Droga experimental é promessa contra câncer de pulmão, cólon e outros


Pesquisadores europeus desenvolveram uma molécula que se mostrou promissora no controle do câncer de pulmão, intestino e pâncreas. O fármaco, conhecido como Omomyc, conta com uma miniproteína batizada de OMO-103, que tem se mostrado capaz de frear o avanço de certos tipos de tumores sólidos de difícil tratamento, segundo resultados do estudo de fase 1, a primeira etapa de testes em humanos.

Graças ao estudo do genoma humano, nas últimas décadas pesquisadores têm sido capazes de identificar muitos alvos para drogas contra tumores causados por mutações específicas. Estas muitas vezes ocorrem em genes que codificam proteínas responsáveis pelo controle do ciclo celular, que podem levar ao crescimento desregulado que configura um câncer.

Uma proteína particularmente importante para a divisão celular em muitos tecidos diferentes do corpo é conhecida como Myc, e sua expressão é regulada pelo gene de mesmo nome. A importância dessa proteína ficou evidente na década de 1990 devido a extensos estudos. Um dos pesquisadores mais proeminentes nessa área foi Gerard Evans, que hoje é professor da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ele mostrou que diferentes comportamentos demonstrados pela proteína podem levar à proliferação de células cancerígenas e à morte celular.

Pesquisadores da farmacêutica Peptomyc e do Instituto de Oncologia Vall d’Hebron, na Espanha, se uniram a Evans e desenvolveram a miniproteína OMO-103, capaz de atingir o núcleo de células e inibir o gene Myc.  Experimentos de laboratório em camundongos já haviam demonstrado que a OMO-103 controla o fluxo de informações de muitas mutações encontradas no câncer, que podem impulsionar a divisão celular alimentada pelo Myc e o crescimento de tumores.

Estudo com 22 pacientes

Os resultados do estudo de fase 1 foram apresentados no 34º Simpósio EORTC-NCI-AACR sobre Alvos Moleculares e Terapêutica do Câncer em Barcelona, nesta sexta-feira (28). O estudo incluiu 22 pacientes com câncer de tumor sólido avançado, incluindo câncer de pâncreas, intestino e pulmão de células não pequenas, que haviam sido tratados anteriormente com diferentes regimes. Os participantes receberam doses distintas de OMO-103 uma vez por semana por infusão. As tomografias computadorizadas concluídas na terceira semana mostraram que os cânceres pararam de crescer em oito deles.

Destes pacientes, dois tinham câncer de pâncreas, três tinham câncer de cólon, um tinha câncer de pulmão de células não pequenas, um tinha uma forma de sarcoma e outro tinha câncer de glândula salivar. Um paciente com câncer de pâncreas apresentou redução tumoral de 8% após seis meses. O tratamento mostrou apenas efeitos colaterais leves, principalmente devido à infusão da proteína. Os participantes relataram calafrios, febre, náuseas, erupções cutâneas e hipotensão (pressão arterial baixa). Essas reações foram mais graves com as doses mais altas, mas todas foram facilmente tratáveis com medicação.

Próximos passos

O próximo passo, para os pesquisadores, é ver como a OMO-103 funciona em combinação com outros medicamentos contra o câncer, segundo reportagem do site MedicalNewsToday: “Agora que mostramos que o Omomyc é tão seguro na fase 1 e também tem sinais claros de atividade, queremos expandir seu uso para mais pacientes, é claro. E o próximo passo seria testá-lo em combinação com o tratamento padrão. Qualquer novo medicamento precisa ser eventualmente aprovado e usado em combinação com as terapias atuais, nenhum novo medicamento é usado sozinho”, explicou a pesquisadora Laura Soucek, da Peptomyc.

Ela acredita que a molécula tenha uma relevância particular para pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas e de pâncreas, embora possa ser útil para muitos outros tipos que envolvem a atividade da proteína Myc. A droga é considerada incomum, pois não tem como alvo a mutação presente no câncer, mas, sim, o mecanismo que conduziu as mutações do câncer.

Genes e mutações

Em países como os EUA, as taxas de mortalidade por câncer vêm diminuindo nos últimos 20 anos, tendo encolhido 27% entre 2001 e 2020, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Isso se deve a uma melhoria tanto nos procedimentos de diagnóstico quanto nos tratamentos disponíveis e uma abordagem cada vez mais precisa para o tratamento do câncer possibilitada pelo sequenciamento de genes de tumores para ver quais genes sofreram mutações e estão causando câncer.

No Brasil, segundo a OMS, são quase 600 mil pessoas que, por ano, desenvolvem câncer. Os tipos mais comuns são os de próstata, de mama, colorretal, pulmão e tireoide. Alguns carregam um risco de morte maior do que outros, como câncer de pulmão, pâncreas e colorretal.

 

DOUTOR JAIRO / UOL

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