Mutações do SARS-CoV-2 podem afetar o reconhecimento do vírus pelo sistema imunológico


Resultados de pesquisa austríaca são estratégicos para desenvolvimento de vacinas eficazes contra a Covid-19


Frederico Cursino, da Agência Einstein

No combate aos microrganismos responsáveis por doenças infecciosas, principalmente em época de pandemia, o sistema imunológico desempenha um papel fundamental no organismo humano. Além de detectar esses agentes, os linfócitos T citotóxico (ou T Killer), que compõem o sistema imune, são capazes de eliminar as células que apresentam os antígenos definidos como ameaças ao corpo. Mas um estudo da Universidade Médica de Viena, recentemente publicado pela revista Science Immunology, demonstrou que o SARS-CoV-2 pode se tornar irreconhecível à resposta imune das células T Killer devido às mutações do novo coronavírus.

Enquanto os anticorpos se conectam nos vírus para torná-los inofensivos, o T Killer reconhece a presença de proteínas virais nas células infectadas e, na sequência, as destrói para interromper a reprodução do vírus. “Nossos resultados mostram que muitas mutações no SARS-CoV-2 são realmente capazes de fazer isso. Com a ajuda de investigações bioinformáticas e bioquímicas, bem como experimentos de laboratório com células sanguíneas de pacientes com Covid-19, identificamos que os vírus mutantes não podem mais ser reconhecido pelas células T Killer nessas regiões”, explica Andreas Bergthaler, um dos autores do estudo.

Para a realização deste estudo, os pesquisadores sequenciaram 750 genomas virais de SARS-CoV-2 de indivíduos infectados e analisaram mutações quanto ao seu potencial para alterar o determinante antigênico de células T, também conhecidos como epítopo. Na maioria das infecções naturais, é comum que diversos epítopos estejam disponíveis para reconhecer os T Killers. Então, se o vírus passar por mutação em determinada região do corpo, é possível que outros epítopos consigam reconhecer a presença do vírus.

A maioria das vacinas contra a SARS-Cov-2 é desenvolvida contra especificamente a proteína Spike, uma das 26 que compõem o vírus. “Especialmente para o desenvolvimento de vacinas, temos, portanto, que observar como o vírus sofre mutação e quais mutações prevalecem globalmente. Atualmente, vemos poucos indícios de que as mutações nos epítopos das células T Killer estejam se espalhando cada vez mais”, complementa Judith Aberle, também autora do estudo.

Os autores do estudo não acreditam que o SARS-CoV-2 possa escapar completamente da resposta imunológica humana. No entanto, esses resultados fornecem informações importantes sobre como o SARS-CoV-2 interage com o sistema imune. “Além disso, este conhecimento ajuda a desenvolver vacinas mais eficazes com o potencial de ativar o maior número possível de células T Killer por meio de uma variedade de epítopos. O objetivo são vacinas que desencadeiem respostas de anticorpos neutralizantes e células T Killer para a proteção mais ampla possível”, dizem os autores do estudo.

(Fonte: Agência Einstein)

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