Estudo da Fiocruz revela avanços promissores no tratamento da doença; cientistas obtêm sucesso na redução significativa da massa tumoral em experimentos com camundongos.
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) em Minas Gerais conseguiram reeducar células de defesa do organismo para combater o câncer de mama. O estudo abre caminho para desenvolver novos tratamentos de imunoterapia, ou seja, que estimulam o próprio sistema imunológico a reconhecer o tumor como algo a ser destruído.
Para chegar a esse resultado, os cientistas usaram nanopartículas de óxido de ferro, que são estruturas muito pequenas capazes de uma grande interação com as células e com baixa toxicidade. O objetivo era modificar um tipo de célula de defesa, os macrófagos, para que elas pudessem combater o câncer. Essas células compõem quase metade da massa de um tumor.
Enquanto um tipo de macrófago, o M1, ajuda a limitar o crescimento das células cancerosas porque tem características inflamatórias, o tipo M2, ao contrário, tem ação anti-inflamatória e permite o crescimento das células tumorais. As nanopartículas introduzidas nas células alteram a quantidade de ferro presente e fazem uma reprogramação celular. Assim, elas transformam o M2 em M1.
Os cientistas fizeram o estudo em 3 etapas: primeiro testaram o efeito in vitro, cultivando macrófagos e células tumorais em laboratório. Em contato com as nanopartículas, eles conseguiram fazer a reprogramação dos macrófagos e provocar a morte das células indesejadas. Depois, foi feito um ensaio em um modelo 3D multicelular, que imita o microambiente do tumor do câncer de mama, incluindo outras células do organismo humano.
Por fim, foram feitos testes em camundongos com câncer de mama. “Foi o resultado mais surpreendente porque, com apenas uma aplicação, conseguimos reduzir em 50% a massa tumoral”, conta Camila Sales Nascimento, pós-doutoranda do grupo de Imunologia Celular e Molecular, uma das líderes do trabalho.
As nanopartículas de óxido de ferro usadas no estudo foram produzidas nos laboratórios da Fiocruz Minas, por meio de uma parceria com a equipe do professor Celso Melo, do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco, que desenvolveu, originalmente, o composto.
Nova opção de tratamento
Segundo o líder do grupo de Imunologia Celular e Molecular da Fiocruz e coordenador do projeto, Carlos Eduardo Calzavara, o estudo abre caminho para novos tratamentos. “Não é um tratamento substitutivo, mas pode vir a ser uma alternativa, principalmente em casos de tumores agressivos.”
Atualmente os pesquisadores estão trabalhando para determinar informações sobre absorção, efeitos colaterais, doses e toxicidade para poder iniciar testes clínicos em humanos.