Ferramenta on-line ajuda a detectar depressão e outros transtornos


Calculadora baseada no Questionário Breve de Humor e Sentimentos foi desenvolvida por pesquisadores do CISM, um Centro de Pesquisa Aplicada apoiado pela FAPESP

Calculadora Transdiagnóstica SMFQ, de acesso gratuito, foi desenvolvida em estudo que analisou dados de 1.905 jovens, entre 14 e 23 anos, participantes da Coorte Brasileira de Alto Risco para Condições Mentais (imagem: CISM/divulgação)

Agência FAPESP* –Agência FAPESP * – Cientistas ligados ao Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) e a quatro universidades públicas criaram uma calculadora on-line que ajuda a identificar sintomas de depressão e outros transtornos. Baseada em respostas dos usuários aos 13 itens que compõem a escala do Questionário Breve de Humor e Sentimentos (SMFQ, sigla de Short Mood and Feelings Questionnaire), a ferramenta indica probabilidades diagnósticas.

O CISM é um Centro de Pesquisa Aplicada (CPA) financiado pela FAPESP e constituído em parceria com o Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).

A Calculadora Transdiagnóstica SMFQ foi desenvolvida em um estudo que analisou dados de 1.905 jovens, entre 14 e 23 anos, participantes da Brazilian High Risk Cohort (BHRC), a Coorte Brasileira de Alto Risco para Condições Mentais. O projeto é ligado ao CISM e investiga as origens genéticas e ambientais de transtornos mentais. Neste ano, a BHRC está completando 15 anos de atividades.

A escala SMFQ, na qual se baseia a calculadora, visa identificar como uma pessoa está se sentindo ou agindo nas últimas duas semanas. As opções de respostas são “não é verdade”, “às vezes” e “verdade” para perguntas relacionadas ao estado emocional, como “Eu me senti sozinho”, “Eu chorei muito” e “Eu fiz tudo errado”. A ferramenta criada pelos pesquisadores calcula uma pontuação final segundo o peso de cada resposta fornecida.

Os pesquisadores calcularam pontos de corte flexíveis à medida que a pessoa aumenta os seus sintomas. A pontuação é dada em escores-T, medida padronizada que reflete o quão distante uma pessoa está da média de uma distribuição, ou seja, um ponto de referência para análises em relação à média da população. A partir disso, desenvolveram a ferramenta de forma que pudesse refletir, segundo o escore calculado, a probabilidade de se ter um diagnóstico psiquiátrico.

A partir do resultado do escore calculado, a ferramenta indica a probabilidade percentual de enquadramento em diagnósticos como depressão, ansiedade, pânico/agorafobia e estresse pós-traumático. Caso o escore final esteja abaixo dos pontos de corte estabelecidos para as comorbidades, a plataforma indica ausência ou nível muito baixo de sintomas.

O estudo que levou à criação da calculadora, publicado no Journal of Psychiatric Research em agosto, foi conduzido por Gabriele dos Santos Jobim, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e envolveu pesquisadores da USP, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), instituições parceiras do CISM. O coordenador do centro, Euripedes Constantino Miguel, o vice-coordenador, Luis Augusto Rohde, e os pesquisadores da BHRC Rodrigo Affonseca Bressan, Pedro Mario Pan e Giovanni Abrahão Salum também assinam o trabalho, que foi supervisionado por Mauricio Scopel Hoffmann, professor da UFSM e membro do CISM.

Um diferencial da pesquisa é que a calculadora incorpora a Teoria de Resposta ao Item (TRI), uma abordagem estatística que considera que cada item possui um peso diferente – com base em sua dificuldade e discriminação –, gerando, assim, um escore fatorial. Dessa maneira, segundo Hoffmann, a TRI proporciona uma avaliação mais precisa em comparação à Teoria Clássica dos Testes (TCT), que faz uma estimativa a partir da soma bruta dos pontos de cada item.

A calculadora on-line é de uso gratuito e pode auxiliar profissionais de saúde na prática clínica, especialmente em países de baixa e média renda como o Brasil, onde a detecção de transtornos ainda é insuficiente. A ferramenta, que está disponível em português e inglês, ainda democratiza o acesso a métodos estatísticos sofisticados.

“Ao integrar uma calculadora sintomática na prática clínica, profissionais de saúde podem alcançar mais eficiência, visto que a ferramenta automatiza a análise de dados, economizando tempo e recursos”, destaca Hoffmann. “Ela pode ajudar os profissionais de saúde a ajustarem suas avaliações com base na verossimilhança de diagnósticos específicos, ou seja, auxilia na estimativa de probabilidade de um diagnóstico. Isso contribui para a personalização dos cuidados de saúde mental”, explica o professor.

O artigo Clinical properties of the short mood and feelings questionnaire: development of a free calculator based on the Brazilian high-risk cohort study pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0022395625005059.

A Calculadora Transdiagnóstica SMFQ pode ser acessada em: https://mheg.shinyapps.io/mfq-score-main/.

* Com informações de Mainary Nascimento, do CISM.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *