Um levantamento conduzido pela Universidade Pompeu Fabra e pela Universitat Oberta de Catalunya, na Espanha, revelou que plataformas como TikTok e Instagram exercem um impacto mais negativo sobre a saúde mental de meninas adolescentes do que sobre meninos da mesma faixa etária.
O estudo envolveu 1.043 jovens entre 12 e 18 anos, sendo 50,5% meninas e 49,5% meninos. Os adolescentes foram convidados a avaliar o impacto das redes sociais em nove aspectos da vida pessoal, emocional e social, atribuindo notas de 0 (muito negativo) a 5 (muito positivo). Nos critérios de bem-estar psicológico e percepção de si, as meninas registraram médias mais baixas que os meninos. Enquanto elas avaliaram o impacto com nota 2,99, os meninos atribuíram uma média 3,13.
Além da diferença estatística, os pesquisadores observaram que o tipo de conteúdo entregue pelos algoritmos contribui para essa disparidade. As meninas relataram maior exposição a conteúdos sobre aparência, moda e estética corporal, o que está diretamente associado à comparação social, insegurança e baixa autoestima.
Especialista comenta: “Não é sobre fragilidade emocional, é sobre pressão ambiental desproporcional”

foto: divulgação
O pós-PhD neurocientista e filósofo Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, que estuda o impacto das tecnologias no desenvolvimento humano, comenta:
“Não é que meninas sejam mais frágeis — é que são mais bombardeadas por um tipo de conteúdo que estimula a autopercepção constante. O algoritmo não é neutro: ele lê padrões de engajamento e, no caso das meninas, entrega mais frequentemente conteúdos voltados ao corpo, status social e validação externa.”
Segundo o pesquisador, essa exposição cria uma pressão silenciosa:
“Meninas crescem sendo observadas — e agora também precisam se observar para serem vistas. Isso intensifica a autoconsciência corporal e emocional em plena fase de formação da identidade. É como pedir que uma mente em desenvolvimento seja julgada como produto.”
Uma diferença que começa nos estímulos, não no cérebro
Dr. Fabiano também aponta que o padrão de uso entre meninas é mais intenso, focado em redes visuais e de comparação, enquanto os meninos tendem a se engajar mais com jogos, vídeos ou interações mais pragmáticas:
“As meninas fazem da rede social uma extensão emocional e identitária. Os meninos muitas vezes usam como distração. O que diferencia o impacto não é o uso em si, mas o tipo de espelho que cada um encontra ao acessar.”
O que fazer? Educação emocional e crítica digital
Os autores do estudo defendem que a solução não está apenas em limitar o uso das redes, mas em preparar emocionalmente os jovens para lidar com elas. Isso inclui:
• Desenvolver pensamento crítico digital
• Fortalecer a autoestima fora das redes
• Reduzir a dependência da validação virtual
• Educar sobre algoritmos e manipulação de conteúdo
Para o Dr. Fabiano:
“Temos que deixar de tratar o jovem como um simples receptor. Ele precisa ser treinado como um agente diante da tecnologia: alguém que entende o jogo e decide como jogar.”