Por mais que ambos os diagnósticos estejam associados a falta de motivação e dificuldade em focar a atenção, condições tem características diferentes — inclusive entre sexos
“Cassie” é uma adulta ansiosa. Ela se estressa e adia tarefas que deveriam ser simples. Ver os outros terem sucesso faz com que ela se sinta inadequada. É mais fácil evitar desafios do que correr o risco de falhar novamente. Ela já tomou medicação para ansiedade, mas não ajudou muito.
Este exemplo hipotético ilustra uma situação que muitas pessoas enfrentaram. A mídia social está repleta de histórias de pessoas que, sem sucesso, tomaram remédios para ansiedade e agora estão se perguntando sobre um possível TDAH [Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade] não diagnosticado.
Então, como saber se é ansiedade ou TDAH, ou ambos? E por que isso importa?
TDAH e ansiedade podem caminhar juntos
Ansiedade e depressão podem imitar o TDAH. Ambos podem estar associados a falta de motivação e dificuldade em focar a atenção. Por outro lado, um padrão de atrasos, perda de prazos e esquecimento de compromissos devido ao TDAH pode levar à ansiedade e à sensação de fracasso.
Ansiedade e depressão são comumente associadas ao TDAH, principalmente em mulheres. A ansiedade tende a ser mais grave e persistente e inicia mais cedo em pessoas com TDAH.
A ansiedade generalizada apresenta sintomas como preocupação frequente e excessiva com diversos aspectos da vida (como trabalho, escola e família). A preocupação pode ser difícil de controlar. Inquietação, fadiga, irritabilidade e problemas de sono são comuns.
Para alguns, a ansiedade pode ser controlada por meio de terapia, técnicas de atenção plena, uma mudança na vida ou no trabalho e/ou medicação. Para outros, nenhum tratamento de ansiedade parece ajudar. Os problemas persistem. Para essas pessoas, pode valer a pena investigar se o TDAH não diagnosticado é uma possibilidade.
O tratamento bem-sucedido do TDAH coexistente pode, para alguns, ser a melhor maneira de obter alívio da ansiedade crônica.
TDAH poderia ser um fator?
O TDAH costuma ser sutil em meninas e mulheres, que têm menor probabilidade de mostrar o comportamento hiperativo perturbador que chama a atenção para o TDAH em homens e meninos.
Isso é importante porque as mulheres com TDAH apresentam taxas mais altas de depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e do sono.
Antigos relatórios de escola podem dar pistas reveladoras, como:
“Cassie passa mais tempo socializando do que trabalhando. Ela é capaz, mas frequentemente se distrai e não está alcançando seu potencial”.
Os pais de “Cassie” podem se lembrar de ter ouvido tais comentários dos professores. Ela pode se lembrar de se sentir entediada na aula e de olhar pela janela em vez de ouvir e se concentrar.
No entanto, nem todos os adultos com TDAH apresentaram sinais na infância.
TDAH em adultos
O TDAH é geralmente diagnosticado de acordo com os critérios da Associação Americana de Psiquiatria. Problematicamente, esses critérios exigem que, para ser diagnosticado com TDAH, um adulto precisa ter experimentado dificuldades antes dos 12 anos de idade. Contudo, alguns estudos já identificaram o TDAH em adultos que não apresentavam evidências quando avaliados previamente na infância.
E essa condição é geralmente avaliada em adultos como se fosse uma continuação da condição da infância. Os critérios diagnósticos – como interromper, ficar inquieto, não completar tarefas, perder coisas, esquecer coisas – são derivados de observações em crianças.
Quando aplicados a adultos, esses critérios ainda se referem ao comportamento visto de fora por um observador. Eles perdem a profundidade e o entendimento que um adulto pode fornecer sobre seu mundo interior e sua mente dentro da sua autopercepção.
Uma mulher sem histórico de problemas relacionados ao TDAH na infância e sem sinais evidentes de inquietação ou hiperatividade pode, aparentemente, ter “vencido” o TDAH, especialmente se ela desenvolveu habilidades de enfrentamento para aparentemente permanecer no caminho certo.
Ela pode se sentir estigmatizada por aqueles que acreditam que o TDAH está sendo autodiagnosticado em adultos que buscam tratamento e são excessivamente influenciados pelas mídias sociais.
Suspeitei de TDAH, e agora?
Se você suspeita que tem a doença, mas consegue viver bem, provavelmente não precisa de um diagnóstico. Você só deve considerar um diagnóstico de TDAH se estiver enfrentando dificuldades significativas.
Isso pode significar desorganização, ineficiência, dificuldade nos relacionamentos, no trabalho ou na família, ou depressão e ansiedade tão seversa que afetam sua capacidade de funcionamento.
Para ser avaliado quanto ao TDAH, você precisará de um encaminhamento de um psiquiatra. No entanto, muitas pessoas que externamente parecem estar lidando bem podem achar difícil convencer um clínico geral de que uma avaliação é necessária.
Você pode trazer cópias dos relatórios escolares se eles sugerirem TDAH. Listas de verificação com critérios de TDAH podem ajudar, mas não podem diagnosticar ou excluir o TDAH com segurança.
Descrições claras das dificuldades que você experimenta ao tentar uma tarefa mentalmente exigente podem ajudar. Isso pode incluir lapsos repetidos de atenção ou ter que realizar várias tarefas ao mesmo tempo para fornecer estímulo suficiente para continuar trabalhando.
Você pode detalhar, por exemplo, o número médio de minutos por hora do seu dia de trabalho em que você está realmente trabalhando de forma produtiva ou quanto tempo você pode se concentrar em uma tarefa difícil antes de perder a concentração. Com que frequência você se distrai? Quanto tempo leva para voltar à tarefa? Que estratégias você já tentou?
Um diagnóstico de TDAH pode ser um alívio para alguns, que podem descobrir que o tratamento ajuda a aliviar problemas que anteriormente atribuíam à ansiedade. Também pode fornecer uma explicação para as dificuldades passadas atribuídas à inadequação pessoal.
Os tratamentos de TDAH podem incluir medicamentos, aprender mais sobre isso, desenvolver novas estratégias, aconselhamento ou ter um terapeuta.
*Alison Poulton é pediatra especializada no tratamento de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e palestrante no Centro de Cérebro e Mente da Universidade de Sydney, na Austrália.
Este artigo foi publicano originalmente em inglês no site The Conversation.
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