Fumo passivo
Há que pense que apenas fumantes correm risco de problemas de saúde, como câncer e doenças cardíacas. Mas os não-fumantes também são afetados, seja por conviver em ambientes e com fumantes ou o contato com superfícies internas onde um fumante esteve presente.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a fumaça do tabaco contém mais de 4.000 produtos químicos conhecidos, muitos dos quais são prejudiciais, com pelo menos 40 que causam câncer.
O fumo passivo é uma mistura da fumaça da ponta acesa de um cigarro e a fumaça exalada por um fumante. Quando ele contamina o ar, especialmente em espaços fechados, é inalado por todos, expondo fumantes e não fumantes aos seus efeitos nocivos.
Isso pode ser a causa de câncer de pulmão em não fumantes e aumentar o risco de doença cardíaca coronária. Embora a maioria dos fumantes sejam homens, muitas mulheres e crianças são afetadas pelo fumo passivo.
Os dados da OMS mostram que em todo o mundo, o fumo passivo causa cerca de 600 mil mortes prematuras por ano, a maioria (64%) entre mulheres.
No entanto, mesmo aquele que não inala a fumaça, e esteja exposto à uma superfície contaminada pelo fumo também, também pode correr risco dessas doenças.
Anteriormente, cientistas do Berkeley Lab descobriram que a nicotina em aerossol, liberada durante o ato de fumar e vaping, é adsorvida em superfícies internas, onde pode interagir com um composto presente no ar interno chamado ácido nitroso (HONO) — um componente comum do ar interno — para formar compostos altamente cancerígenos chamados nitrosaminas específicas do tabaco (TSNAs).
A nicotina acumulada em superfícies domésticas pode gerar continuamente TSNAs, muito depois que a fumaça se ampliar pelo ambiente.
Risco à saúde pelo fumo de terceira mão
As TSNAs entram no corpo através de várias vias. O estudo estimou algumas doses por inalação e ingestão de poeira usando concentrações de ambientes internos com TSNAs.
A equipe se concentrou nas exposições dérmicas, que são mais difíceis de medir e para as quais há muito menos informações.
Essas exposições dérmicas podem ocorrer diretamente através do contato da pele com ar poluído ou uma superfície contaminada que abriga TSNAs – por exemplo, enquanto dorme em lençóis esfumaçados.
Mas eles também podem ocorrer via química epidérmica, quando a nicotina já instalada na pele reage com o HONO ambiental para formar TSNAs diretamente na superfície do corpo.
O químico Hugo Destaillats, do Berkeley Lab e principal autor do estudo, disse em um comunicado que a equipe integrou “novas informações produzidas na última década com nossos resultados mais recentes, para estimar as doses diárias a que as pessoas podem estar expostas quando vivem em casas contaminadas com fumo de terceira mão”.
Os pesquisadores descobriram que a presença de óleos da pele e suor nas superfícies do modelo avaliado levou a um maior rendimento de TSNAs na presença do ácido nitroso, em comparação com superfícies limpas.
“A nicotina é liberada em grandes quantidades durante o ato de fumar e reveste todas as superfícies internas, incluindo a pele humana”, disse Xiaochen Tang, que liderou os esforços experimentais do Berkeley Lab no Indoor Environment Group.
Três TSNAs diferentes foram formados nesta reação, dois dos quais (chamados pelas siglas NNK e NNN) são carcinógenos conhecidos. Há menos informações toxicológicas para o terceiro, NNA, que não está presente na fumaça do tabaco. Por esse motivo, o estudo incluiu uma avaliação in vitro (ensaios feitos em laboratórios com equipamentos geralmente de vidro).
Os pesquisadores avaliaram então, o efeito toxicológico da NNA em células pulmonares cultivadas em laboratório. “O contato com o NNA levou a danos no DNA, incluindo quebras de fita dupla, o resultado genotóxico mais deletério”, disse Bo Hang, co-autor da Área de Biociências do Berkeley Lab.
Efeitos das substâncias na pele
Para entender melhor as exposições das substâncias na pele, um grupo pesquisadores do Consórcio da Universidade da Califórinia Riverside e da UC San Francisco avaliaram como o composto NNK e a nicotina penetram na pele de camundongos.
A coautora Manuela Martins-Green, da UC Riverside, apontou que “nas condições experimentais utilizadas, a análise dos metabolitos na urina do rato mostrou que, para ambos os compostos, o contacto dérmico direto resultou na acumulação e circulação no organismo por sete dias após a descontinuação da exposição dérmica.”
A análise mostrou que a exposição através de todas essas vias – inalação, ingestão de poeira e absorção dérmica – sob condições internas típicas pode resultar em doses do composto NNK que excedem as diretrizes de saúde conhecidas como “Níveis de Risco Não Significativos” estabelecidos pelo Escritório de Risco de Saúde Ambiental da Califórnia.
Essas exposições cumulativas podem contribuir para um risco elevado de câncer. As vias de exposição dérmica contribuem significativamente para a ingestão de TSNA em níveis que podem ser comparáveis ou até superiores à inalação.
De acordo com Neal Benowitz, professor da UCSF e coautor do estudo, “essas descobertas ilustram os potenciais impactos à saúde do fumo de terceira mão, que contém não apenas TSNAs, mas centenas de outros produtos químicos, alguns dos quais também são conhecidos como cancerígenos”.
Como próximo passo, os pesquisadores afirmaram que vão explorar com mais detalhes os mecanismos de “efeitos adversos à saúde associados aos resíduos de tabaco e cannabis, estratégias eficazes de remediação e tradução de descobertas científicas para a prática de controle do tabaco”.
CNN BRASIL