Doença está intimamente ligada ao olho seco
Pode não parecer, mas o olho humano é complexo, com diversas estruturas que dependem uma da outra para que a visão funcione perfeitamente. Uma dessas estruturas são as glândulas de Meibômio, que levam esse nome em homenagem ao médico alemão Johann Heinrich Meibom, que as descreveu há muitos séculos.
Segundo Dra. Tatiana Nahas, oftalmologista especialista em doenças das pálpebras, Chefe do Serviço de Plástica Ocular da Santa Casa de São Paulo, as glândulas meibomianas se localizam nas margens internas das pálpebras.
“Há cerca de 25 dessas glândulas na pálpebra superior e 20 na inferior. A principal função dessas pequenas notáveis é produzir e secretar o meibum, uma substância oleosa que impede a evaporação do filme lacrimal”.
“Porém, quando há alguma alteração nas glândulas meibomianas, podem acontecer mudanças na quantidade ou na qualidade do meibum. Como resultado, o filme lacrimal fica prejudicado. E isso pode levar ao desenvolvimento da Meibomite e de outras doenças oculares, como o olho seco e a blefarite”, explica Dra. Tatiana.
Idade é fator de risco
A idade desempenha um papel importante na meibomite. Isso porque a quantidade de glândulas meibomianas é reduzida ao longo dos anos. Somado a isso, há fatores como:
- Etnia: os asiáticos têm cerca de 3 vezes mais chance de ter alterações nas glândulas de Meibômio do que os europeus
- Usar lentes de contato
- Ter colesterol e triglicerídeos altos
- Conjuntivite alérgica e outras doenças oculares
- Córnea ou pálpebra inflamada ou danificada
- Infecção bacteriana
- Doenças autoimunes como rosácea, lúpus, artrite reumatoide e síndrome de Sjögren
- Menopausa e uso de terapia de reposição de estrogênio
- Fazer uso de retinoides, medicamentos para acne e cremes antienvelhecimento
“Vale acrescentar que a reposição de testosterona também é um fator de risco, tanto na forma injetável quanto na de implantes (“chip da beleza”)”, comenta a oftalmologista.
Lágrima espumosa
Os sintomas da meibomite podem ser confundidos com os de outras doenças oculares, como uma conjuntivite, por exemplo. Porém, são manifestações que se tornam crônicas e afetam o dia a dia do paciente.
“É comum que pela manhã a pessoa acorde com os olhos grudados, com muita secreção. Pode ocorrer coceira, irritação, ardência e sensação de ter areia nos olhos. As pálpebras podem ficar inflamadas ou irritadas. Por fim, a lágrima fica com um aspecto mais espumoso”, diz Dra. Tatiana.
Meibomite e olho seco: relação íntima
A oftalmologista comenta que a disfunção das glândulas meibomianas é a causa mais comum da síndrome do olho seco. “Além disso, a meibomite também pode levar à blefarite, que é uma inflamação crônica nas pálpebras. Essas três condições oculares estão intimamente ligadas e, em muitos casos, não há como saber qual apareceu primeiro”.
Luz pulsada: uma inovação no tratamento da meibomite
Hoje, há exames específicos para avaliar as glândulas de Meibômio, bem como a superfície ocular, a qualidade do filme lacrimal, entre outras estruturas relacionadas tanto à meibomite, como à blefarite e ao olho seco. Outra boa notícia é que desde 2019, há um tratamento inovador para a meibomite: a luz intensa pulsada.
“A luz intensa pulsada é uma energia luminosa. Na hora da aplicação, essa luz se transforma em calor (energia térmica). O calor vai permitir a coagulação e ablação (cauterização) dos capilares. Com isso, há redução dos fatores inflamatórios”, conta Dra. Tatiana.
Outro efeito crucial da energia térmica é a redução dos ácaros e bactérias envolvidos na blefarite e na meibomite, como o Demodex brevis e a Bacillus oleronius, potenciais mediadores dessas condições.
“Por último, o efeito térmico da luz intensa pulsada ajuda a desentupir as glândulas de Meibômio, pois acaba amolecendo a secreção acumulada. E isso também ajuda a melhorar o filme lacrimal”, reforça a especialista.
A luz intensa pulsada para tratamento da meibonite e suas complicações é realizada por meio de três sessões, com intervalos de 15 e 30 dias. Cada aplicação dura em torno de 3 a 5 minutos e só pode ser feito por um oftalmologista treinado para a utilização do equipamento.