Teste se mostrou confiável na distinção entre pessoas saudáveis e aquelas com endometriose sintomática confirmada, mesmo numa fase inicial da doença
A endometriose é uma condição comum, que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo. Mas obter um diagnóstico correto pode ser uma jornada difícil que leva anos. Agora, um grupo de investigadores australianos deu um passo em direção a um exame de sangue inovador para a doença, que poderia ser a solução não invasiva que tantos esperavam.
A base do diagnóstico atualmente é a cirurgia laparoscópica. Uma câmera é inserida no abdômen através de uma pequena incisão, para dar aos médicos uma visão mais clara de qualquer tecido anormal que possa estar crescendo ali. Outras ferramentas de diagnóstico incluem a realização de ultrassom transvaginal e ressonância magnética, desde que feitos por profissionais especificamente treinados.
No entanto, a maioria das mulheres com a condição leva anos para ser diagnosticada.
“Atualmente, [na Austrália] leva em média sete anos para uma mulher receber um diagnóstico e, durante esse período, ela apresenta sintomas significativos que afetam a vida, seus anos de fertilidade estão diminuindo e a endometriose está se espalhando”, diz o professor Peter Rogers, autor sênior do novo estudo, em comunicado.
Idealmente, um simples exame de sangue poderia identificar a doença muito mais cedo e de forma não invasiva. É isso que a equipe está desenvolvendo. Em um estudo publicado recentemente na revista científica Human Reproduction os pesquisadores descreveram um teste que identifica 10 proteínas que podem indicar a presença de endometriose.
São todas proteínas que desempenham algum papel na doença, como na resposta imunológica ou na coagulação sanguínea. Os resultados mostraram que o teste era confiável na distinção entre pessoas saudáveis e aquelas com endometriose sintomática confirmada, mesmo numa fase inicial da doença
“O exame de sangue, chamado PromarkerEndo, pode reduzir significativamente o custo e a quantidade de tempo normalmente gasto na tentativa de resolver a causa dos sintomas sofridos por mulheres e meninas ao longo dos anos, muitas vezes desde o início da menstruação”, explica o médico Richard Lipscombe, coautor do estudo.
“Um exame de sangue é mais rentável para os pacientes e para o sistema de saúde do que o uso atual de ultrassonografias, laparoscopias invasivas, ressonâncias magnéticas e biópsias para diagnosticar a endometriose, e estão em andamento trabalhos para fortalecer a robustez e a confiabilidade do novo teste para uso clínico” acrescenta Lipscombe.
Com mais alguns testes e desenvolvimento, os autores esperam que o seu estudo nos tenha trazido um passo mais perto de uma nova ferramenta de diagnóstico muito necessária para uma condição que afeta o sistema reprodutor feminino.
Endometriose
Durante um ciclo menstrual normal, o tecido endometrial no interior do útero fica mais espesso em preparação para a fertilização e implantação de um óvulo, segundo informações do IFL Science. Se não ocorrer gravidez, esse revestimento é eliminado durante o período menstrual. Em pessoas com endometriose, assim como esse crescimento de tecido dentro do útero a cada mês, tecido semelhante pode crescer ao redor de outros órgãos do corpo.
Frequentemente, o revestimento da pelve (peritônio) e órgãos próximos, como ovários, intestino e bexiga, são afetados; também é possível encontrar endometriose em locais mais distantes como dentro do tórax.
Algumas pacientes são afetadas desde o primeiro ciclo menstrual até a menopausa. Os sintomas podem ter um impacto significativo na qualidade de vida e incluem dores intensas, menstruações intensas, problemas intestinais e de bexiga, fadiga e dificuldade para engravidar. Apesar de quão debilitante possa ser e quão comum seja, as pacientes com suspeita de endometriose podem esperar anos por um diagnóstico.
Jornal O Globo