Estudo japonês indica que pessoas com pressão alta durante a noite são mais propensas a sofrer com doenças cardiovasculares, especialmente insuficiência cardíaca.
Profissionais de saúde normalmente se baseiam em avaliações feitas no consultório, e durante o dia, para determinar se um paciente precisa de medicamentos para controle da hipertensão. Mas agora cientistas da universidade japonesa Jichi Medical University indicam a necessidade de se medir a pressão arterial também durante o sono. Isso porque pessoas com hipertensão noturna não detectada – ou seja, cuja pressão aumenta somente durante o sono – possuem maior probabilidade de sofrer futuras doenças cardiovasculares, especialmente insuficiência cardíaca, mesmo que as pressões diurnas estejam dentro dos limites normais.
“A pressão arterial noturna está sendo cada vez mais reconhecida como um preditor de risco cardiovascular”, afirma Kazuomi Kario, autor do estudo Fenótipo noturno da pressão arterial e prognóstico cardiovascular, publicado neste mês pelo jornal Circulation, da Associação Americana do Coração, nos Estados Unidos.
Segundo Kario, que é o professor da medicina cardiovascular na Jichi Medical University, a nova pesquisa fornece informações mais detalhadas sobre o “risco cardiovascular associado à alta pressão arterial noturna” do que os relatados anteriormente.
Ao longo de oito anos (de 2009 a 2017), os pesquisadores mediram os níveis diurnos e noturnos de pressão arterial em mais de 6 mil pacientes, todos do Japão. As aferições foram realizadas por meio de monitores ambulatoriais, que os participantes vestiam em casa, e avaliaram as medidas durante as atividades diárias e durante o sono, por pelo menos 24 horas de cada vez. Os dados do dispositivo eram enviados aos pesquisadores periodicamente.
Quase metade dos participantes era do sexo masculino e mais da metade tinha mais de 65 anos. Todos os pacientes tinham pelo menos um fator de risco cardiovascular, cerca de 75% estavam tomando medicamentos para pressão arterial e nenhum sofria de doença cardiovascular sintomática quando o estudo começou.
Durante o acompanhamento, os cientistas descobriram que pacientes com pressão arterial sistólica noturna 20 milímetros de mercúrio (mm Hg) acima de sua leitura sistólica diurna tinham significativamente mais probabilidade de sofrer de aterosclerose e insuficiência cardíaca. Já aqueles com ciclos circadianos anormais – ou seja, quando a pressão arterial do sono excede os níveis diurnos – estavam em risco particular de desenvolver insuficiência cardíaca e eventos de doença cardiovascular.
O estudo constatou ainda que redução excessiva da pressão arterial durante o sono também pode ser prejudicial. Pacientes com hipertensão bem controlada mostraram um risco significativamente maior de acidente vascular cerebral quando a pressão sistólica noturna caiu drasticamente.
Ao longo do período de análises, os participantes experimentaram um total de 306 eventos cardiovasculares, incluindo 119 derrames, 99 diagnósticos de doença arterial coronariana e 88 diagnósticos de insuficiência cardíaca.
“Os resultados indicam que a pressão arterial sistólica noturna foi um fator de risco independente e significativo para eventos cardiovasculares”, afirma Kario. Com isso, o pesquisador ressalta a importância de incluir o monitoramento noturno nas estratégias de tratamento para pacientes. “Com sorte, [o estudo] encorajará os médicos a garantir que a terapia anti-hipertensiva esteja efetivamente reduzindo a pressão arterial durante o período de dosagem de 24 horas.”
REVISTA GALILEU