Cobrança por perfeccionismo afeta saúde mental na maternidade


Psiquiatra  analisa que a divisão de tarefas na criação dos filhos faz parte do tratamento para ansiedade e depressão de muitas mães

Ser uma supermãe é saudável? Perfeitas, incansáveis e sempre disponíveis para se doar aos filhos e à família, o mito sobre a maternidade ideal parece beneficiar a todos, exceto às próprias mães. A psiquiatra Dra Livia Castelo Branco, especialista da Holiste Psiquiatria, aponta que o Dia das Mães é uma data importante para refletir sobre como a expectativa sobre como as mulheres devem equilibrar a vida familiar, profissional, financeira, e ainda se apresentar magras e sorridentes nas redes sociais, afeta a saúde mental.

“Existe um ideal na nossa sociedade da mãe perfeita, que está sempre disponível para todas as demandas dos filhos, tanto afetivas quanto de saúde, lazer e educação. Já no ambiente de trabalho é cobrado o mesmo foco e dedicação de quando não se tinha filhos, o que na maioria das vezes é impossível.  Além disso, o impacto da estética e positividade nas redes sociais faz com que muitas mulheres se sintam cobradas a ter o corpo perfeito e estarem sempre alegres. A tentativa de equilibrar as áreas mãe-profissional-mulher de forma impecável provoca frustração”, comenta a psiquiatra.  

Contudo, estes desafios não seriam tão assustadores se, além de tudo, a maternidade não fosse um período tão solitário na vida de tantas mães. Muitas vezes, sem a participação ativa dos pais no cuidado às demandas físicas e emocionais dos filhos, com uma rede de apoio insuficiente, associada a vulnerabilidade genética a transtornos mentais, o risco de desenvolvimento de transtornos depressivos e ou ansiosos é muito alto, explica Lívia Castelo Branco. Os sintomas, às vezes, são confundidos com cansaço, desânimo e até falta de “vocação para a maternidade”.

“Quando lidar com os problemas do dia a dia fica muito difícil é hora de buscar ajuda profissional. Cansaço, falta de ânimo, nervosismo, preocupações exageradas, alterações do sono, dificuldade na resolução de problemas, redução de concentração e variações de humor são sintomas que costumam acontecer na vida, mas quando são tão intensos a ponto de prejudicar a convivência com familiares e o rendimento no trabalho, por exemplo, são indícios de transtornos mentais que podem ser cuidados”, esclarece.

Saúde Mental na maternidade é divisão de tarefas

Assim como toda doença, os problemas de saúde mental podem exigir tratamento com medicamentos para a qualidade de vida da paciente. No entanto, a profissional da Holiste Psiquiatria, Lívia Castelo Branco, alerta que parte dos cuidados desde à gravidez até ao longo da vida materna, passa necessariamente pelo compartilhamento de responsabilidades para conseguir algo fundamental: tempo para si.

“Para cuidar da saúde mental é preciso delegar tarefas, compartilhar responsabilidades com o pai e outros parentes, tomar um tempo para si, manter atividades de lazer e pedir ajuda quando necessário são fundamentais. Além disso, buscar manter hábitos saudáveis de vida, tais como alimentação regular e atividade física é importante. Friso o “buscar”, pois sabemos que em muitos contextos as mães têm dificuldade de incluir isso na rotina ou não contam com o apoio paterno ou familiar”, considera a psiquiatra.

A culpa por não ser perfeita atrasa o tratamento  

De acordo com Lívia Castelo Branco, muitas mães se sentem culpadas por buscar ajuda profissional e iniciarem o tratamento. Muitas mulheres enfrentam quadros depressivos durante a gestação, mas resistem ao uso de remédios, temendo afetar o bebê. Já o pós-parto é um momento de alto risco para desencadeamento de transtornos, mas poucas buscam ajuda porque há a imposição cultural de que o nascimento de um filho é um momento de paz e alegria ou com medo de interromper a amamentação, elucida a psiquiatra que ainda lembra que, se for o caso, existem medicações autorizadas na gestação e na lactação.

“O tabu de que com o uso de medicamentos não é possível amamentar, aumenta o sofrimento da mãe, no sentido de que ela precisa suportar tudo pela criança. Lembro que a relação entre mãe e filho no início da vida é fundamental para o desenvolvimento deste indivíduo. Não podemos ignorar que a saúde mental da mãe é imprescindível para que o contato e cuidado sejam saudáveis. Assim, o acompanhamento médico e apoio da família são fundamentais na tomada da decisão mais assertiva para o melhor da mãe e do bebê”, finaliza a psiquiatra da Holiste Psiquiatria.

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