Mulheres com endometriose correm mais risco de sofrerem derrame


Estudo conduzido com 112 mil mulheres ao longo de 28 anos sugere que as que sofrem com a doença corram 34% mais risco de ter um AVC

A endometriose retornou às manchetes nos últimos dias pelo relato que a cantora brasileira Anitta concedeu sobre sua experiência com a doença. Segundo a Associação Brasileira de Endometriose, uma em cada 10 mulheres no Brasil sofre com o distúrbio. Os sintomas transitam entre dores fortes de cólica a intensos sangramentos, podendo ocasionar em complicações que ainda não são tão conhecidas.

Um novo estudo feito por pesquisadores norte-americanos e publicado no periódico Stroke nesta quinta (21) pode ajudar a entender algumas dessas enfermidades. O artigo aponta que mulheres que sofrem com endometriose, um crescimento anormal do endométrio fora do útero, têm mais chances de sofrerem um derrame. A conclusão da pesquisa se alinha com outras que vieram antes, de que essas mulheres também têm maiores riscos de desenvolver  doenças cardiovasculares, como ataque cardíaco, pressão alta e colesterol alto.

Análise

A análise durou 28 anos, começando em 1989, com 112.056 mulheres que eram enfermeiras entre 25 e 42 anos de 14 estados dos Estados Unidos, e terminando em 2017. Das quase 112 mil, apenas 5.224 mulheres foram diagnosticadas, depois de uma laparoscopia, com endometriose.

Os pesquisadores analisaram a cada dois anos possíveis fatores e hábitos que aumentariam o risco de desenvolvimento de um AVC nas 112.056 mulheres. Entre os fatores, estavam ingestão de álcool, estar acima do peso, padrão menstrual na adolescência, uso de anticoncepcional, tabagismo e outros.

Em uma das análises, investigou-se a relação entre a endometriose e o risco de acidente vascular cerebral, e se poderia ser uma consequência de outros fatores que o distúrbio ocasiona. No caso, pressão e colesterol alto, procedimentos de remoção do útero (histerectomia) e dos ovários (ooforectomia) e terapia hormonal pós-menopausa foram fatores analisados nas cinco mil mulheres com o distúrbio.

Durante os 28 anos de análise, 893 AVCs foram catalogados. Os resultados apontam que  mulheres com endometriose tiveram um risco 34% maior de acidente vascular cerebral, em comparação com aquelas sem a doença (106.812). Os pesquisadores também relataram que os procedimentos de histerectomia e ooforectomia e uso de hormônios pós-menopausa aumentaram respectivamente 39% e 16% o risco de acidente vascular cerebral.

A descoberta do aumento do risco com os procedimentos de remoção do órgão reprodutor é importante para a medicina, uma vez que eles são indicados em casos de endometriose. Em estudos anteriores, a histerectomia também aparece associada a um risco maior de AVC, mesmo em mulheres não acometidas pela endometriose.

“Há circunstâncias em que uma histerectomia e ooforectomia é a melhor escolha para uma mulher, no entanto, também precisamos garantir que os pacientes estejam cientes dos riscos potenciais à saúde associados a esses procedimentos”, afirma em nota Stacey A. Missner, autora sênior do estudo e professora de obstetrícia, ginecologia e biologia reprodutiva na Universidade de Medicina do Estado de Michigan.

É importante ressaltar que o estudo contém algumas limitações, como o fato de subtipos de AVCs não estarem disponíveis, não podendo avaliar a relação entre eles com a endometriose. Outra inconsistência é que o tempo de início dos sintomas de endometriose não foram determinados pelos pesquisadores. “Esses resultados não indicam que as mulheres que têm endometriose terão um derrame. Em vez disso, esses achados significam apenas uma associação de risco relativo moderado. O risco absoluto de acidente vascular cerebral em mulheres é baixo”, comenta em nota Missmer.

REVISTA GALILEU

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