Cuidados nutricionais nos primeiros dias de vida, ainda no hospital, são fundamentais para reduzir complicações e favorecer o crescimento adequado
Novembro marca o mês internacional de sensibilização para a prematuridade, condição que afeta mais de 300 mil bebês por ano no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, e é considerada um dos principais fatores de risco para diversas condições de saúde a longo prazo. Nesse sentido, os cuidados nutricionais nas primeiras horas e dias de vida dos recém-nascidos desempenham papel fundamental não só no desenvolvimento após o nascimento, mas também como uma forma de prevenção para o futuro.
O tema da campanha este ano é “Garanta aos prematuros começos saudáveis para futuros brilhantes”, que busca enfatizar que atitudes simples podem salvar vidas. São considerados prematuros os bebês que nascem antes de 37 semanas de gestação[2]. Por terem menos tempo de crescimento intrauterino e, consequentemente, um amadurecimento incompleto de órgãos e sistemas, eles demandam atenção especializada e suporte nutricional adequado para garantir o crescimento e a recuperação.
“O recém-nascido prematuro perde, de forma abrupta, o aporte contínuo de nutrientes que receberia pela placenta. Repor essa nutrição de maneira segura e precisa é essencial para garantir o crescimento e o desenvolvimento cerebral e imunológico do bebê”, explica o Dr. Rubens Feferbaum, pediatra e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
De acordo com o médico, o leite materno segue como a principal e mais completa fonte de nutrição. Ele é capaz de entregar todos os nutrientes necessários ao crescimento, proteger o bebê contra infecções e contribuir para a maturação do sistema digestivo. “Sempre que possível, o uso do leite da própria mãe deve ser priorizado, inclusive em ambiente de UTI neonatal. O leite produzido nos primeiros dias após o parto, tem papel fundamental na imunidade e na formação da microbiota intestinal. Nos casos em que o aleitamento direto não é possível, o leite pode ser oferecido por via enteral, ou seja, administrado por uma sonda, diretamente ao estômago do bebê. Essa estratégia permite iniciar a nutrição precoce, mesmo em prematuros de baixo peso ou em ventilação mecânica”, explica ele.
Entretanto, em algumas situações clínicas, como quando o trato gastrointestinal do bebê ainda não está completamente desenvolvido, pode ser necessário iniciar o suporte por nutrição parenteral, ou seja, a administração de nutrientes diretamente na corrente sanguínea. Essa abordagem assegura o fornecimento imediato e equilibrado de proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e minerais, fundamentais para manter o crescimento adequado.
“A nutrição parenteral é recurso vital para recém-nascidos extremamente prematuros. Ela permite que o bebê receba todos os nutrientes necessários enquanto seu sistema digestivo amadurece, favorecendo uma transição segura e gradual para a alimentação enteral”, explica o Dr. Mário Cícero Falcão, Doutor em Pediatria pela Faculdade de Medicina da USP e membro do Departamento de Nutrologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Segundo os especialistas, o avanço das formulações parenterais, que hoje reúnem proteínas, carboidratos, lipídios, vitaminas e eletrólitos em soluções completas e prontas para administração hospitalar, tem contribuído para maior precisão, segurança e praticidade no cuidado nutricional neonatal. “Essas soluções possibilitam ajustar o aporte nutricional de forma individualizada, reduzindo riscos de contaminação e garantindo estabilidade dos nutrientes durante todo o tratamento”, complementa Dr. Mario.
O manejo nutricional em prematuros deve ser individualizado e dinâmico com ajustes frequentes conforme a evolução clínica e o peso do bebê. “Cada grama conquistada representa um avanço. Por isso, o acompanhamento constante por uma equipe multiprofissional é essencial para evitar o déficit de crescimento e promover o desenvolvimento pleno”, finaliza o Dr. Rubens.
A nutrição nos primeiros dias de vida é uma das bases da neonatologia moderna, impactando diretamente a sobrevivência e a qualidade de vida desses bebês. Mais do que promover ganho de peso, a terapia nutricional é um investimento no futuro, capaz de reduzir complicações, melhorar a imunidade e apoiar o desenvolvimento cognitivo a longo prazo.


