Estudo mostra que práticas integrativas, como mindfulness (atenção plena), reduzem em até 30% os sintomas de ansiedade dos participantes
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
É fato que meditar é uma forma de acalmar o corpo e a mente, mas um novo estudo recém-publicado no JAMAPsychiatry constatou que participar de um programa de redução do estresse baseado em mindfulness (atenção plena) foi tão eficaz quanto usar um antidepressivo (escitalopram) para tratamento de transtorno de ansiedade. Trata-se do primeiro estudo clínico randomizado que comparou a meditação com o uso de um medicamento considerado padrão-ouro e os resultados fortalecem a importância das práticas integrativas.
“Somos um dos países campeões em transtornos de ansiedade e um trabalho como esse, com ótima metodologia, auxilia muito a ampliar as formas de tratamento. Ele possibilita que os profissionais da saúde olhem para as práticas integrativas sem preconceito e observem que elas são um importante coadjuvante e podem se somar ao tratamento convencional”, afirmou Maria Ester Azevedo Massola, coordenadora da Equipe de Medicina Integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein.
Os transtornos de ansiedade podem ser altamente angustiantes: eles incluem ansiedade generalizada, fobia social, síndrome do pânico e medo de certos lugares e situações, incluindo multidões, por exemplo. Geralmente esses problemas são tratados em clínicas psiquiátricas com uso de medicações específicas. O problema é que alguns pacientes não respondem bem aos medicamentos ou não toleram os possíveis efeitos colaterais deles, entre eles, náusea, sonolência e dor de cabeça. Por conta disso, alguns pacientes acabam não seguindo o tratamento de forma correta.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores acompanharam 276 pacientes (com idade média de 33 anos) entre junho de 2018 e fevereiro de 2020 em três hospitais de Boston, Nova Iorque e Washington, nos Estados Unidos. Eles foram separados aleatoriamente – uma parte recebeu o escitalopram como forma de tratamento e outra metade participou do programa de Mindfulness-Based Stress Reduction(MBSR), redução de estresse baseada em mindfulness (em tradução livre).
O programa foi oferecido durante oito semanas por meio de aulas presenciais de duas horas e meia, um retiro de um dia em um final de semana (na quinta ou sexta semana após o início do tratamento), além de exercícios diários de 45 minutos feitos em casa. Os sintomas de ansiedade dos pacientes foram avaliados no começo do estudo e, depois, oito, 12 e 24 semanas após o início do acompanhamento. As avaliações foram feitas de forma cega – os pesquisadores não sabiam se as pessoas haviam recebido a medicação ou o programa de meditação – e utilizando escalas para avaliar a gravidade dos sintomas.
Os dois grupos tiveram redução significativa nos sintomas de ansiedade, com média de 1,35 pontos para quem praticou a meditação e 1,43 para quem tomou o remédio, o que foi considerado um resultado estatisticamente equivalente. Segundo a pesquisa, isso significa uma redução de 30% nos sintomas de ansiedade dos participantes.
Prática é bem conhecida
Segundo Massola, o programa MBSR é muito bem descrito na literatura desde os anos 90 e tem como base três partes que o praticante vai usar diariamente: a primeira é a meditação com consciência da respiração e nas sensações corporais; a segunda é o escaneamento corporal, que é um tipo de relaxamento tanto do corpo quanto da mente; já a terceira parte do programa usa movimentos conscientes com alongamentos suaves para consciência corporal e das sensações internas.
“Esse trabalho é bem importante porque é o primeiro estudo clínico randomizado que investigou um medicamento padrão ouro no tratamento da ansiedade com a prática de um programa de MBSR. Os resultados mostram que a meditação pode entrar como um tratamento complementar, conjuntamente ou não ao convencional medicamentoso. O paciente, no entanto, deve manter o acompanhamento regular com um profissional especializado”, afirmou a especialista.
A coordenadora da Equipe de Medicina Integrativa do Einstein destacou, ainda, que o acompanhamento é necessário porque qualquer prática de mindfulness exige uma dedicação do paciente e não é possível começar um tratamento de saúde mental apenas com a meditação. “À medida em que o paciente for diminuindo a necessidade do uso de medicamento, a meditação pode dar um suporte para que ele se mantenha no controle da ansiedade”, explicou.
Segundo Massola, muitos pacientes não toleram bem os medicamentos psiquiátricos e o estudo mostra que o grupo que recebeu o escitalopram teve mais efeitos colaterais (como distúrbios do sono, náusea, fadiga, cefaléia, diminuição do apetite, nervosismo, tontura e ansiedade) do que o grupo que fez o MBSR.
“Poder oferecer aos pacientes uma terapia não farmacológica para a melhora da saúde mental é muito importante. Esse resultado com certeza vem fortalecer as práticas integrativas para que cada vez mais médicos, psiquiatras e psicólogos olhem para elas sem preconceito. Todas visam fortalecer o autocuidado e são um importante coadjuvante no tratamento”, finalizou.