Pesquisa no Canadá constatou que, ao longo de um ano, mais da metade da população entrevistada aderiu a pelo menos um dia em que se permitiu “fugir da dieta”
O pensamento restritivo em relação aos alimentos — sejam eles mais ou menos calóricos — pode acarretar diversos problemas. O famoso “dia do lixo”, em que uma pessoa em dieta se permite comer pratos “proibidos”, representa um comportamento cada vez mais comum, com maior incidência em adolescentes e jovens adultos.
Um novo estudo publicado no Journal of Eating Disorders no início de agosto, analisou 2.717 jovens e adolescentes do levantamento Canadian Study of Adolescent Health Behaviors, no Canadá. A pesquisa constatou que, ao longo de um ano, mais da metade da população entrevistada aderiu a pelo menos um “dia do lixo”.
Em mulheres foi observado que a prática está atrelada a todos os tipos de transtorno alimentar. Entre os homens, o hábito está associado principalmente a compulsão alimentar, exercícios físicos excessivos e períodos de jejum. Já os participantes transgênero ou não binários que adotam a medida costumam também ter compulsão alimentar e comer em excesso.
“Isso é particularmente importante, dada a popularidade das refeições fraudulentas que é bem disseminada nas mídias sociais. Precisávamos explorar se existem associações entre as essas refeições e a psicopatologia do transtorno alimentar”, relata Kyle T. Ganson, professor assistente da Faculdade Factor-Inwentash de Serviço Social da Universidade de Toronto, no Canadá, em comunicado.
Não é saudável
As refeições que somam entre 1.000 e 1.499 calorias foram as mais relatadas entre todos os participantes. Os maiores praticantes do dia do lixo foram os homens: 60,9% declararam ter aderido à prática nos 12 meses anteriores. Já entre as mulheres, o índice foi de 53,7%; e entre transgêneros e não binários, 52,5%.
Segundo Ganson, o hábito foi mais difundido entre homens da comunidade “fitness”. A suspeita é de que eles estejam usando essas refeições para acelerar o crescimento muscular. Entre as mulheres, o hábito de furar a dieta pode ser usado para prevenir ou reduzir episódios de compulsão alimentar ou aliviar o desejo por alimentos restritos.
No geral, essas refeições consistem em alimentos densos em calorias, mas há uma diferença entre homens e mulheres: eles relataram consumir alimentos mais ricos em proteínas, ao passo que elas exageram em laticínios, salgados e doces.
“Os profissionais clínicos devem estar cientes da ocorrência comum de refeições fraudulentas entre adolescentes e jovens adultos e a natureza desses comportamentos sendo aprovados em comunidades fitness e nas redes sociais”, destaca o professor da Universidade de Toronto. “Nossas descobertas enfatizam a necessidade de mais pesquisas, conscientização pública e intervenções clínicas destinadas a abordar esse comportamento alimentar potencialmente prejudicial”, completa.
REVISTA GALILEU