Mesmo com vacina, só uso de máscaras e distanciamento podem frear pandemia


A boa notícia do início da vacinação no Brasil não deve surtir efeito tão cedo na pandemia de covid-19 no país, revela estudo do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME), da Universidade de Washington (UW).

O IHME projeta diferentes cenários e defende o uso da máscara e as medidas de distanciamento social para atrapalhar o espalhamento do novo coronavírus. No cenário atual, afirmam especialistas, a adoção ampla de máscaras de qualidade pode fazer diferença na queda da mortalidade.

De posse do estudo, o pesquisador do Laboratório de Virologia do Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP José Eduardo Levi avalia como “otimista demais” o cenário apresentado. “Já temos mais de 233 mil mortes, com média diária acima de 1.000”, lembra. “Esse número não vai cair tão cedo, pode até subir”.

Nesse ritmo, avalia, o Brasil pode começar março com 255 mil mortes.

Os dados do IHME são parecidos, mas a média diária prevista é consideravelmente menor — o pior cenário prevê 864, número que o país não registra desde 8 de janeiro. As projeções devem seguir sendo atualizadas na plataforma do IHME.

Um dos autores do estudo, o professor Ali Mokdad, diretor de Estratégia em Saúde Pública na UW diz que o Brasil deveria estar em situação muito melhor porque estamos no verão: “Os números deveriam estar caindo”.

“É preocupante que o país tenha essa variante no verão, quando o vírus tende a se dissipar menos do que no inverno. O que o Brasil pode fazer agora é usar máscaras.” Ali Mokdad, diretor de Estratégia em Saúde Pública na UW.

Que máscara usar?

Mokdad defende ainda que o governo estipule regras rígidas e que a população fique mais vigilante, especialmente com a nova variante amazônica.

Sobre a eficácia das máscaras de pano, o professor de Ciências de Métrica da Saúde aconselha usá-las sobre uma de tripla camada, “o que aumenta a proteção”. E é taxativo: “É melhor usar qualquer máscara do que não usar máscara nenhuma”.

Vivendo de perto a situação em Manaus, Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz Amazônia, lembra que as máscaras de pano não protegem bem nem impedem totalmente a transmissão do vírus. E também advoga pela distribuição massiva da proteção facial pelo governo.

Nariz e boca cobertos

Os especialistas são unânimes: é preciso sempre vedar bem o rosto, cobrindo boca e nariz. Se não forem tomadas medidas básicas, como evitar de verdade aglomerações, os problemas vão continuar.

No ano passado, dizem, a população passou a crer que a pandemia estava se esgotando. “Daí vieram eleições, festas de fim de ano — algumas clandestinas, com 5 mil pessoas. Gente na rua sem máscara, em locais aglomerados, dentro de restaurantes”, lista Orellana.

“Até onde sabemos, e isso parece ser uma verdade absoluta, o vírus não tem asas. O governo precisa dar condições de acesso a máscaras mais efetivas.” Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz Amazônia.

Impacto da vacinação? Só em junho

Segundo os cálculos de Levi, na melhor das hipóteses, o país só deve concluir a primeira fase de aplicação da primeira dose em grupos de risco em meados de março.

“Sendo otimista, essas pessoas [vacinadas na primeira fase] estarão imunizadas apenas no fim do mês que vem”, calcula.

Segundo ele, vai demorar ainda mais dois meses para que se possa ver impacto na redução de internações e mortes. A avaliação coincide com a dos gráficos do IHME.

Preocupado com a variante, o pesquisador da USP diz ser “só uma questão de tempo” até a mutação se espalhar. Ele lembra o volume de voos e diz que o problema é que os viajantes embarcam em Manaus sem precisar apresentar exames, também não exigidos nos destinos. Com isso, podem carregar o vírus. “Não tem como não ter espalhado”, diz.

Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), em média 35 voos deixaram a capital amazonense por dia em janeiro, entre viagens de carga e de passageiros. Não há informação disponível sobre quantos desses voos foram só de passageiros nem sobre o número de viajantes.

UOL

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