Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 14% dos adolescentes entre 10 e 19 anos apresentam algum problema de saúde mental
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
A tecnologia poderá vir a ser uma forte aliada dos médicos na hora de receitar antidepressivos para crianças e adolescentes. Com a ajuda da inteligência artificial, pesquisadores americanos da Mayo Clinic estão testando ferramentas capazes de prever como o paciente responderá ao remédio a partir de dados sobre os sintomas. Esse tipo de instrumento já vem sendo avaliado em outras áreas da medicina, mas ainda é muito incipiente na psiquiatria.
“O tratamento da depressão em adolescentes e crianças é bem desafiador. Por questões éticas, não há muitos estudos específicos nessa faixa etária”, conta o psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Então a resposta desses remédios pode ser diferente da esperada, é preciso estar mais atento aos efeitos colaterais e ajustar doses menores, o que pode acabar comprometendo a eficácia”, explica o médico.
A depressão na infância e na adolescência está relacionada a diversos fatores, desde o ambiente em que a pessoa cresce e vive até histórico familiar e problemas como cyberbullying. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 14% dos adolescentes entre 10 e 19 anos apresentam algum problema de saúde mental, sendo a depressão uma das principais causas de doença e incapacidade nessa faixa etária.
Ainda segundo a OMS, metade das condições de saúde mental começa por volta dos 14 anos, mas a maioria não é corretamente diagnosticada e tratada e o suicídio já ocupa o quarto lugar entre as causas de morte em adolescentes de 15 a 19 anos. O problema de não diagnosticar e tratar a depressão na adolescência é que ela pode se estender à idade adulta, causando prejuízos e limitando futuras oportunidades.
Algoritmo
Para facilitar essa tarefa, os autores do estudo desenvolveram um algoritmo a partir de um banco de dados cruzando várias informações sobre remédios tomados e sintomas relatados pelos pacientes, como dificuldades em se divertir, isolamento social, cansaço excessivo, irritabilidade, baixa autoestima e sentir-se deprimido.
Após avaliar esses sintomas com quatro ou seis semanas de tratamento, o modelo probabilístico permitiu prever a evolução ao fim de 10 ou 12 semanas. O estudo comparou o uso de dois tipos de antidepressivos e de placebo.
Embora seja uma pesquisa muito inicial, os cientistas acreditam que se tratado primeiro passo para um tratamento extremamente personalizado, capaz de prever desfechos a partir dos sintomas, melhorando a perspectiva futura da doença naquele paciente.
“No futuro, isso poderá ser muito útil também para outros profissionais, como clínicos gerais e pediatras, que muitas vezes são os primeiros a receber esse paciente”, acredita Kanomata. “Há muita insegurança em prescrever e ajustar doses. Uma ferramenta capaz de nortear o tratamento pode torná-lo mais eficaz e até diminuir o tempo até a remissão dos sintomas”, completa.