Identificadas amostras que podem ser de duas novas variantes da Covid-19 no país


Descobertas de rede de cientistas ocorreram nos estados de Rio Grande do Sul e Tocantins

Pesquisadores detectaram amostras de dois tipos diferentes do coronavírus que podem configurar em novas linhagens desenvolvidas no Brasil. As amostras foram encontradas nos estados do Rio Grande do Sul e do Tocantins e já estão em análise para a obtenção de reconhecimento na comunidade científica internacional.

As amostras foram relatadas em artigos pré-publicados pelos pesquisadores envolvidos nos dois estudos.

No Rio Grande do Sul, a potencial nova variante foi encontrada por pesquisadores do Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale. As amostras com as características da variante candidata representavam 26 das 80 sequenciadas. Deste total, 20 eram de caminhoneiros que cruzaram a fronteira com a Argentina na altura da cidade gaúcha de Uruguaiana.

 A descoberta foi divulgada na última na revista científica “Research Square”.

Pós-doutoranda do Laboratório de Microbiologia Molecular, Mariana Soares aponta que essa transformação seria um desdobramento da linhagem B.1.1.28, a mesma que deu origem à variante Gamma (P.1), originária de Manaus.

“Essa possível nova linhagem tem um grupo de mutações que ainda não tinha sido identificado no Brasil. Podemos dizer que seria uma espécie de irmã da P.1. São amostras do fim de maio. Os caminhoneiros apresentavam sintomas que variavam de leve a moderados, como dores e febre”, afirma a pesquisadora.

Na Região Norte do país, a descoberta de pesquisadores do Laboratório de Bioinformática e Biotecnologia da Universidade Federal do Tocantins (Labinfictec/UFT) envolve alterações na variante Gamma.

Das 73 amostras encontradas, além das oito tocantinenses, 60 são de São Paulo. Quando ela foi descoberta, os pesquisadores a encontraram em oito dos 24 genomas analisados, como explica o virologista e pesquisador da UFT, Fabrício de Souza Campos:

“É uma evolução da P.1, com mutações adicionais. A maioria dos genomas com essas características foi encontrada em São Paulo, embora ela tenha sido descoberta aqui no Tocantins. Basicamente, o vírus sofreu uma mutação e se expandiu para outros estados. Essa mutação específica – não a possível nova linhagem – já foi encontrada em mais de seis mil genomas. É parte da evolução natural do vírus”, afirma Campos.

Os pesquisadores ainda não têm elementos para avaliar se as variantes candidatas são mais perigosas ou mais transmissíveis que as anteriores, pois isso vai depender de novos estudos, análises laboratoriais e testes.

Felipe Campos e Mariana Soares são integrantes da rede Corona-ômica BR, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que atua no monitoramento da circulação do vírus no país e no sequenciamento dos genomas do vírus.

Coordenador da rede, o virologista Fernando Spilki reforça a importância do trabalho de vigilância genômica para o conhecimento do cenário da pandemia.

“O trabalho de vigilância é fundamental. É só com essas informações, em um universo no qual começamos a trabalhar com uma parte da população vacinada, que vamos conseguir antever futuros problemas. A vigilância genômica precisa ser continuada e aprofundada”, avalia.

Desde o início da pandemia, pesquisadores já descobriram no Brasil linhagens do novo coronavírus que ainda não tinham sido identificadas no mundo.

Além da Gamma, considerada uma das quatro variantes de preocupação pela Organização Mundial da Saúde, foram descobertas aqui  a P.2 e da P.1.2 (Rio de Janeiro), a P.4 e a N.9, em São Paulo.

De acordo com a Rede Genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais de 100 variantes do patógeno circulam ou circularam no país desde o início da pandemia.

CNN BRASIL

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