Ser mãe ou não é uma decisão que cabe a cada mulher. Apesar de muitas crescerem com o sonho de ter filhos, os números mostram que cada vez mais mulheres estão abrindo mão da maternidade. Segundo pesquisa recente realizada pela Bayer, com o apoio da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e do Think about Needs in Contraception (TANCO), 37% das brasileiras afirmam que não desejam se tornar mães.
Para Gisele Miranda, Mentora em Carreira & Liderança Feminina, um dos motivos que leva parte das mulheres a desistirem da maternidade é a sobrecarga, que afeta principalmente aquelas que, além de terem uma família, trilham uma carreira profissional, precisando lidar com múltiplas funções em casa e no ambiente corporativo. “Elas ficam sobrecarregadas com tantas responsabilidades, mesmo que recebam algum tipo de ajuda, porque a carga maior na hora de cuidar dos filhos – pela pressão imposta pela sociedade- ainda hoje recai sobre a mãe”, explica a especialista, que também é autora do livro “A Coragem de se apaixonar por você”.
Gisele acrescenta que, em seu dia a dia, a mulher se divide entre os cuidados com os filhos, a rotina no trabalho e, muitas vezes, afazeres com a casa e outras funções. “Não é uma rotina fácil e exige muito esforço, muitas vezes levando à sobrecarga que pode prejudicar a saúde física e mental da mulher”, avalia ela.
Mas é claro que a mulher não precisa abdicar da carreira profissional nem desistir do sonho de ser mãe, para aquelas que têm esse objetivo. “Embora desafiador, é perfeitamente possível, sim, conciliar a vida de mãe com a profissional. Mas, para isso, é preciso buscar o equilíbrio e adotar algumas atitudes”, ensina Gisele. Na visão da autora, o principal ‘mantra’ da mulher deve ser: “Você não é obrigada a dar conta de tudo”. “Essa é sempre a minha principal dica, nunca se esqueça disso. Tire a ‘capa’ de super-heroína e aceite que você é humana e tem suas limitações”, diz.
Pensando em ajudar as mães com esse perfil, Gisele listou algumas dicas:
Organização é primordial
Ter uma rotina organizada já é “meio caminho andado” para evitar a sobrecarga. “Isso inclui ter horário certo para realizar determinadas tarefas, deixar coisas como roupas e refeições separados, preferencialmente na noite anterior, ou seja, sempre se programar com antecedência”, ensina Gisele. “É claro que imprevistos acontecem, mas quanto mais houver organização mais fácil será a rotina”, afirma.
Isso porque antecipando-se às demandas diminui a chance de realizar as tarefas em ritmo acelerado, o que pode causar estresse, “Fazer as obrigações do dia a dia com pressa pode contribuir para alterar negativamente o humor e aumentar a ansiedade e a percepção negativa, trazendo à tona a sobrecarga”, alerta Gisele.
Para evitar isso, planeje-se e mantenha o seu planejamento sempre à mão para “mudanças de rota”. “Liste as prioridades, os prazos e destaque datas importantes. O restante você encaixa como der, quando couber no seu dia. Sua agenda, suas regras”, resume ela.
Desconectar-se é preciso
No mundo de hoje, estamos conectados 24 horas por dia através das redes sociais. Isso facilita a comunicação, mas estar sempre ligado em tudo e disponível também pode causar estresse. “Se estivermos sempre conectados, também seremos sempre demandados e, consequentemente, trabalharemos mais”, explica a autora.
De acordo com um estudo recente feito pelo Fórum do Ecossistema Mobile [MEF na sigla em inglês], cerca de 66% dos brasileiros usam o telefone celular para trabalhar, a maioria deles por meio do WhatsApp. Por conta disso, é importante deixar o celular um pouco de lado após o horário de expediente. “Caso seja necessário, utilize um celular específico para trabalhar, e o desligue depois que sair do escritório”, sugere Gisele.
Busque dividir as tarefas
Não é incomum, mesmo nos dias de hoje, ouvirmos um pai dizendo que “ajuda a cuidar do filho”. Frases como “eu até dou banho no meu filho” ou “eu troco a fralda da minha filha” são frequentes. “A realidade é que os homens não têm que se vangloriar por cumprir com suas obrigações, e a mulher deve dividir as tarefas com eles. Afinal, os filhos são dos dois, e o mesmo deve ser feito com as tarefas da casa. Hoje as mulheres trabalham fora, da mesma forma ou até mais horas do que os homens. Ou seja, a realidade mudou, a mulher não é mais apenas dona de casa, mas a mentalidade de muitos infelizmente ainda é a mesma”, pondera a autora.
Por conta disso, na visão da especialista, é “importante, necessário e justo” que as tarefas domésticas e que envolvam os filhos sejam devidamente divididas entre o casal para que “ninguém saia prejudicado”.
Aceite ajuda
Uma parcela das mulheres que têm muitas tarefas no dia a dia resiste em aceitar ajuda – seja no trabalho, com os filhos ou nas tarefas domésticas. Muitas delas não querem, por exemplo, que os avós levem ou busquem as crianças na escola, ou não aceitam contratar uma pessoa que ajude na limpeza da casa.
“Se você tem a possibilidade de ter a ajuda de alguém, seja ela uma pessoa contratada ou da sua família, aceite. Essa pessoa vai te livrar de tarefas que podem estar contribuindo para essa sobrecarga excessiva”, orienta Gisele. “Não temos que dar conta, o tempo todo e de forma perfeita, dos papéis que são esperados de nós”.
Tire um tempo para si
Não se esqueça, também, de sempre que possível tirar um tempinho para cuidar de você mesma, para fazer as coisas que você gosta – seja ler um livro em casa, ir à academia ou fazer uma massagem.
“Na hora de fazer a agenda de suas responsabilidades, é importante reservar um tempo, mesmo que seja curto, para tarefas prazerorsa”, explica Gisele. “Nesses momentos, você relaxa e ganha mais energia para continuar com suas obrigações”.
A sensação de que as tarefas “nunca acabam” é comum, pois muitas vezes o dia começa com uma lista de 15 pendências e termina com 25. “No entanto, é importante entender que o principal não é quantos afazeres foram ou não cumpridos, e sim ter clareza de quais são as suas prioridades, a cada dia, semana, mês ou ano. Dessa forma, a rotina fica mais leve e menos desgastante”, finaliza.