Quando a ginecologista da atriz Claudia Raia, 55, pediu a ela que fizesse o chamado exame beta HCG, a artista suspeitou que a médica estivesse louca: o teste serve para identificar o HCG, um hormônio produzido pelo corpo durante a gravidez.
O desfecho dessa história, narrado por Claudia nos stories do Instagram nesta segunda-feira (19), surpreendeu a web e a própria atriz, que anunciou estar grávida de seu terceiro filho, o primeiro com seu marido Jarbas Homem de Mello.
Eu falei ‘meu Deus do céu, eu tô grávida, como é que aconteceu isso?'”, contou a atriz na rede social. Com o aumento na expectativa de vida e os avanços da medicina reprodutiva, no entanto, casos de gravidez tardia, que ocorrem na faixa etária de 35 anos ou mais, serão cada vez mais comuns, observa Eduardo Cordioli, coordenador geral de Obstetrícia do Hospital e Maternidade Pro Matre (SP).
Não é possível engravidar de forma espontânea após a menopausa, estágio atingido quando a mulher já está há pelo menos um ano sem menstruar, o que geralmente ocorre entre os 45 e 55 anos de idade. Isso porque a quantidade de óvulos com que a mulher nasce é limitada e eles vão sendo liberados aos poucos nos períodos férteis, desde a puberdade até a menopausa. É um processo natural e irreversível.
Métodos de reprodução assistida, contudo, viabilizam a gravidez mesmo após a última menstruação. Exemplo é o congelamento de óvulos, abordagem que Claudia Raia, que costuma falar abertamente sobre a menopausa, já revelou ter adotado, indicando que havia interesse em passar por um processo de FIV (fertilização in vitro), quando a fecundação acontece em laboratório e, depois, o embrião é inserido no corpo da mulher. A atriz ainda não confirmou se passou por uma FIV.
Quais são os riscos de uma gravidez tardia?
Engravidar após os 35 anos aumenta o risco de problemas maternos como a pré-eclâmpsia (pressão alta) e diabetes gestacional, além de trombose. Em relação ao bebê, quanto mais velha é a mãe, maior é o risco de problemas como má formação fetal, alterações cromossômicas que resultam em síndromes genéticas como síndrome de Down, parto prematuro e restrição de crescimento intrauterino (o que faz com que o bebê nasça menor do que deveria). O risco de abortamento precoce também é mais alto.
Mas isso não significa que uma gravidez tardia está fadada a dar errado. Alguns desses riscos podem ser significativamente minimizados, explica Cordioli. “Hoje, nós já temos relatos de gravidez com sucesso em mulheres acima de 70 anos de idade”, afirma o médico, que é formado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Como evitar os riscos?
Um dos fatores mais determinantes para um desfecho positivo em casos de gestação tardia é a saúde da mãe. “Com o passar do tempo, nosso corpo vai reagindo à genética e ao meio ambiente, e podemos desenvolver doenças que são precipitadas durante a gestação, como hipertensão e diabetes, mas, se essa situação acontece numa mulher que tem hábitos de vida saudável, é possível minimizar esses impactos”, diz o especialista.
Alguns exames feitos antes e durante a concepção também favorecem o cenário. É preciso, por exemplo, analisar se haverá a necessidade de reposição de algum hormônio. Também é importante realizar exames durante o primeiro trimestre da gestação para identificar biomarcadores que sinalizam se a mulher terá ou não um risco maior de ter pré-eclâmpsia, uma das principais causas de morte materna no Brasil.
Se esse risco for alto, segundo o especialista, é possível utilizar fármacos que atenuam em pelo menos 50% a ocorrência do problema.
No caso da prematuridade, acrescenta Cordioli, os médicos podem acompanhar o tamanho do colo do útero da mulher e usar medicamentos ou outros instrumentos para reduzir o risco de o bebê nascer antes do tempo previsto.
“Existem maiores riscos, sim, mas o período ideal de gestação que a literatura fala, teoricamente, seria até os 25 anos, porque o risco vai aumentando conforme a idade vai passando. Porém, fazendo um pré-natal adequado, com os exames de prevenção, e usando medicamentos profiláticos para atenuar os riscos, é possível ter um desfecho excelente mesmo numa idade materna fora do habitual”, diz.
Para Cordioli, casos de gravidez tardia são cada vez mais comuns no Brasil e no mundo. Dados do Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde mostram que, na última década, o número de mulheres que engravidou após os 35 anos cresceu 84% no Brasil. Além disso, partos de mulheres acima dos 40 anos já representam entre 2% a 5% do total do país.
VIVA BEM/UOL