Mulheres com baixa massa muscular têm pior prognóstico no tratamento do câncer de mama


Estudo da USP em Ribeirão Preto aponta que avaliar a composição corporal logo no início do tratamento pode melhorar a sobrevida das pacientes

A prevalência de baixa massa muscular em pacientes com câncer varia de 38% a 70%; para o câncer de mama especificamente, estudos relatam prevalência próxima a 40% (imagem: freepik)

A preservação da massa muscular pode ser um fator decisivo para o sucesso no tratamento do câncer de mama. Pesquisa realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), com apoio da FAPESP, indicou que mulheres com baixa massa muscular ao início da quimioterapia apresentaram pior prognóstico e menor taxa de sobrevida.

Os dados foram coletados de 54 pacientes recém-diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial e atendidas no Hospital das Clínicas da FMRP, referência no país. Todas as participantes passaram por tomografia computadorizada, bioimpedância e testes físicos antes do início do tratamento.

Avaliação da massa muscular como marcador de prognóstico

Os pesquisadores utilizaram tomografias da região lombar (vértebra L3) e o ângulo de fase (PhA) – uma medida da bioimpedância que indica a integridade celular – para avaliar a composição corporal. O estudo demonstrou que pacientes com menor massa muscular e ângulo de fase reduzido tiveram menor sobrevida, independentemente da idade ou do estágio do câncer.

Segundo a nutricionista Mirele Savegnago Mialich Grecco, autora do artigo, pacientes oncológicas frequentemente apresentam perda de força e massa muscular, ainda que apresentem excesso de peso ou obesidade, o que pode mascarar a real condição do organismo.

A importância do diagnóstico precoce da perda muscular

Grecco alerta que, por não apresentarem emagrecimento visível, muitas mulheres com câncer de mama não são imediatamente associadas à perda muscular, o que dificulta intervenções nutricionais e físicas em tempo hábil.

A bioimpedância surge como uma alternativa prática e acessível para avaliar a saúde muscular, desde que interpretada por profissionais capacitados.

Impacto na sobrevida e recomendações práticas

Cinco anos após o início do estudo, os prontuários médicos revelaram que a baixa massa muscular está significativamente associada à redução da sobrevida em pacientes com câncer de mama não metastático.

A pesquisadora defende a adoção de estratégias preventivas, como o início precoce de programas de exercícios físicos — especialmente os resistidos — e uma orientação nutricional individualizada com foco no aporte proteico adequado, desde o diagnóstico.

Câncer de mama no Brasil: prevalência e riscos

O câncer de mama continua sendo uma das principais causas de morte entre mulheres brasileiras. O Inca estima quase 74 mil novos casos por ano entre 2023 e 2025. A perda de massa muscular nesse grupo tem sido relacionada ao aumento da toxicidade da quimioterapia, falhas no tratamento e menor sobrevida.

Monitorar a composição corporal desde o diagnóstico do câncer de mama pode ser essencial para melhorar o prognóstico e orientar condutas terapêuticas personalizadas. A avaliação do ângulo de fase se apresenta como uma ferramenta promissora para uso clínico, capaz de prever desfechos e guiar decisões precoces.

O artigo Association of skeletal muscle quantity and quality with mortality in women with nonmetastatic breast cancer pode ser lido em: https://link.springer.com/article/10.1007/s12672-025-01999-1.

AGENCIA FAPESP

 

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