Mulher de 42 anos tem histórico de Covid-19 e está se tratando em casa.
O primeiro caso de infecção por mucormicose em um paciente que teve a Covid-19 foi registrado no Rio Grande do Norte. A informação foi divulgada, nesta segunda (7), pela Secretaria Estadual de Saúde Pública (Sesap).
De acordo com a Sesap, a paciente é uma mulher, de 42 anos, de Natal, que fez uma biópsia que confirmou a ocorrência do fungo. Ela encontra-se em tratamento em casa.
“A equipe de vigilância da Sesap está acompanhando o quadro, avaliando os exames, o histórico de movimentações da paciente e sua situação clínica atual”, informou a Sesap em nota.
Um surto de mucormicose entre pacientes de Covid-19 na Índia registrado nas últimas semanas tem chamado a atenção do mundo. Causada por fungos da ordem Mucorales, a doença pode acometer os pulmões e mutilar os seios da face.
O que é mucormicose?
A mucormicose, comumente chamada de “fungo preto”, é uma infecção muito rara.
É causada pela exposição ao fungo mucoso, que faz parte da família Mucoraceae, comumente encontrado no solo, plantas, esterco e frutas e vegetais em decomposição. “É onipresente e pode ser encontrado no solo e no ar e até mesmo no nariz e muco de pessoas saudáveis”, diz Akshay Nair, um cirurgião oftalmologista de Mumbai, na Índia, à BBC.
O fungo afeta os seios da face, o cérebro e os pulmões e pode ser fatal em pessoas com diabetes ou em pessoas gravemente imunossuprimidas, como pacientes com câncer ou pessoas com HIV/AIDS.
2. O que causa a infecção?
Os médicos acreditam que a mucormicose pode ser causada pelo uso de esteroides, que são compostos farmacológicos usados para tratar pacientes graves ou gravemente doentes com Covid-19.
Os esteroides reduzem a inflamação nos pulmões e ajudam a interromper alguns dos danos que podem ocorrer quando o sistema imunológico do corpo se acelera para combater o coronavírus.
Os especialistas acreditam que essa diminuição da imunidade pode desencadear casos de mucormicose.
“O diabetes diminui as defesas imunológicas do corpo e o coronavírus agrava isso, e então os esteroides que ajudam a combater a Covid-19 agem como combustível no fogo”, disse Nair.
3. Quais são os sintomas?
Pacientes que sofrem de infecção por fungos geralmente apresentam sintomas de congestão nasal e sangramento.
Também inchaço e dor nos olhos, pálpebras caídas, visão turva e, no pior dos cenários, perda de um olho. Pode haver manchas pretas na pele ao redor do nariz.
Os médicos dizem que a maioria de seus pacientes chega tarde demais para ser tratada, quando já estão perdendo a visão. Os médicos precisam remover cirurgicamente o olho afetado para evitar que a infecção chegue ao cérebro.
Em alguns casos, os pacientes perdem a visão de ambos os olhos. E, em casos raros, os médicos precisam remover cirurgicamente o osso da mandíbula para evitar que a doença se espalhe.
A doença pode ser tratada com uma injeção intravenosa antifúngica que deve ser administrada todos os dias por até oito semanas. É o único medicamento eficaz contra a doença.
4. É contagioso?
A mucormicose não é contagiosa entre pessoas ou animais. O fungo só se desenvolve em pacientes com as condições certas no corpo, como diabetes ou imunossupressão causada por outras doenças.
No entanto, como ele se espalha por esporos de fungos presentes no ar ou no ambiente, é quase impossível evitá-lo.
Uma pessoa sã, ou sem problemas do sistema imunológico, não deve temer contágio.
“Bactérias e fungos estão presentes em nosso corpo, mas o sistema imunológico os mantém sob controle”, explicou K. Bhujang Shetty, diretor do Hospital Narayana Nethralaya na Índia.
“Quando o sistema imunológico está enfraquecido devido ao tratamento do câncer, diabetes ou uso de esteroides, esses organismos se aproveitam e se multiplicam”, disse Shetty à Reuters.
“A cepa parece ser virulenta, elevando o açúcar no sangue a níveis muito altos. E estranhamente a infecção fúngica está afetando muitos jovens”, disse Raghuraj Hegde, médico da cidade de Bangalore, no sul do país.
5. Quão difundido é o contágio na Índia?
Um alto funcionário do governo indiano, V. K. Paul, afirmou que “não há um grande surto” de mucormicose. No entanto, um número crescente de casos foi notificado em todo o país, chegando a mais de 8,8 mil na última semana.
“Já estamos vendo dois ou três casos por semana aqui. É um pesadelo dentro de uma pandemia”, diz Renuka Bradoo, do Hospital Sion, em Mumbai.
Baxi tratou cerca de 800 pacientes diabéticos com Covid-19 no ano passado e nenhum deles contraiu a infecção por fungos.
Em vez disso, seu paciente mais jovem no mês passado era um homem de 27 anos que nem era diabético. “Tivemos que operá-lo durante sua segunda semana de Covid-19 e tirar seus olhos. É bastante devastador.”
O Conselho Indiano de Pesquisa Médica e o Ministério da Saúde conclamam a população a manter a higiene pessoal e doenças como diabetes sob controle.
Eles também foram aconselhados a usar sapatos, calças compridas, camisas de mangas compridas e luvas ao manusearem sujeira, musgo ou esterco para evitar a exposição ao fungo.