Deprimido e sem trabalho? Terapia tem ajudado pessoas a voltar ao mercado


Estudo mostra que a TCC ajudou 41% dos pacientes a conseguirem um emprego ou melhorar a situação de trabalho

 

Frederico Cursino, da Agência Einstein

Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) em 11 países colocou o Brasil como líder em casos de depressão durante a pandemia. Um dos motivos é o desemprego, que, desde o ano passado, vem afetando a saúde mental de cada vez mais brasileiros. Agora, cientistas norte-americanos descobriram que um tipo de terapia vem ajudando pessoas não apenas a superar os transtornos, como também as tem colocado de volta no mercado de trabalho.

A descoberta, publicada no jornal científico Cognitive Behaviour Therapy, veio depois que 41% dos desempregados ou subempregados que passavam por um experimento baseado em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) encontraram um trabalho, ou melhoraram a sua posição, depois de cerca de quatro meses de tratamento.

De acordo com os pesquisadores, a mudança no curso profissional dos participantes teria acontecido por influência da terapia em dois aspectos. Primeiro, no “estilo cognitivo negativo”, que são as explicações que os indivíduos atribuem aos eventos negativos da vida. Isso inclui pontos de vista como os de que os eventos negativos são duradouros ou impactarão vários aspectos da vida, também chamado de distorção negativa da realidade.

Embora pessoas com depressão sejam impactadas em seu desempenho profissional, os autores afirmam que apenas combater esses sintomas não significa que o paciente irá melhorar a sua situação no trabalho.  Por outro lado, as mudanças nos “estilos cognitivos negativos” tiveram grande importância na realocação dessas pessoas no mercado.

“Pessoas com depressão invariavelmente têm essas visões excessivamente negativas de si mesmas e de seu futuro. Por exemplo, se um paciente desempregado não consegue um emprego para o qual foi entrevistado, ele pode pensar que ninguém nunca vai contratá-lo”, afirma Daniel Strunk, coautor do estudo e professor de psicologia da Universidade de Ohio.

Segundo o professor, a TCC ajudou os pacientes a superar as suas distorções negativas da realidade ensinando que a experiência da depressão não é uma culpa do indivíduo. Além disso, treinamentos para identificar e reavaliar pensamentos negativos permitiram que os participantes restabelecessem maior controle emocional, o que também contribui para uma maior concentração no trabalho: “São medidas que ajudam os pacientes a realizar o trabalho com mais sucesso, mesmo quando experimentam sintomas depressivos”, acrescenta.

Strunk conta que, no início do tratamento, 27 pacientes buscavam melhorar sua situação profissional. Onze deles (41%) tiveram sucesso após 16 semanas. Também foi observado que o tratamento ajudou aqueles que tinham empregos, mas cuja depressão vinha prejudicando as suas performances.

“É difícil dizer exatamente quão boa é essa taxa de sucesso, já que não sabemos quantos teriam conseguido empregos sem o tratamento. Mas as descobertas foram encorajadoras e sugerem que a TCC está tendo um impacto”, destaca.

A psicóloga Angela Donato Oliva, professora de pós-graduação de Psicologia Social da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), explica que uma das funções da Terapia Cognitivo-Comportamental é justamente oferecer resultados concretos para pacientes que buscam um suporte emocional.

Ela diz que, nos casos de pessoas com problemas no trabalho — ou desempregadas —, o tratamento da negatividade ajuda as pessoas a “destravarem”, e a tomar atitudes realistas para solucionar os seus problemas: “Sempre que você entra num local e olha para lados negativos, você deixa de olhar a oportunidade de melhorar situação”, explica Angela.

A especialista acrescenta que o treinamento para o controle emocional é um dos processos mais importantes da terapia. “Não adianta saber as regras do jogo, sem aprender a jogá-lo. O trabalho da TCC é a reestruturação cognitiva, avaliar as coisas de forma realista, de entender que existem coisas boas e ruins. Não é possível mudar a realidade, mas podemos aprender a lidar com ela e encontrar soluções”, completa.

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