Identificar sinais precocemente ajuda a prevenir perda de funcionalidade mais tarde.
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Não se trata de uma questão estética: a presença da famosa “barriguinha” aliada à perda de força muscular acelera o declínio físico nos idosos – e, com isso, os riscos de problemas mais graves, como quedas e até morte. Embora seja esperado que, com o passar da idade, a pessoa perca força e ganhe peso, esses dois fatores juntos já são um sinal da dificuldade que se aproxima em executar tarefas diárias.
A conclusão é de um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos, no interior paulista, e University College London (Reino Unido), que avaliou dados de quase quatro mil sexagenários britânicos ao longo de oito anos. O artigo foi publicado no “The American Journal of Clinical Nutrition”.
Para chegar ao resultado, os voluntários passaram pelos testes do “Short Physical Performance Battery” (SPPB), que avalia a desempenho físico a partir de parâmetros como velocidade ao caminhar, sentar-se e levantar de uma cadeira e equilíbrio. Nos homens, aqueles que tinham mais gordura no abdômen e menos força nos músculos tiveram uma piora mais rápida durante o período de acompanhamento.
“Já se sabe que esses são sinais precoces do declínio funcional, aumentando o risco de quedas, incapacidade funcional e até óbitos”, explica a fisioterapeuta Roberta Máximo, uma das autoras do estudo.
Ainda que a pessoa não note grandes dificuldades no dia a dia ao tomar banho, se alimentar ou cuidar da casa, por exemplo, essas falhas no desempenho físico já sinalizam um prejuízo funcional. Seria uma espécie de transição até a incapacidade total.
“O processo de declínio funcional é progressivo. Normalmente há um marco, como uma queda, mas quando isso ocorre, já havia perda funcional antes”, diz Tiago da Silva Alexandre, professor do Departamento de Gerontologia da UFSCar e orientador da pesquisa. Identificar esse declínio a tempo pode ser essencial para evitar a incapacidade nas atividades diárias no futuro.
Sabe-se que o pico de massa óssea e muscular é atingido lá pelos 30 anos de idade. Depois, perto dos 40, começa um processo de perda. No caso da força muscular, chama-se dinapenia. Nessa fase, também aumenta o acúmulo de gordura, principalmente na região da cintura. O excesso de tecido adiposo na barriga aliado à perda de força muscular chama-se obesidade abdominal dinapênica.
“Embora sejam processos separados, um exacerba o outro”, diz Roberta.
“Sabe-se que essa gordura é metabolicamente ativa e secreta fatores inflamatórios que facilitam a perda de massa muscular”, explica a geriatra Thaís Ioshimoto, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Atividades aeróbicas e musculação
A boa notícia é que é possível reverter esse processo – se não totalmente, pelo menos em parte. Os idosos devem praticar pelo menos 150 a 300 minutos de atividade aeróbica de intensidade moderada ou pelo menos 75-150 minutos de atividade aeróbica de intensidade vigorosa e se engajar no mínimo duas vezes na semana com os chamados exercícios resistidos, como a musculação.
Também é preciso fazer um acompanhamento de perto, com testes e exames como a densitometria, para avaliar a saúde e capacidade física. Quanto antes começar, melhor.
“O ideal é se cuidar e adotar um estilo de vida saudável bem antes do processo de envelhecimento”, lembra Thais.