Pesquisa avaliou dados de 37 mil jovens brasileiros entre 12 e 17 anos; bebidas foram associadas a obesidade, sobrepeso e hipertensão.
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
O consumo diário de refrigerantes por adolescentes –inclusive aqueles que levam nos rótulos a descrição de zero, diet ou light – pode ser considerado um fator de risco cardiovascular e está associado a sobrepeso, obesidade e hipertensão, mostra um estudo conduzido na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Os autores avaliaram por meio de inquéritos alimentares os dados de cerca de 37 mil adolescentes brasileiros com idades entre 12 e 17 anos. Além disso, foram investigados os perfis glicêmico e lipídico dos indivíduos por meio de diagnósticos laboratoriais e, também, foram feitos exames físicos para avaliar pressão arterial, índice de massa corporal (IMC), entre outros indicadores. Os registros foram fornecidos pelo Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), realizado em 1.251 escolas de 124 cidades do país.
A pesquisa apontou que o consumo de bebidas açucaradas industrializadas ocorre frequentemente na dieta dos adolescentes e que porções diárias de refrigerantes a partir de 450 ml podem estar associadas a excesso de peso e hipertensão, inclusive na categoria zero, light ou diet. Sabe-se que as calorias líquidas não garantem o mesmo nível de saciedade das calorias sólidas e, por isso, o consumo de bebidas açucaradas leva a um aumento calórico na dieta. Além disso, itens diet ou light carregam boas doses de sódio, o que pode influenciar no aumento da pressão arterial.
“Os dados nos surpreenderam porque esses jovens acabam desenvolvendo fatores de risco cardiovascular muito precocemente, o que pode trazer impactos significativos pelo maior tempo de exposição a esses fatores”, diz a enfermeira Ana Flavia Britto, uma das autoras do estudo.
De acordo com a especialista, limitar o consumo desses itens pode reduzir o ganho de peso e as doenças relacionadas –como as cardiovasculares, a principal causa de morte no Brasil.
“Já existem políticas públicas sendo implementadas mundialmente nesse sentido”, diz Britto. “Mas mudar hábitos alimentares considerados inadequados envolvem múltiplos fatores que precisam ser melhores compreendidos no contexto da adolescência em inquéritos nacionais”, conclui.
Campeãs de consumo
Os refrigerantes são as bebidas com maior consumo diário per capita no Brasil. Em média, a ingestão na região Sul do país é o dobro da registrada no Norte e no Nordeste, segundo dados da pesquisa de orçamento familiar de 2017/2018.
Nas últimas décadas, a frequência e a quantidade do consumo aumentaram muito no mundo. O aumento de riscos cardiovasculares na adolescência é um problema de saúde pública e o consumo diário de bebidas açucaradas pode ser compreendido como um fator de risco relevante para desenvolvimento de doenças.