Infectologista explica que a criança pode nascer infectada, mas são raros os casos em que ela desenvolve sintomas da doença
O caso de um bebê que morreu de dengue em Toledo, no Paraná, horas depois de nascer, gerou comoção e dúvidas sobre a possibilidade de transmissão da doença da mãe para o bebê durante a gestação.
De acordo com informações do g1, o bebê nasceu no dia 25 de abril, com parada cardiorrespiratória. Ele foi diagnosticado com dengue e encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, mas não resistiu. No entanto, o registro oficial da morte só foi publicado no último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), publicado na última terça-feira.
De acordo com a infectologista Rosana Richtmann, chefe do Departamento de Infectologia do Grupo Santa Joana, existe o risco de a mãe transmitir a infecção para o bebê. Mas é raro a criança desenvolver sintomas de dengue.
— Mães que adquirem a doença até dez dias antes do parto, podem transmitir o vírus da dengue para o feto através da placenta e a criança nasce já infectada, mas raramente essa criança nasce doente. Em compensação, se ela desenvolver a doença, o quadro clínico é muito grave — explica Richtmann.
De acordo com a médica, 1,6% das gestantes que tem dengue, tem um bebê com a doença. No entanto, como existe a possibilidade e o bebê desenvolver a doença, é fundamental que uma gestante que teve dengue alguns dias antes do parto informe isso à equipe médica para que eles possam monitorar o bebê.
Por exemplo, se a gestante teve dengue dois dias antes do parto, o bebê pode desenvolver a doença dias após o nascimento. Nestes casos, o principal risco é de hemorragia.
— A criança tem uma queda de plaquetas muito significativa e, em geral, a causa da morte é por sangramento. Mas, novamente, preciso ressaltar que é raro isso acontecer. Eu tive contato com apenas um caso de bebê que nasceu com dengue — pontua a infectologista.
Por outro lado, a dengue na gravidez é sempre motivo de preocupação. Isso porque a infecção viral – qualquer uma – aumenta o risco de complicações como abortamento e parto prematuro. Além disso, há risco também para a mãe. Dados mostram que a dengue aumenta 400 vezes o risco de morte materna.
— Gestante com dengue é sempre um caso mais grave. Por isso, ela precisa procurar assistência médica para fazer exames e verificar se há necessidade de internação — alerta Richtmann.
Por fim, é preciso ressaltar que a vacina de dengue é contraindicada para gestantes, pois é feita com vírus vivo atenuado. Por outro lado, a médica recomenda que mulheres em idade fértil que pretendem engravidar nos próximos anos, se vacinem.
JORNAL O GLOBO