Câncer de próstata: por que a vigilância ativa é uma opção cada vez mais popular entre os homens


Prática envolve a monitoração periódica dos níveis de PSA (antígeno prostático específico), alguns exames para acompanhar progressão do câncer e evita tratamentos mais invasivos.

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

É cada vez maior o número de homens diagnosticados com câncer de próstata de baixo risco (clinicamente localizado) que optam pela vigilância ativa do tumor em vez de serem submetidos imediatamente aos tratamentos convencionais, que incluem, por exemplo, a retirada total da próstata (prostatectomia) e a radioterapia. Os dados são de um estudo publicado no Jama Network.

A vigilância ativa é uma opção de seguimento para pacientes com tumores de próstata de baixo risco. Durante o monitoramento, há a necessidade de acompanhar periodicamente os níveis de PSA (antígeno prostático específico), além de realizar ressonância magnética da próstata e biópsias seriadas para avaliar possíveis sinais de que o câncer esteja progredindo. Sua importância é endossada por vários estudos clínicos, mas ainda assim, ela não é tão usada na prática clínica.

Segundo o uro-oncologista Leonardo Borges, do Hospital Israelita Albert Einstein, em boa parte dos casos, a vigilância ativa permite o acompanhamento desses pacientes e possibilita a identificação dos casos em que a doença progride e o paciente deve ser encaminhado para o tratamento curativo, ainda em tempo hábil, sem prejuízo pela espera.

“Estes exames e o seguimento contínuo são essenciais para definir quais pacientes podem continuar em vigilância e quais devem ser encaminhados para o tratamento curativo, cirurgia ou radioterapia. A vigilância não é um abandono de acompanhamento com o urologista”, explicou Borges, acrescentando que os demais pacientes, em que a doença não progride, devem manter o seguimento ativo. “A vigilância ativa evita o tratamento imediato naqueles casos em que o tumor demora a evoluir ou até mesmo não vá progredir ao longo do tempo”, explicou.

No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (ficando atrás apenas do de pele não melanoma). É considerado um câncer da terceira idade, pois cerca de 75% dos casos acontecem em homens com mais de 65 anos. O aumento na incidência da doença ocorre justamente pela melhora e evolução dos métodos diagnósticos e também pelo aumento da expectativa de vida.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos, mas a maioria cresce de forma tão lenta que não chega a dar sinais durante a vida e nem ameaça a saúde do homem.

O estudo americano

O estudo americano levou em consideração informações de 20.809 homens, com idade média de 65 anos, tratados em 350 consultórios de urologia nos Estados Unidos, com dados extraídos dos sistemas de registros eletrônicos de saúde.

Segundo o levantamento, em 2010, cerca de 90% dos homens diagnosticados com câncer de próstata de baixo risco eram encaminhados para a prostatectomia radical ou para tratamentos com radioterapia ou seja, somente 10% deles faziam a vigilância ativa. Em 2014, 26,5% dos homens faziam monitoramento ativo e em 2021, 59,6%, demonstrando que essa é uma opção terapêutica que tem funcionado. A pesquisa aponta, no entanto, que o uso da vigilância ativa variou amplamente entre as regiões e os profissionais de urologia, variando de 0% a 100% dependendo do local.

Segundo Borges, atualmente, cerca de 30 a 35% dos pacientes diagnosticados com câncer de próstata possuem doença com comportamento classificado como “baixo risco”, portanto passível de vigilância ativa. Além destes, tem-se aproximadamente 50% de pacientes com doença de risco intermediário, que também teriam possibilidade de receber a vigilância ativa como possibilidade inicial de abordagem da doença.

Borges ressalta, no entanto, que cerca de 35% dos pacientes abandonam a vigilância ativa em cinco anos e, em 10 anos, até 50%. “Entre os motivos de abandono da vigilância e migração para o tratamento curativo estão desde a progressão da doença até questões psicológicas, pois muitas vezes o paciente sofre com tanto tempo de diagnóstico e com a “ausência” de tratamento. Alguns pedem para serem tratados, já que acreditam que o câncer irá evoluir e nada está sendo feito para evitar isso”, disse.

A decisão pela vigilância ativa, no entanto, deve ser tomada em comum acordo entre médico, pacientes e familiares, com base em vários exames e critérios clínicos. O bom relacionamento e contato constante com o urologista é essencial para mudança de abordagem imediata assim que se percebe alguma alteração de comportamento ou agressividade do tumor.

“No SUS, muitas vezes o próprio médico tem receio de perder o seguimento do paciente e estar tirando dele a oportunidade de tratamento enquanto doença localizada de baixo risco”, disse Borges.

O que dizem as diretrizes

As diretrizes médicas mais atualizadas, de 2022, orientam que a avaliação de risco dos tumores de próstata recém-diagnosticados deve levar em consideração o estágio clínico (por meio do exame de toque retal), o nível de PSA, a pontuação de Gleason (baseada na aparência microscópica do câncer), além do volume do tumor na biópsia. A ressonância magnética também é utilizada para avaliar a extensão da doença e, em casos selecionados, os médicos também podem utilizar biomarcadores genômicos para avaliar o risco aumentado de progressão da doença, o que pode auxiliar na tomada de decisão clínica.

As diretrizes também orientam que o médico avalie os fatores de risco do paciente e informe-o de que todos os tratamentos para o câncer de próstata apresentam algum risco (especialmente para as funções urinária, sexual e intestinal). Tudo isso deve ser levado em consideração e incorporado ao risco apresentado pelo câncer, expectativa de vida do paciente, comorbidades e condições pré-existentes.

O urologista do Einstein pondera ainda que os tratamentos têm se tornado cada vez menos invasivos, mantendo princípios de cura oncológica, mas trazendo resultados funcionais cada vez mais animadores, com menores índices de incontinência urinária e disfunção erétil. “É importante procurar urologistas e centros de saúde habituados a lidar com essa doença”, completa.

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