Cientistas criam modelo para prever de onde pode vir uma nova pandemia


Estudo australiano constata que países de renda mais alta e com maior densidade estão produzindo maior diversidade de doenças

Frederico Cursino, da Agência Einstein

A pressão da atividade humana sobre o meio ambiente está contribuindo para a diversificação de patógenos (agentes causadores de doenças, como vírus e bactérias), e o surgimento de novas pandemias iguais, ou piores, que a Covid-19 é apenas questão de tempo, segundo cientistas. Agora, pesquisadores australianos encontraram um modelo que pretende prever onde e que tipos de doenças poderão afetar a humanidade no futuro.

De acordo com artigo publicado na revista Transboundary and Emerging Diseases, uma equipe de cientistas da Universidade de Sidney constatou que países de renda mais alta, com áreas territoriais maiores, populações mais densas e maior cobertura florestal estão produzindo uma diversidade maior de doenças zoonóticas (transmitidas de animais para humanos). Já as doenças emergentes (recém-descobertas, que aumentaram de ocorrência ou se expandiram para novos locais) são mais propensas em locais de temperaturas mais altas, como o Brasil.

As análises demonstram também que as variáveis ​​climáticas (temperatura e precipitação) têm o potencial de influenciar a diversidade de patógenos. Esses fatores combinados reforçariam a tese de que o homem tem criado — ou exacerbado — as condições ambientais para o surgimento de outras pandemias. Segundo a publicação, três fatores resultantes da ação humana estão associados à emergência de novas doenças: a pressão sobre os ecossistemas, as mudanças climáticas e o desenvolvimento econômico.

Navneet Dhand, um dos autores do estudo e professor associado da Universidade de Sidney, explica, por exemplo, de que forma os crescimentos populacional e da densidade impulsionam o aumento de doenças zoonóticas como a Covid-19: “À medida que a população humana aumenta, também aumenta a demanda por moradias. Para atender a essa demanda, os humanos estão invadindo habitats selvagens. Isso aumenta as interações entre vida selvagem, animais domésticos e seres humanos, o que potencializa os riscos de insetos pularem de animais para humanos”.

Entre doenças zoonóticas que se espalharam recentemente também estão incluídas a SARS, as gripes aviária (H5N1) e suína (H1N1), a Ebola e a Nipah — um vírus transmitido por morcegos.

Para desenvolver este modelo, os autores usaram 13.892 combinações de patógenos únicos de 190 países, e dados de 49 variáveis ​​socioeconômicas e ambientais. As informações foram analisadas usando modelos estatísticos para identificar as causas de doenças emergentes e zoonóticas.

“Nossa análise sugere que o desenvolvimento sustentável não é apenas crítico para manter os ecossistemas e desacelerar as mudanças climáticas; ele pode informar o controle, mitigação ou prevenção de doenças”, disse o Michael Ward, professor da Universidade de Sidney e coautor do estudo.

Ward explica que este modelo pode ajudar governos e organizações a planejar políticas de saúde pública e ações para evitar futuras pandemias em potencial.

(Fonte: Agência Einstein)

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