Manutenção dos medicamentos, conhecimento da doença e auxílio das pessoas próximas nos cuidados também são essenciais para diminuir o risco de convulsões e contribuir para o bem-estar da mãe e do bebê
Apesar da maioria das mulheres com epilepsia ter uma gravidez tranquila, o risco das convulsões mais graves pode aumentar em 25% durante a gestação se não houver cuidados e medicação adequados, de acordo com o relatório Epilepsy & Pregancy Toolkit (Epilepsia e Gravidez), desenvolvido pelo International Bureau of Epilepsy (IBE) que entrevistou 890 mulheres de nove países europeus. O estudo – publicado no site https://womenandepilepsy.org/, iniciativa criada em 2021 para divulgação de conhecimentos sobre o tema – reforça a importância de informações, planejamento e acompanhamento multidisciplinar para a saúde e bem-estar da mãe e do bebê.
Estas também são algumas das recomendações da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) e de especialistas, como a neurologista e neurofisiologista, colaboradora do Ambulatório de Epilepsia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP), a Dra. Caroline Ferreira Pereira, que defende a necessidade tanto da organização prévia, quanto de cuidados e supervisão que vão além dos obstetrícios, na preparação para a gravidez, durante o pré-natal e no pós-parto.
“Quando houver o desejo de engravidar, a paciente deve comunicar ao seu médico para verificar se é necessário um ajuste das medicações anticrise e se é preciso a implementação de uma vitamina para prevenir a má-formação no bebê, caso do ácido fólico. Outro ponto é que a gravidez seja planejada, porque estudos mostram que a gestação sem organização prévia apresenta maior risco de perda espontânea, parto prematuro e nascimento com baixo peso. É fundamental, também, o acompanhamento de um neurologista durante todo o processo”.
Ainda segundo a médica, durante a gestação ocorrem mudanças no organismo feminino como o ganho de peso, recorrência de vômitos e até mesmo alteração no nível de medicamentos no sangue, contribuindo em pequena porcentagem para a frequência de crises epilépticas. “Essas pacientes precisam ser assistidas de forma mais próxima pelo especialista em neurologia, diminuindo o tempo de consultas, o que ajuda na avaliação ou troca do medicamento para menor risco de má-formação dos bebês. A orientação é que elas não parem com a medicação durante a gravidez, não modifiquem a dose sem supervisão médica, respeitem os horários de administração dos remédios e não suspendam o tratamento de forma abrupta. No geral, as pacientes costumam ter gravidez de forma tranquila.”, acrescenta.
Sobre a importância da supervisão, o vice-presidente da ABE, o neurologista, Dr. Lécio Figueira Pinto, explica que “a epilepsia é uma doença cerebral crônica, caracterizada por uma crise epiléptica associada a uma predisposição que a paciente tenha de novas crises. Do ponto de vista prático, a pessoa tem a doença quando ela já teve pelo menos duas ocorrências na vida, desde que não tenham sido provocadas por fatores nítidos, como alteração da glicemia, infecções graves ou intoxicação por algum medicamento, ou seja, sem a identificação de um fator causal. Outra possível constatação é ter tido alguma crise na vida e ter chance muito alta de recorrência devido a alguma lesão cerebral ou alterações diagnosticadas no encefalograma (exame que diagnostica mudanças nas atividades elétricas cerebrais). Os casos necessitam de medicamentos e acompanhamento especializado”.
O Pós-parto
O pós-parto também exige atenção para evitar a ocorrência de crises e as consequências para a mãe e o bebê. Neste sentido, a Dra. Caroline também recomenda que o ato de amamentação seja realizado em uma superfície macia como colchas, cobertores, colchões forrados; o banho, em banheira no chão, com pouca água e, no caso, de bebês maiores, com o uso do chuveirinho e com a mãe sempre acompanhada de alguma pessoa para o auxílio; a troca de fraldas e roupas pode ser feita de preferência em locais baixos ou no chão, forrado com objetos macios; e o transporte, de preferência, em carrinhos. Nos veículos, é indicado o uso de assentos apropriados. Por outro lado, é desaconselhado segurar no colo por longas distâncias ou o uso de equipamentos em que o bebê fique junto ao corpo da mãe.
“Importante considerar também que, nesta fase, pode haver a privação do sono já que essas mulheres precisam amamentar a cada duas ou quatro horas, e este é um fator de risco para crise epiléptica. Orientamos que essas pacientes solicitem ajuda de pessoas próximas para alimentação do bebê durante à noite, permitindo que elas tenham um sono ininterrupto com um intervalo mais longo”, indica a neurologista.
Para mais informações: https://epilepsiabrasil.org.br/