Mais de 10 anos depois que o congelamento de óvulos deixou de ser experimental, os motivos pelos quais as mulheres se submetem ao procedimento ainda estão sendo estudados
Congelar os óvulos é uma prática muito associada às mulheres que querem focar em suas carreiras e decidem adiar a maternidade, mas à medida em que mais mulheres recorrem ao congelamento de óvulos, as razões pelas quais elas optam por se submeter ao procedimento estão sendo conhecidas.
O congelamento de óvulos é a técnica mais amplamente utilizada para a preservação da fertilidade da mulher. No Brasil, dados recentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o procedimento demonstram uma demanda crescente de mulheres que desejam adiar a gestação. Entre 2020 e 2021, foram realizados mais de 21 mil ciclos, com 154.630 óvulos congelados.
Esse tratamento médico começou a ganhar atenção nos últimos 5-10 anos, quando a técnica do congelamento de óvulos deixou de ser considerada experimental e começou a oferecer cada vez melhores resultados. E o crescimento foi ainda mais expressivo durante a pandemia do Covid-19. Nesse período, as clínicas de fertilidade americanas observaram um grande interesse pelo tema congelamento de óvulos. Alguns dados sugerem que nos EUA, o procedimento aumentou 39% [1] em relação
aos níveis pré-pandemia. No Reino Unido, o procedimento aumentou até 50%, no verão de 2020, em comparação com o ano anterior.
Para entender as razões femininas
Marcia C. Inhorn, antropóloga médica da Universidade de Yale, dedicou anos de estudo para entender o porquê as mulheres optam por congelar seus óvulos. Em seu último livro sobre o tema, “_Motherhood on Ice: the Mating Gap and Why Women Freeze their Eggs”_, Inhorn aponta que a maioria das mulheres opta por congelar seus óvulos porque ainda não encontrou “a pessoa certa” para formar uma família.
Num universo de 150 entrevistadas para o livro, 82% optaram por congelar seus óvulos quando eram solteiras e 18% congelaram seus óvulos
enquanto estavam em um relacionamento, mas as parcerias eram instáveis. Outros 10% optaram por congelar os óvulos enquanto esperavam que o parceiro estivesse ‘pronto para ter filhos”.
“Ou seja, segundo a autora, a principal razão se congelar óvulos está relacionada às questões de parceria, diferentemente do que o
senso comum pensa: carreira e educação”, diz Paula Marin, diretora da Clínica Venvitre.
Embora uma grande parte das mulheres entrevistadas por Inhorn tenha optado por congelar os seus óvulos estando solteira, muitas também
optaram por fazê-lo depois de uma relação ter terminado – fim de namoro, noivado rompido ou divórcio – entre os 30 e os 40 anos.
Pesquisas anteriores apoiam as descobertas de Inhorn de que as questões de parceria são a principal motivação para as mulheres congelarem os seus óvulos:
* Uma pesquisa [2] de 2013 com pacientes da Langone Health da Universidade de Nova York perguntou a 478 mulheres por que elas haviam
decidido fazer o procedimento. Os resultados mostram que 80% das entrevistadas disseram que ser solteira foi a principal razão pela qual
optaram por fazê-lo;
* Uma pesquisa [3] australiana de 2016 com 183 mulheres descobriu que 90% eram solteiras quando decidiram congelar seus óvulos. A “falta de um parceiro” ou ter um parceiro que “não estava disposto a comprometer-se com a paternidade” foram as razões mais comuns pelas
quais as mulheres disseram que decidiram congelar os seus óvulos;
* Um estudo [4] de 2019 com mulheres britânicas, americanas e norueguesas também descobriu que a maioria das mulheres submeteu-se ao congelamento de óvulos por causa do “medo de ficar sem tempo para encontrar um parceiro”.
Diante das pesquisas e da vivência no consultório, Paula Marin reforça que o congelamento de óvulos é um aliado da mulher hoje. “Por que você deveria congelar seus óvulos? Para preservar suas opções no futuro. A ausência do parceiro ideal não pode te paralisar. Você pode
não estar pronta para ter um bebê agora, principalmente pela ausência do ‘parceiro ideal’, mas pode desejar ter filhos mais tarde. E congelar
seus óvulos pode ser o melhor que você pode fazer por você hoje”, diz a médica.
É nesse momento que o diálogo com o especialista em reprodução humana assistida sobre planejamento reprodutivo, adiamento da gravidez e
congelamento de óvulos entra em cena. “O congelamento de óvulos surge como uma alternativa para a mulher moderna ‘fazer parar o relógio
biológico’. A ideia é coletar alguns óvulos hoje, congelá-los e armazená-los para que você possa usá-los para engravidar no futuro,
com o parceiro ideal ou não”, explica Paula Marin.