COVID-19 com sintomas leves. O que você precisa saber?


Não é novidade que, para uns, a covid-19 parece ser uma experiência que não passa nunca: a infecção vai embora e alguns de seus sintomas ficam, persistem. Outros sinais, por sua vez, surpreendem porque parecem surgir do nada.

Nesse sentido, um estudo recém-publicado por cientistas de quatro instituições americanas — as universidades da Califórnia, de Indiana, de Miami e, ainda, a Clínica Mayo — parece não contar uma novidade. Pelo menos, até você lê-lo com um pouco mais de atenção.

 

Os pesquisadores se debruçaram sobre os dados de 1.407 californianos que receberam resultado positivo no exame de RT-PCR, confirmando que estavam infectados pelo novo coronavírus.

Pois bem: mais de dois meses depois do dia do teste, 27% desses sujeitos, ou precisamente 382 indivíduos, estavam reclamando principalmente de falta de ar, dor no peito, sensação de o corpo viver moído como se um trator tivesse passado por cima, entre outras queixas. Ah, sim, não posso me esquecer: problemas de memória foram frequentes entre eles também.

Mas o detalhe que faz a diferença nesse trabalho é ser um dos primeiros e, sem dúvida, o maior já realizado até o momento em que todos os participantes não se sentiram muito doentes quando pegaram o Sars-CoV 2. Tiveram no máximo sintomas leves e nenhum deles precisou ficar um único dia em um hospital.

Digo mais: perto de um terço dessa turma que sentia algum tipo de mal-estar depois de mais de sessenta dias tinha sido completamente assintomática no começo dessa história, isto é, nos dez primeiros dias de infecção. Na verdade, já que não apresentava febre, nem nada naquela época, só tinha feito o exame para ver se estava com o Sars-CoV 2 por ter tido contato com alguém infectado.

Os cientistas ficaram sabendo disso porque analisaram, primeiro, o que tinha acontecido com o organismo e como as pessoas se sentiam nos dez primeiros dias de infecção. E, depois, foram ver se algo tinha mudado a partir do sexagésimo dia.

Pode acontecer com qualquer um

Chama a atenção que, no mundaréu de gente observada no estudo, havia 34 crianças — um número pequeno, é foto, para a gente tirar qualquer conclusão. Mas fica o registro que elas seguiram esse padrão de aproximadamente um terço continuar amargando ou apresentar do nada sintomas da covid depois de dois meses.

“Sim, podem acontecer tanto as manifestações persistentes quanto manifestações tardias com qualquer um que é contaminado”, concorda o infectologista Rodrigo Molina, que é professor da Universidade do Triângulo Mineiro e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Ele e seus colegas já vinham observando no dia a dia. A tosse chata que não some, segundo o médico, é de fato um dos sintomas mais comuns. Ao lado dela, a anosmia, que é aquela incapacidade de sentir cheiros, a qual para alguns pacientes parece ser transitória, durando mais ou menos um mês…. –

“Também é comum a gente encontrar paciente que, depois de um tempo da infecção, chega relatando sinais de fadiga, um profundo cansaço que atrapalha bastante porque ele não sente a menor disposição para as atividades do dia a dia”, conta o médico.

E ele acrescenta mais uma manifestação tardia da covid-19: a melancolia. “Ela não chega a ser uma depressão, até porque aparentemente dura um período definido, de cerca de um mês”, diz o professor Molina, que sabe bem do que fala. Ele próprio foi um paciente assintomático em outubro do ano passado e, algumas semanas depois de o seu organismo ter se livrado do vírus, a melancolia deu as caras — e, felizmente, desapareceu após uns trinta dias.

As possíveis explicações

A melancolia, o professor Rodrigo Molina reconhece, sempre poderá ser atribuída a uma espécie de estresse provocado pela doença. “Querendo ou não, mesmo sem ter sintomas, a pessoa que está infectada fica apreensiva. Ela costuma ter muito receio de ter passado o vírus adiante, para alguém próximo, e também sente medo de piorar de uma hora para outra, deixando de ser assintomática. Portanto, há quem especule que essa melancolia seria um efeito rebote de dias de maior ansiedade.” Faz sentido.

Para outras manifestações tardias, a explicação do infectologista mineiro bate com a dos americanos do estudo: tudo tem a ver com as reações inflamatórias do nosso organismo disparadas pelo vírus.

Viva Bem\Uol

Coluna: Lúcia Helena

 

 

 

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