Casos da doença aumentam no mundo todo; diagnóstico precoce e tratamento adequado evitam perda de funções
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
O recente diagnóstico de esclerose múltipla de uma atriz de 49 anos causou surpresa em muita gente que ainda associava a doença a idosos extremamente comprometidos em suas capacidades físicas e mentais. Mas, na realidade, a esclerose múltipla é uma das principais causas de incapacidade neurológica em adultos jovens, já que costuma dar seus primeiros sinais entre os 20 e os 40 anos de idade, às vezes até um pouco antes.
A doença tem acometido cada vez mais gente: de 2013 para cá, os casos saltaram de 2,3 milhões para 2,8 milhões em 2020 no mundo todo, de acordo com o 3º mapeamento mundial de casos registrados na Federação Internacional de Esclerose Múltipla. Com diagnóstico precoce e os tratamentos atuais, a pessoa pode levar uma vida praticamente normal, evitando a perda de funções.
A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o cérebro e medula espinhal em que, por algum motivo, o próprio organismo ataca a bainha de mielina, a capa de gordura que protege os nervos. A perda dessa proteção compromete a transmissão dos impulsos nervosos, o que leva a sintomas como formigamentos, visão embaçada, tonturas, entre muitos outros. “Há uma inflamação e uma degeneração ao mesmo tem poque vai afetando os impulsos nervosos que controlam o organismo”, explica o neurologista Rodrigo Thomaz, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Embora não se conheça exatamente a causa, sabe-se que há uma predisposição genética que é disparada por fatores ambientais tão diversos quanto o vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose, e a falta de sol. Isso explica, inclusive, a sua maior incidência em países europeus, que têm menor incidência de radiação solar.
Uma vez instalada, a doença se torna crônica. “Ela tem um padrão cíclico, com episódios agudos e períodos de melhora”, explica Thomaz. Na enorme maioria dos casos, surge em forma de surtos com sintomas que variam muito de pessoa para pessoa, inclusive em intensidade e agressividade. No período entre os surtos, a doença continua lá e, com os anos, vai se tornando progressiva. Sem o devido controle, pode levar à perda total das funções.
“Tempo é cérebro”, lembra Thomaz. “Por isso, quanto mais precoce o diagnóstico, melhor. Assim é possível traçar estratégias com o uso de medicamentos para diminuir a atividade inflamatória que agride o cérebro”, explica. O objetivo é evitar que a doença se desenvolva e controlar os surtos.
Por isso vale prestar atenção aos sintomas que os pesquisadores agora chamam de “fase prodrômica”, um período de 5 a 10 anos onde sintomas comuns a outras condições aparecem antes do primeiro surto clínico bem definido da doença, principalmente em adolescentes e adultos jovens.
Esses sintomas podem ser físicos como fadiga, dor, crises frequentes de cefaleia, infecções recorrentes. Mas também podem ser cognitivos, como perda de memória e atenção, ou até emocionais, como depressão e ansiedade. Na dúvida, vale investigar. A ressonância magnética e outros exames laboratoriais como o do líquorsão capazes de diagnosticar a esclerose múltipla.