Fazer sexo, não usar o Waze, ir ao supermercado sem lista: 7 práticas simples que protegem o cérebro de demências


Exercícios para a mente podem estimular o órgão e postergar o envelhecimento cerebral, afirmam especialistas

foto: freepik

Há fatores como boa alimentação, sono suficiente e prática de atividades físicas que são bem estabelecidos para prevenir casos de demência, síndrome que engloba diferentes diagnósticos que causam declínio cognitivo, com a doença de Alzheimer como o principal deles.

Porém, em meio a rotinas cada vez mais automatizadas, é comum ouvir queixas como desatenção, lapsos de memória, lentidão no raciocínio, dificuldade de concentração, entre outras, que não necessariamente configuram o início de uma demência, mas já revelam um desempenho cognitivo aquém do desejado.

Neste contexto, há exercícios que estimulam o cérebro para trabalhar a neuroplasticidade, capacidade de o sistema nervoso criar novas conexões neuronais. É o que explica o neurocientista e neurocirurgião Fernando Gomes, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP):

— Hoje, como vivemos muito com a facilidade dos aplicativos, às vezes qualquer perda cognitiva é percebida de forma muito tardia e a oportunidade de trabalhar a neuroplasticidade é perdida. Mas existem exercícios que trazem essas práticas para o dia a dia como uma excelente estratégia de proteção mental contra um possível declínio ao longo da vida.

Rogério Panizzutti, diretor do Laboratório de Neurociência e Aprimoramento Cerebral (LabNACE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que estimular a chamada reserva cognitiva é “jogar essa barreira da perda de funcionalidade para cima, trabalhando o cérebro ao longo da vida”.

— A herança genética existe, mas o estilo de vida pode influenciá-la. Então ter consciência disso é importante para não deixarmos de cuidar da saúde, de buscar fortalecer o cérebro. Tudo que nos mantêm ativos socialmente e intelectualmente é muito bem-vindo — complementa Lívia Ciacci, neurocientista parceira do Supera Ginástica para o Cérebro.

1. Voltar para casa sem ajuda de aplicativo

Gomes conta que a desorientação espacial é uma queixa comum de pessoas que começam a viver uma perda das funções cerebrais. Por isso, defende que “estimular essa habilidade para pessoas saudáveis por meio da cidade é uma boa estratégia”.

Uma maneira é conhecer um lugar novo, como um museu, um cinema, uma praça, e voltar de transporte público sem o auxílio de aplicativos que indiquem o trajeto para casa. A ideia é que seja algo que demande esforço para se localizar geograficamente e pensar em rotas que podem ser utilizadas.

2. Abaixar o volume dos fones de ouvido

Em julho, um novo relatório da comissão especializada em demência da revista científica The Lancet destacou os fatores de risco que contribuem para quase 50% dos casos de demência no mundo. Entre os que mais influenciaram estava a perda auditiva, em cerca de 7% do risco.

— É um aspecto que tem sido pouco falado, mas é talvez um dos mais cruciais. Pessoas que têm perda auditiva a partir da idade adulta têm um risco muito aumentado para Alzheimer e outras demências. A boa notícia é que o uso de aparelhos auditivos faz esse risco aparentemente desaparecer. E é de fato impressionante, vemos que a pessoa começa a interagir melhor, fica menos isolada, então tudo melhora — conta Panizzutti.

3. Fazer as compras sem lista

— Geralmente as pessoas vão ao mercado ou à farmácia e mandam os itens pelo WhatsApp ou escrevem uma lista. Mas uma ideia prática para exercitar a memória é tentar encontrar todos os itens de que precisa sem consultar nada. No final, antes de ir embora, pode consultar a lista para garantir que pegou tudo. Na correria do dia a dia é difícil, mas se propor a fazer isso leva a exercitar de uma maneira muito orgânica a própria memória — recomenda Gomes.

4. Aprender um instrumento musical

Engana-se quem pensa que aula de música é só para crianças. Aprender coisas novas, como idiomas, artes manuais e instrumentos musicais são ótimas formas de estimular o cérebro, explica Lívia:

— A música é intelectualmente desafiadora ao extremo. Porque com essas atividades, se você fica sempre no mesmo nível, deixa de ser bom para o cérebro. E com um instrumento, todo dia há um acorde novo que a pessoa vai precisar se esforçar mais um pouco para aprender. Envolve memória de trabalho, todos os sentidos do corpo, a coordenação motora. E a recompensa quando a pessoa consegue tocá-la.

5. Fazer sexo e falar sobre os sentimentos

Enquanto o sexo é tópico frequente entre jovens e adultos, há um ideia equivocada de que ele deixa de ser importante, ou até mesmo parte da vida, durante a velhice, alerta Gomes, da USP:

— As pessoas atingem idades mais avançadas e deixam o sexo como algo secundário. Quando ela tem um relacionamento, até se mantém ativa. Mas se não tem, e perpetua o preconceito das gerações anteriores, entende que aquela parte da vida morreu. Mas fazer sexo e se relacionar intimamente é importante para estimular o cérebro, tanto pela sociabilidade, mas também porque implica uma necessidade de saúde física e mental.

6. Sair para dançar

Panizzutti lembra que outro fator de risco apontado pela comissão da Lancet é a solidão na velhice. No ano passado, o cirurgião-geral dos Estados Unidos, principal autoridade de saúde pública do país, Vivek Murthy, publicou um relatório em que comparou o impacto de estar socialmente desconectado ao causado por fumar até 15 cigarros por dia.

— Em muitas sociedades vemos essa questão da solidão crescendo muito. É um problema no mundo inteiro e que está associado a uma chance maior de desenvolver Alzheimer. Então uma coisa prática para pessoas mais velhas é buscar se manter em ambientes sociais. E nesse sentido, uma atividade física que tem ganhado mais destaque na literatura é a dança, porque une esses dois aspectos, o físico e o social — conta o professor da UFRJ.

7. Escrever uma redação por semana

Alta do dólar, eleições nos Estados Unidos, guerra em Gaza, são muitos os assuntos que circulam nos meios de comunicação e nas redes sociais diariamente. Porém, em vez de correr para dar uma opinião rápida numa plataforma digital, Gomes conta que pegar o tema e se aprofundar nele ao longo de uma redação escrita à mão pode estimular o cérebro:

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