Embora seja mais comum nos Estados Unidos e países da Europa, doença também é identificada no Brasil
Por Alexandre Raith, da Agência Einstein
Apesar de pouco conhecida e diagnosticada no Brasil, a doença de Lyme deveria chamar atenção da população que vive, principalmente, próxima à natureza ou em localidades com o registro de carrapatos. É por meio da picada desses animais que a bactéria Borrelia burgdorferi, causadora da doença, é transmitida aos seres humanos.
Os sintomas podem surgir entre três a 32 dias após o contato e, para que a transmissão aconteça, o carrapato precisa ficar grudado à pele por pelo menos 24 horas, de acordo com informações da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).
Manchas vermelhas em formato de “alvo” chamadas de eritemas migratórios — porque se espalham pelo corpo —são os sinais mais clássicos da condição. O paciente também pode ter febre, mal-estar, dor de cabeça, dor muscular e nas articulações, com duração de semanas ou até mais. Caso não seja tratada, pode se tornar uma condição crônica e levar ao comprometimento do sistema nervoso.
Como os sintomas se confundem com outras condições(reumatismo e febre reumática, por exemplo), é comum que o diagnóstico passe despercebido pelos especialistas. Segundo Paulo José Leme de Barros, membro da SBR e pesquisador da doença de Lyme, não há muitas estatísticas de casos no Brasil, embora não seja considerada rara.
“Na minha tese de doutorado, há 20 anos, relatei apenas 34 casos, em oito anos de estudo. Não é tão raro assim, mas é pouco conhecida pelos médicos, que não costumam fazer o diagnóstico. Já em certas regiões dos Estados Unidos, no auge, chegou a 3% da população”, cita. Entre os norte-americanos, cerca de 30 mil novos casos são reportados anualmente ao Centro de Controle de Doenças.
As espécies de carrapatos que transmitem a bactéria em outros países são diferentes das versões brasileiras e, segundo Barros, isso influencia nos sintomas. “Nos Estados Unidos, os quadros articulares e cutâneos são os mais comuns. Na Europa, os cutâneos crônicos e neurológicos. No Brasil, sobretudo na região Sudeste, é mesclado. Em alguns casos, causa ainda problema cardíaco”, exemplifica. Por aqui, o nome da condição também se adaptou, sendo conhecida como Doença de Lyme símile brasileira ou síndrome de Baggio-Yoshinari.
Nova abordagem de tratamento
Uma vez diagnosticada a doença, o tratamento é feito, atualmente, com antibióticos de amplo espectro – que atuam contra uma grande variedade de bactérias. Por essa ação, afetam a microbiota intestinal dos pacientes e favorecem a resistência bacteriana. Em um artigo publicado na revista científica Cell, pesquisadores norte-americanos sugerem uma nova abordagem.
Como a bactéria causadora da Lyme é conhecida, eles avaliaram quais antibióticos poderiam combater apenas ela e chegaram ao antimicrobiano Hygromycin A. Embora fosse conhecido desde a década de 1950, esse antibiótico não havia demonstrado grandes efeitos contra agentes infecciosos comuns, mas teve uma ação significativa contra a B. burgdorferi, em um estudo feito em animais.
Além de ser uma alternativa ao tratamento, os pesquisadores consideram que o achado poderia erradicar a doença de Lyme. Por enquanto, o fator mais importante para o tratamento da condição é o tempo.
“Geralmente, quanto mais precoce o início do tratamento, maior a chance de cura. Na forma crônica (longa duração da doença), às vezes cria-se uma resistência [ao tratamento], o que provoca uma manifestação cardíaca e imunológica. Além do uso de antibióticos, tem de fazer tratamento imunossupressor, principalmente em pacientes que apresentam um quadro articular crônico”, explica Paulo Barros, pesquisador de Lyme.
Como se proteger?
Exterminar todos os carrapatos não é uma solução viável, mas usar roupas fechadas quando for a áreas de mata é uma forma preventiva, de acordo com dados da SBR. Isso inclui calças compridas colocadas dentro das botas, camisas de manga comprida e optar por roupas claras, para que a busca pelo carrapato fique mais fácil.
“Uma dica é colocar uma faixa de vaselina do lado de fora da bota, que ajuda a dificultar a migração do carrapato. O importante é observar bem o corpo na hora do banho. Se tirar [o animal] da pele nas primeiras 12 horas, com uma pinça, a chance de pegar a doença é baixa”, sugere Barros.
Se aparecerem lesões avermelhadas no local da picada, e elas estiverem aumentando de tamanho, é importante buscar atendimento médico para iniciar o tratamento com antibióticos.