Especialista também recomenda a necessidade de acompanhamento de gestantes portadoras destes vírus para prevenir a transmissão da mãe para o bebê
Se as doenças infecciosas já são naturalmente motivo para preocupação, durante a gravidez elas tendem a trazer ainda mais tensão e as hepatites virais são importantes neste contexto. Um estudo realizado pelo médico tocoginecolgista Dr. Geraldo Duarte, presidente da Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas da FEBRASGO, revela que mulheres infectadas por hepatites virais têm risco aumentado de transmitirem esses vírus para o bebê durante a gravidez nos casos em que não há um acompanhamento médico adequado durante o pré-natal. “Estamos falando de infecções com elevadas taxas de morte, já que as hepatites virais A, B e C são responsáveis por mais de 1,34 milhão de óbitos anualmente em todo o mundo, dos quais 66% são decorrentes da hepatite B, 30% da hepatite C e 4% da hepatite A”. explica Dr. Geraldo.
O mês de julho, instituído como o de prevenção às hepatites virais – conhecido como “Julho Amarelo” – tem o objetivo de reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle das infecções virais que acometem o fígado. Para chamar a atenção ao tema, o especialista enfatiza a necessidade de aguçar o olhar do cuidado para as gestantes, principalmente, durante o pré-natal. O tratamento das hepatites varia bastante, principalmente de acordo com o agente que a provoca (vírus, hepatite autoimune, tóxico). Independente da causa, o tratamento das hepatites deve sempre seguir orientações médicas.
A hepatite viral consiste na presença de inflamação das células do fígado. Pode apresentar várias etiologias associadas, nomeadamente vírus (Hepatite A, Hepatite B, Hepatite C, Hepatite D, Hepatite E), sendo que, no Brasil, os tipos A, B e C são os mais comuns.
Nos casos da gestante com hepatite viral o maior temor é que a infecção comprometa a saúde do bebê e, de acordo com o artigo, o risco de transmissão vertical pode chegar a 90% nos casos da hepatite B replicante se não houver acompanhamento e tratamento adequado. Na sua forma crônica, geralmente é assintomática, porém, corre o risco de evoluir para insuficiência hepática crônica, cirrose e hepatocarcinoma – tipo de câncer primário do fígado. “Uma das nossas preocupações é a mulher grávida portadora da hepatite B, visto que este vírus apresenta a taxa mais elevada de transmissão da mãe para o seu bebê”, ressalta o Dr. Geraldo Duarte. Na sequência ele complementa: “no entanto, a contaminação pode ser evitada se a mulher tomar a vacina contra a hepatite B antes de engravidar, ou o mais rápido possível após o diagnóstico da gravidez. Além disso, com carga viral elevada, o uso de medicamento adequado e receitado por um especialista consegue reduzir a carga viral”.
Segundo o estudo, em relação à hepatite causada pelo vírus C, foi observado que aproximadamente de 50% a 85% das pessoas evoluem para a forma crônica da doença. O risco de a mãe infectar o bebê varia de 3,8% a 7,8%, taxas que dependem da carga viral. Já a hepatite tipo A, que acomete mais crianças em regiões onde o vírus endêmico, é considerada uma das mais brandas e com elevadas taxas de cura. Sua taxa de transmissão vertical é muito baixa devido ao curto período de viremia e aos cuidados com o parto vaginal. Embora cada tipo viral apresenta características diferentes, o especialista recomenda a amamentação em todos os casos de hepatite A, B e C.
Os resultados do estudo estão descritos no artigo Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: hepatites virais, publicado pelo Dr. Geraldo Duarte e colaboradores.
Duarte G, Pezzuto P, Barros TD, Mosimann Junior G, Martínez-Espinosa FE. Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: hepatites virais [Brazilian Protocol for Sexually Transmitted Infections 2020: viral hepatitis]. Epidemiol Serv Saude. 2021;30(spe1):e2020834
Tipos de hepatites virais
Hepatite A: também chamada de hepatite infecciosa, causada por um vírus transmitido pela ingestão de alimentos ou água contaminados. Ela é autolimitada, não evolui para doença crônica e tem na vacina sua principal forma de controle. Seu período de incubação varia de 15 a 50 dias e é assintomática em 70% dos adultos.
Hepatite B: é a mais grave das três e pode se tornar crônica. Transmitida pela transfusão de sangue ou contato com agulhas contaminadas, ela aumenta os riscos de câncer no fígado. Na forma aguda, cerca de 70% dos casos apresentam a forma subclínica – que não produz manifestações ou efeitos detectáveis por meio de exames – e 30% a forma ictérica – evolução grave da doença.
Hepatite C: também é transmitida por agulhas contaminadas e transfusão de sangue.
Sintomas:
Os sinais e sintomas podem variar de acordo com o tipo de hepatite, da gravidade da doença e do seu tempo de evolução. No entanto, os sintomas mais comuns são:
- Cansaço
- Náuseas
- Falta de apetite
- Icterícia (coloração amarelada da pele ou na parte branca dos olhos
- Febre, em alguns casos
- Urina de cor escura
- Fezes de cor clara