo mais desassistidas e prejudicadas — diz o estudante de Medicina Lucas Gonçalves Carvalho, um dos autores do estudo de iniciação científica pela UFF.

A mamografia de rotina é fundamental para diagnosticar câncer de mama em estágio precoce, quando a doença ainda não causa sintomas e quando há maior probabilidade de cura. Para Carvalho, iniciar o rastreamento aos 40 anos “é uma questão de dar não só dignidade de vida a essas mulheres, como uma chance de vida”.

— Quanto mais cedo essas mulheres são diagnosticadas, melhor é o prognóstico e mais fácil é o tratamento, ou seja, gasta-se menos recursos do sistema de saúde. Então a gente tem só vantagens em rastrear e encontrar essa doença nos estágios iniciais. Porque quanto mais tarde, mais recurso vai gastar do sistema de saúde, pior o prognóstico dessas mulheres e maior o sofrimento porque será um tratamento mais agressivo. Então é importante que esse diagnóstico seja feito o quanto antes — avalia Carvalho.

O aumento dos casos de câncer de mama em mulheres jovens – com menos de 50 anos – não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Tanto que, recentemente, a Força-tarefa para Serviços Preventivos dos EUA passou a indicar a mamografia a todas as mulheres com 40 anos ou mais, repetidos a cada dois anos.

Entre os possíveis motivos para o aumento dos casos – e também das mortes – por câncer de mama em mulheres mais jovens, o mastologista Ruffo de Freitas Júnior, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), cita mudanças no estilo de vida, em especial o adiamento da maternidade.

— Agora é comum as mulheres terem o primeiro filho dos 35 aos 40 e poucos anos e este é um aspecto que aumenta o risco de câncer de mama porque a mama “in natura”, ou seja, sem ter passado pelas mudanças da gravidez e da amamentação, fica mais exposta aos hormônios femininos que são produzidos no ovários. Esse bombardeio mensal dos hormônios naturais produzidos no ovário dessa mulher, faz com que haja aumento do risco — explica o médico.

Outros aspectos citados são o aumento do consumo de bebida alcoólica entre mulheres e o início precoce da reposição hormonal.

— Esses três aspectos estão fazendo com que os tumores de mama possam ocorrer nessa faixa de 40 a 49 anos com mais expressão do que eram há duas décadas atrás — diz Freitas.

Em relação às mulheres mais novas – com menos de 40 anos -, o estudo mostrou que as mortes por câncer de mama também crescem entre essa população, mas de forma menos expressiva, o que não justificaria uma recomendação de rastreio populacional por meio da mamografia.

— São casos mais relacionados a fatores genéticos, de mulheres que têm maior risco de desenvolver câncer de mama por causa de casos na família e, nestes casos, essas mulheres já devem acompanhar e fazer o rastreio de forma mais precoce. Mas os casos de câncer esporádico, que justificam o rastreio populacional, são mais expressivo a partir dos 40 anos — pontua Carvalho.

Além disso, o mastologista, explica que nessa faixa etária, as mulheres têm mamas mais densas, o que prejudica o resultado do exame.

— A mamografia abaixo dos 40 anos não ajuda tanto porque são mamas muito densas, que tem uma quantidade muito grande de tecido glandular e isso interfere. Acaba sendo um exame com muito pouco eficácia para ser feito como rastreio populacional — avalia.

JORNAL O GLOBO

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