Conheça os riscos por trás das doenças venosas


Distúrbios ainda muito associados a questões estéticas, as doenças venosas – varizes e tromboses venais – podem se tornar problemas de saúde muito mais graves se não receberem atenção e os devidos cuidados. A Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular tirou o mês de abril para levar mais esclarecimento à população sobre o assunto, abraçando a campanha internacional “Vein Week Brazil”, que envolve também a seção potiguar da SBACV. A iniciativa tem o intuito de levar mais informação à sociedade através de atividades e/ou campanhas educativas.

A ‘Semana Mundial de Conscientização das Doenças Venosas’ é uma forma de chamar atenção para um problema de saúde bastante comum, mas que boa parte da população costuma ignorar sua gravidade por mera falta de informação. A médica Glenda Rocha, presidente da SBACV-RN, afirma que ainda há muita dúvida e desinformação entre as pessoas sobre esse tipo de doença, especialmente as varizes, por acharem que é um problema meramente estético. “Elas geram sintomas e quando se agravam podem causar até afastamento do trabalho”, enfatiza.

As varizes são veias dilatadas, tortuosas e alongadas nos membros inferiores. Devido às alterações, as veias se tornam visíveis e deixam de conduzir o sangue de forma adequada, causando dores, desconforto e sensação de cansaço nas pernas. A doença é causada, sobretudo, por questões hereditárias, mas também incluem outros fatores como o uso de hormônios, o hábito de fumar, obesidade, o avanço da idade, atividade laboral, gestações, e sedentarismo.

As varizes podem se apresentar desde o grau mais leve até o mais avançado, como a úlcera varicosa. Além de sintomas como dor, sensação de peso, cansaço e queimação nas pernas, podem causar também inchaço, sangramento, escurecimento da pele, flebites (que são tromboses venosas superficiais) e até mesmo elevar os riscos de desenvolver úlceras (feridas) em casos mais avançados.

Glenda Rocha explica que as próprias varizes dão sinais de que estão se tornando mais graves, e o primeiro indício é o aumento da intensidade dos sintomas, e o aumento das próprias varizes, tanto em quantidade, quanto em calibre. E ainda é algo muito associado às mulheres. “Apesar de ser muito mais frequente na mulher, em uma proporção de 4 para 1, ela também pode afetar os homens”, diz.

Embora seja um problema que não tem a idade como principal fator de risco, mulheres acima dos 40 anos estão 78% mais suscetíveis ao apa-recimento de varizes. Levantamentos revelaram que pacientes com idades entre 50 e 59 anos concentram 28% dos casos, já mulheres com idades entre 40 e 49 anos são responsáveis por outros 27% dos registros.

Trombose
Além das varizes, outra doença venosa frequente é a Trombose Venosa Profunda (TVP), um distúrbio cujo maior risco é desencadear embolia pulmonar e levar a óbito, segundo Glenda. “Depois da fase aguda da TVP, o paciente, que teve o trombo em uma veia importante da perna, pode, a longo prazo, sofrer com a síndrome pós-trombótica, que é decorrente da insuficiência que essa veia, onde teve o trombo, fica após um tempo”, explica.

Dra. Glenda ressalta que veia insuficiente não é recuperada, não volta a ficar boa. “Então, a síndrome pós-trombótica é uma doença crônica à qual o paciente vai precisar de acompanhamento para o resto da vida”, completa. O que leva à trombose venosa, explica, são alterações na coagulação, – como as trombofilias – onde se tem uma predisposição a desenvolver coágulos dentro dos vasos sanguíneos.

A trombose venosa é uma doença caracterizada pela formação de trombos (coágulos) nas veias de qualquer parte do corpo, mas principalmente nas veias das pernas, e que pode evoluir para uma embolia pulmonar caso o trombo se movimente pela corrente sanguínea. Na grande maioria dos casos, ela pode ser evitada.

Prevenção
Segundo a Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH), a cada ano quase 300 mil brasileiros são acometidos por algum fenômeno trombótico e muitos desses eventos poderiam ser evitados, com ações como a prática frequente de exercícios, ingestão regular de água, controle de peso, não fumar, entre outras, e, quando necessário, o uso de anticoagulantes recomendados pelo médico.

“Prevenção de varizes é muito difícil porque ela é muito fatorial, mas na medida do possível, pode-se tentar se afastar dos fatores que são desencadeantes”, afirma Glenda. A gravidez, por exemplo, é um desses fatores – mas nenhuma mulher precisa deixar de engravidar apenas por isso, claro. “Durante a gravidez, procurar não ganhar muito peso, praticar atividade física, manter um peso adequado ao seu tipo físico. Isso numa tentativa de prevenir varizes”, explica.

Quando há indicação cirúrgica, o cirurgião vascular precisa recomendar o melhor tratamento de acordo com a necessidade do paciente. “A cirurgia é indicada quando tem doenças, geralmente nas veias safenas, ou varizes de grosso calibre. E aí, geralmente, a melhor forma de tratar é com cirurgia”, afirma a médica.

Já o tratamento medicamentoso serve para aliviar os sintomas. “Lembrando que nenhum medicamento previne as varizes, nem ‘tira’ as varizes. As varizes, depois que aparecem, só são tiradas quando se faz algum procedimento. E o procedimento vai ser escolhido de acordo com o tipo de varizes que o paciente tem”, completa. Independentemente da classificação de gravidade das varizes, ter um acompanhamento médico é essencial para evitar a evolução da doença.

A fisioterapeuta Eliane Silva lida com doenças venosas desde criança. A mãe tinha varizes e úlcera, portanto, havia histórico familiar. “Eu comecei a cuidar desde cedo. Só que teve período de ter filho, engravidar, e aí me descuidei. Então, em 2006, eu fiz minha primeira cirurgia”, conta. Ela estava sentindo dor nos calcanhares e cansaço para ficar de pé. Por também ser professora de pilates, Eliane conseguiu ter um pós cirúrgico muito bom. Até que veio a pandemia.

A pandemia trouxe o home-office, e com muito tempo sentada e sem movimento, os sintomas venosos voltaram, evoluindo para a piora da doença e de suas safenas. Ela fez outra cirurgia e seguiu fazendo exercícios para minimizar os sintomas e melhorar a circulação. Atualmente Eliane se sente bem melhor, tanto em qualidade de vida quanto em autoestima. “Agora eu visto um short de novo, sinto levez nas pernas, e me previno mais. Sigo orientações médicas, exercícios de panturrilha e circulatórios, e me sinto uma nova mulher”, conclui.

TRIBUNA DO NORTE

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