O Laboratório de Pesquisa Clínica e Epidemiológica (PesqClin) do Hospital Universitário Onofre Lopes, vinculado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte e à Rede Hospitalar Ebserh (Huol-UFRN/Ebserh), é um dos seis laboratórios integrantes do Núcleo Avançado de Pesquisa e Inovação Tecnológica em Saúde (NAPS) da instituição. Inaugurado em 2014, a estrutura conta com salas de atendimento, intervenção e laboratório para coleta de sangue, processamento e análise.
Sob coordenação da professora e pesquisadora Ana Paula Trussardi Fayh, o propósito do PesqClin é apoiar a pesquisa clínica e epidemiológica dentro do hospital. As últimas linhas de pesquisa tiveram como foco doenças crônicas, como câncer, infarto do miocárdio, síndrome de ovários policísticos e a temática do envelhecimento com público idoso.
Atualmente, o laboratório atua com a linha de saúde humana e cuidados em pessoas e conta com uma equipe de 15 pesquisadores com cinco alunos de doutorado, três de mestrado e seis de iniciação científica, assim como uma coordenadora. Com perfil multiusuário, o PesqClin busca apoiar pesquisas de diferentes cursos da área de Ciências da Saúde, como Nutrição, Fisioterapia, Farmácia e Medicina.
Pesquisa com pacientes oncológicos
A atual pesquisa do laboratório envolve uma avaliação com pacientes oncológicos recém-internados. “Nas primeiras 48 horas de internação, a equipe vai até as enfermarias e faz uma avaliação nutricional completa, envolvendo verificações de perda de peso recente, consumo alimentar, capacidade funcional do paciente e composição corporal. A partir disso, é possível classificar o paciente em desnutrido, bem nutrido, sob o risco de desnutrição ou desnutrido”, explica a coordenadora.
Após a avaliação inicial, a equipe do laboratório segue monitorando o paciente. “O paciente é reavaliado a cada sete dias até o momento da alta. Depois, acompanhamos o indivíduo pelo período de um ano para ver se a avaliação inicial teve associação com o desfecho nesse prazo”, indica Ana Paula.
Resultados
Estudos anteriores com pacientes ambulatoriais do hospital indicam que indivíduos com menor massa muscular, terão maior toxicidade à quimioterapia, com complicações cirúrgicas e menos função física na sobrevida. “O paciente com menor massa muscular, possui maior número de desfechos adversos, como tempo de hospitalização maior, mais intercorrências cirúrgicas e menor sobrevida global. No entanto, a rotina hospitalar ainda não prevê uma avaliação completa da composição corporal do paciente”, avalia professora Ana Paula.
A pesquisa considera que o excesso de peso pode esconder uma perda de massa muscular importante, pois o câncer promove uma alteração na composição corporal. “Sabemos que quanto menor a massa muscular, maior o risco de evento adverso no câncer, toxicidade na quimioterapia, complicação cirúrgica e mortalidade. Assim, uma avaliação nutricional mais minuciosa pode fazer a diferença para o paciente, pois pode ajudar a postergar a cirurgia ou a reduzir o risco cirúrgico”, pondera Ana Paula.
O câncer é uma doença que também conta com uma questão chamada de “epidemiologia reversa”. “Em geral, pacientes com excesso de peso têm menor mortalidade, pois são indivíduos com um estado nutricional mais preservado, com maior reserva corporal. Estudos indicam que o metabolizador do quimioterápico é massa muscular e não gordura corporal. Então, às vezes o paciente pode ter um excesso de peso, mas ter menos massa muscular. Por isso que a avaliação da composição corporal se demonstra tão importante”, defende a pesquisadora.
Até a primeira quinzena de março, a pesquisa já avaliou 104 pacientes no Huol, tendo como meta de estudo avaliar 400 pessoas. “Um dos objetivos do estudo é propor uma equação para avaliação da composição corporal dos pacientes com câncer a partir dos dados obtidos com a impedância bioeletrica”, considera Ana Paula.