Dispositivo portátil desenvolvido na Fiocruz pode popularizar teste molecular para Covid-19


Pesquisadores da Fiocruz e da Visuri, instituições referências em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para a saúde, desenvolveram um dispositivo portátil, o OmniLAMP, para diagnóstico molecular da Covid-19, pela detecção do material genético do Sars-CoV-2. Por meio da técnica RT-LAMP (transforma RNA em DNA e o amplifica isotermicamente), o equipamento possibilita testagem com segurança semelhante à técnica padrão ouro PCR (reação em cadeia da polimerase), mas com menor custo e tempo.

A detecção do RNA viral se dá por meio da amplificação isotérmica do material genético do vírus encontrado em amostras de swab – tipo cotonete, nasal e orofaríngeo. Ao final da reação, as amostras positivas apresentam um sinal de saída colorido, que é captado e interpretado automaticamente pelo software do equipamento. O sistema tem ainda georreferenciamento e conexão com a internet. Esses recursos permitem o armazenamento dos dados nos servidores web da empresa, para o acompanhamento remoto do que está acontecendo em cada um dos dispositivos quando esses estiverem em operação.

Foto: Samantha Mapa

Com relação ao resultado do teste, ele pode ser acessado pelo celular, por meio da utilização de um aplicativo e é obtido em 30 minutos, diferentemente de outras técnicas cujo processo de extração, amplificação e tratamento dos dados podem levar seis horas até a liberação do resultado, pois é necessário o pré-processamento das amostras. Outra vantagem do OmniLAMP é que ele necessita de uma estrutura laboratorial de baixa complexidade, além do uso de reagentes diferentes dos utilizados no teste PCR.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz Minas Rubens do Monte, a tecnologia possibilita a descentralização das testagens, que pode ser feita em pequenos laboratórios, clínicas e hospitais em todo o Brasil. “Como uma ferramenta point of care (PoC), é possível apresentar o resultado de forma automática e intuitiva e, portanto, pode ser utilizado por pessoal minimamente treinado, dando chance de o teste chegar a quem mais precisa”, reforça Monte. Importante destacar, segundo ele, que já nas primeiras amostras do ensaio clínico a sensibilidade desse teste foi de 97% e a especifidade de 100%, dando confiabilidade às ações de quem se valer desta inovadora ferramenta de diagnóstico portátil.

De acordo com Henrique Martins, CEO da Visuri, empresa co-desenvolvedora do projeto, o equipamento possui tecnologia Internet of Things (IoT), que permite o envio dos resultados para uma aplicação WEB desenvolvida para permitir o armazenamento dos dados em nuvem. “Este sistema torna possível o acompanhamento, em tempo real, de curvas de tendências e outros relatórios que podem ser utilizados por órgãos governamentais como ferramenta de auxílio na elaboração de estratégias para o combate a pandemia”, explica.

Ciência por demanda social

O OmniLAMP é fruto de uma parceria público-privada. A pesquisa teve início em 2018, a partir da aprovação do projeto no 1º edital de pesquisa do Instituto Serrapilheira. Na ocasião, os estudos da técnica RT-LAMP estavam direcionados para o diagnóstico de arboviroses (dengue, zika, chikungunya) e de leishmaniose. Em 2019, os estudos contaram com recursos do programa Inova Fiocruz e o projeto foi premiado com o segundo lugar em soluções inovadoras para o Brasil no InovaLabs, um programa de pré-aceleração da Biominas Brasil em parceria com a Fiocruz. Tendo em vista o novo cenário mundial e a grande necessidade por testes para a Covid-19, em março de 2020, a equipe direcionou todos os esforços para a detecção do Sars-CoV-2. As premissas básicas da força tarefa foi adaptar a tecnologia para disponibilizar um teste eficiente, mais rápido, mais barato e que pudesse ser realizado em qualquer região do país.

Para o virologista Pedro Augusto Alves, pesquisador da Fiocruz Minas, ferramentas diagnósticas utilizadas em pequenos municípios podem direcionar de maneira mais efetiva o controle epidemiológico local e regional. No caso dos arbovírus, por exemplo, é difícil identificar, somente com diagnóstico clínico, a diferença entre os sintomas da dengue e zika. “A realização de um teste seguro e com agilidade é fundamental para definir o tipo de tratamento adequado, ainda no momento de sintomas do paciente, o que permite um melhor direcionamento da terapêutica e evita gastos com tratamentos desnecessários”, explica.

Além do financiamento do Instituto Serrapilheira e do Programa Inova, da Fiocruz, o desenvolvimento do OmniLAMP contou com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), secretarias de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais e de Saúde de Minas Gerais, Finep, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Mercado

O dispositivo computacional portátil e os kits de teste estão em fase final de certificação na Anvisa. Estão em andamento as discussões para que, em se obtendo o registro, os kits de testes sejam produzidos pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), uma das unidades fabris da Fundação no Rio de Janeiro. Já o dispositivo portátil será produzido pela Visuri, em Minas Gerais.

“Com menor custo e facilidade na realização do teste, em relação a outros dispositivos para diagnóstico molecular, o OmniLAMP, é a tecnologia ideal para ser utilizada em qualquer município, empresas e ambientes de grande necessidade de testagens em massa como aeroportos, por exemplo, em função da facilidade da logística e usabilidade”, explica Henrique Martins.

Samantha Mapa
Agência Fiocruz de Notícias

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