Dia da Síndrome de Asperger (TEA): como lidar com a condição na infância


O dia 18 de fevereiro foi instituído como o Dia Internacional da Síndrome de Asperger. A data foi escolhida em homenagem ao aniversário de Hans Asperger, pediatra austríaco que descreveu a síndrome pela primeira vez em 1944.

 

O objetivo é conscientizar a sociedade a respeito dessa condição. De acordo com a nova classificação da CID-11, a síndrome de Asperger se tornou parte do Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo considerada um tipo de autismo brando. Segundo dados do Center of Diseases Control and Prevention (CDC), uma a cada 59 crianças em todo o mundo é acometida por esta condição.

 

Quais os sintomas na infância

Chamada de autismo leve ou autismo nível 1, ela provoca os mesmos sintomas do autismo clássico, mas em uma escala menor, afetando o neurodesenvolvimento, gerando dificuldade de comunicação e socialização, uso da imaginação para jogos simbólicos e padrão de comportamento restritivo e repetitivo.

“O transtorno pode ser identificado na infância, sendo mais comum em meninos do que em meninas e não tem relação com etnia ou raça, nem com padrão social”, afirma a Dra. Danielle H. Admoni, psiquiatra da Infância e Adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

Segundo ela, o diagnóstico começa pela observação do comportamento da criança. “Ela costuma ter atitudes incomuns, como empurrar uma pessoa para atrair atenção ou falar sem parar sobre um único assunto, sem perceber se a outra pessoa está interessada a ouvir”.

Além destes, há vários sinais que identificam a condição:

– Ao falar com alguém, não olha nos olhos. Costuma observar outras partes do corpo da pessoa, menos os olhos

– Tem dificuldade com a comunicação não verbal: não gesticula ao falar, tem expressões faciais limitadas e inexpressivas, e olhar fixo característico

– Costuma ter uma linguagem excessivamente formal ou monótona

– É desorganizado e tem dificuldade para resolver e finalizar tarefas, incluindo o trabalho escolar

– Tem movimentos motores descoordenados

– Costuma ser muito sensível a ruídos, odores, gostos ou informações visuais, podendo gerar irritação

– Tem dificuldade para identificar quando alguém está provocando ou fazendo ironias

– Tem rotinas e rituais repetitivos, e fica muito incomodado ou desconfortável quando sua rotina muda

 

Diagnóstico e tratamentos

Para a psiquiatra, reconhecer que uma criança tem o transtorno é desafiador, já que os sinais são subjetivos, principalmente entre as crianças. “Daí a importância da observação atenta dos pais e educadores. Apesar de não se tratar de uma doença, o transtorno requer uma identificação precoce para que a criança consiga desenvolver suas competências sociais o quanto antes”, alerta a especialista.

Tanto o diagnóstico como o tratamento exigem a participação de uma equipe multidisciplinar, envolvendo fonoaudiólogo, psiquiatra, psicólogo e neurologista. Como o transtorno não tem cura, os objetivos dos tratamentos são controlar os sintomas, melhorar a interação social e trabalhar possíveis dificuldades de aprendizagem.

Segundo Danielle Admoni, as crianças com esta condição têm a capacidade cognitiva preservada e dificilmente apresentam comportamentos agressivos. “Muitas crianças demonstram inteligência média ou acima da média, e não têm uma deficiência total de competências linguísticas. Por isso, embora precisem de auxílio para processar a linguagem, algumas conseguem se expressar muito bem, chegando à vida adulta com um bom grau de independência, mesmo com dificuldade para interagir socialmente”.

 

Apoio familiar

Os cuidados da família com a criança são cruciais para o seu desenvolvimento:

– Estabeleça horários/limites para aquelas atividades repetitivas e sugira outras tarefas

– Estabeleça horários para as atividades cotidianas, como fazer lição de casa, refeições, tomar banho, dormir, entre outras

– Seja bem claro nas instruções

– Use palavras simples e precisas

– Evite usar expressões figurativas

– Se for preciso, repita quantas vezes forem necessárias

– Não fale alto e tampouco gritando

– Não faça ameaças ou promessas em vão

– Parabenize a criança por suas realizações, especialmente as sociais

“Vale lembrar que o apoio e a transparência da família nesse processo são de extrema importância para que a criança se sinta acolhida e amada, aprendendo desde cedo a valorizar seus pontos fortes e entender que diferenças não são fraquezas”, finaliza Danielle Admoni.

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